Editorial

O Fiel Amigo
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Uns têm muitos amigos e outros julgam ter muitos amigos. Há ainda os amigos de quem se diz que com amizades daquelas não é preciso ter inimigos.

A vida já me mostrou amigos de todas as espécies. Há quem tenha um único amigo. Mas agora querem convencer-nos que há o amigo único…

Tenho só uma mão cheia de amigos. Mas sei que posso contar com eles sempre, em todas as circunstâncias. Eles também sabem que podem contar comigo. Passámos juntos uma vida de dificuldades, lutámos ombro com ombro, não nos traímos, defendemo-nos e atacámos, e hoje sofremos juntos, de cada vez que a morte nos vai pondo em debandada, levando-nos um a um.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Há quem diga que tem amigos únicos, capazes de deixarem o mundo de boca aberta. Não os invejo, mas espantam-me amigos daqueles. O que mais me espanta é haver o amigo especial que o Sr. Sócrates quer provar que tem. Fico de boca aberta, relendo relatos ou ouvindo gravações que nos vão facultando. Amigos assim não há mais do que aquele. É único.

Conhecem amigos que durante anos vos comprem andares, paguem milhares por férias no estrangeiro, arranjem apartamentos em Paris, casas em Lisboa, quintas no Alentejo, vos sustentem anos a fio, mais a vossa família, para um dia, quando puderem, pagarem?

Acredito que aquele senhor que estudou na Cova da Beira, fechou a Universidade Independente, desenhou casinhas feias onde nem os pobrezinhos queriam viver, personalidade a quem a ordem dos engenheiros não reconhece o título, foi o ministro do Ambiente a quem os ingleses agradeceram o Freeport. Todos sabemos que subiu a pulso até ficar com o país na mão e deixar Portugal de calças na mão.

Tudo isto é mérito seu, mas há muitos outros, incluindo alguns dos que pertenceram ao seu gang, que são capazes de igual façanha ou pior. Mas conseguir um amigo que nos sustente, pague o que a gente mande pagar, sem levantar ondas e a tempo e horas, e ainda por cima fique muito agradecido, é notável e só é mérito de dois: dessa figura ímpar e inolvidável da nossa História e do outro, que é mais fiel amigo do que o cão ou o bacalhau.

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