Editorial

O legado da avó Rosarinho na política

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A avó Rosarinho era uma cidadã atenta, a tudo o que a rodeava.

Nascida na década de vinte, do século passado, foi contemporânea de muitos políticos, portugueses e estrangeiros.

Assim como de inúmeros escritores e artistas famosos.

Obviamente foi criada e educada, com respeito por determinadas regras e conceitos, de acordo com a época em que viveu.

Essas circunstâncias não impediram no entanto, a sua forma única e livre de pensar.

Um dia à tarde no mês das férias grandes, na tal salinha onde estava o cadeirão dos segredos, a avó começou a falar sobre política e atitudes dos políticos.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Apesar do conteúdo ser muito sério, a forma era tão leve, que quase parecia uma história.

Além disso era ela que estava sentada no célebre cadeirão de todos os segredos. O assunto era sério, e era o segredo da avó.

Nenhum de nós consegue precisar a data, mas foi pouco depois do 25 de Novembro de 1975.

Nesse dia a avó começou por falar e explicar, o significado da palavra democracia para ela.

Era como lá em casa nas férias, quando estávamos todos juntos às refeições e nas várias brincadeiras.

Então explicava a avó, que a democracia ali em casa, consistia em permitir que cada um, pudesse dar a sua opinião e  escolher o que era melhor para si, mas sem prejudicar ninguém. Era a forma de expressar a sua liberdade de escolha.

De repente o Bernardo o mais velho, disse muito sério, que mesmo em democracia alguém tinha de ficar a mandar. E assim como era ele o mais velho, podia ser ele.

Tudo bem sem problema, até ao momento em que a Teresinha, a mais nova, acordou e disse que tinha fome.

Interromperam de imediato, o colóquio.

A avó aproveitou para fazer um jogo.

Do mais democrático que existe!

Cada um ajudava a pôr a mesa e ajudava a trazer o pão, queijo, fiambre e as compotas apetitosas, conforme a sua idade e altura.

Todos perceberam, a Teresinha levava o cestinho do pão e os guardanapos. O Bernardo colocava as chávenas de leite ou leite com chocolate para todos. Os outros traziam o que faltava. A avó trazia o seu próprio chá de hortelã.

Perfeito num instante lancharam e voltaram para a salinha.

No regresso a avó lembrou, a atitude de todos, mesmo quando lavaram e limparam a loiça suja, como uma grande atitude democrática. “Quando todos ajudam nada custa”.

E faziam estes pequenos serviços a todas as refeições. E também faziam as suas camas,  e arrumavam os quartos partilhados, sem grande esforço. Era tudo feito em equipa.

Era um exemplo extraordinário de democracia representativa!

Depois na tal salinha, cada um escolheu uma actividade diferente.

Só o Bernardo ficou com a avó, e afirmou, que tinha grande dificuldade em perceber os discursos dos partidos. Parecia que diziam e queriam todos a mesma coisa.

Que naquele caso era a liberdade, e o bem-estar das pessoas.

Então finalmente a avó explicou, o que sabia sobre o Comunismo, o Socialismo, a Social Democracia e a Democracia Cristã.

Frisou que ainda lhe faltavam alguns anos, para poder votar, mas que só lhe fazia bem, ler os jornais diários do pai, dos tios e os do avô.

Eram de facto todos diferentes!

Ao jantar falava-se sobre o dia de todos, das novidades e das actividades exteriores para o dia seguinte. Praia incluída, claro.

Alguns primos ainda eram muito novos.

Então o Bernardo pediu à avó, para pedir ao avô, que o deixasse ir até à sala do café, depois do jantar, ouvir os assuntos da política.

A avó Rosarinho era formidável, e de imediato lhe respondeu, que era muito bem-vindo à sala do café, onde os homens e as mulheres da casa, conversavam muitas vezes, sobre os assuntos políticos e sociais do dia.

Naquele dia o assunto era muito interessante.

Foram ditas duas afirmações poderosas, que tinham sido publicadas em jornais diferentes.

A primeira era de uma contemporânea da avó, a Senhora primeira ministra do Reino Unido, líder do Partido Conservador; Margaret Thatcher.

 

“Jamais esqueçam que não existe dinheiro público.

Todo o dinheiro arrecadado pelo Governo é tirado do orçamento doméstico.

Da mesa das famílias.”

Margaret Thatcher

 

A outra afirmação, foi escrita por um escritor português, também contemporâneo da avó, e filiado no partido comunista.

Prémio Nobel da literatura em 1998, José Saramago.

 

“Aprendi a não tentar convencer ninguém.

O trabalho de convencer é uma falta de respeito.

É uma tentativa de colonizar o outro.”

José Saramago.

 

Tinham sido lançadas duas bombas, representativas das pessoas que as escreveram, e das suas ideias políticas.

Chegaram a mim, porque o Bernardo as escreveu e considera-as parte da sua iniciação política.

Nós tivemos acesso a estas e outras frases, bastante mais tarde no tempo.

No entanto parecem-me tão actuais, que as poderíamos dizer em voz alta no Parlamento português.

Meus senhores, Vossas Excelências, permitam-se ter o máximo cuidado, com a má ou péssima utilização dos chamados “dinheiros públicos”.

Quem está neste momento no governo, deve tomar sempre, este aspecto como prioritário.

É SEMPRE o nosso dinheiro!

O dinheiro de todos. E os que governam no momento, serão responsáveis pela sua má, ou boa utilização.

E também quando se fala, repete e insiste num eventual acordo parlamentar.

Porquê?

Afinal meus senhores, Vossas Excelências, terão lido ou ouvido Saramago dizer: ” O trabalho de convencer é uma falta de respeito.”

 

Assim sendo que conclusão tirar?

Um político no governo, não deve e não pode prejudicar, quem nele votou.

Assim como um político na oposição, não espera, e não quer ser convencido de nada, só tem de permitir que o político no governo, governe e colha aquilo que semeou.

Até porque é uma “falta de respeito” convencer o outro da sua verdade.

Assim diz José Saramago.

 

Portanto espera-se que todos os políticos exerçam, o devido respeito mútuo, na aprovação do Orçamento de estado.

Uns governam, outros devem deixar governar e não prejudicar os portugueses.

Até porque NÃO existem “dinheiros públicos “. Assim diz Margaret Thatcher.

2 comentários

  1. Estou cada vez mais fascinado pela qualidade do jornal. É diferente e creio não haver melhor no Alto Minho.
    Parabéns Amigo Zé Luís.
    Continue.

  2. Carlos Veiga Anjos,
    Uma vez por mês, podia sair um mensário, claro!, mas impresso, tipo frente e verso, grátis, colocado nas bibliotecas do distrito.
    Com o principal das 4 semanas.
    Só digital, nem, muitos, vianenses, e não só, tem acesso ao que de bom, sai.
    Sugeri. Nada mais do que isso.

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