O Mundo Fascinante das Abelhas – Análise Aprofundada

Ao questionar-nos porque são as abelhas tão importantes para o Homem, e também para a natureza em si, a resposta parece bastante óbvia: o mel. Para além de nos fornecer alimento, constitui também um ótimo nutriente para os animais que o encontrem. Mas será tão simples o seu papel? Não! As abelhas são muito mais que isso. São um daqueles animais que se podem designar de “espécie-chave”, ou seja, que tem um papel fundamental na estrutura de um ecossistema, de tal forma, que o seu desaparecimento pode levar a sérias complicações. Ao mesmo tempo, apresentam um lado extremamente sensível, ao serem suscetíveis à morte por simples perturbações. Descubra um pouco mais sobre as abelhas e entenda porque são tão importantes para todo o ecossistema.

A abelha, de nome científico (Apis mellifera), é um pequeno inseto voador, reconhecido pelos tons amarelos e pretos e, normalmente, afagado pelo Homem, por se tratar do animal que produz o mel. Tal como as formigas, ainda parentes das abelhas, mantém também uma estrutura hierárquica muito bem definida:

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          1. Rainha – A abelha mais importante da colmeia, com a única função de pôr ovos. Só existe uma em cada colónia e pode viver até 5-6 anos, possuindo o dobro do tamanho de uma abelha normal.
          2. Zangões – Tem unicamente a função de acasalar com a rainha, garantindo a diversidade da espécie. Vivem pouco tempo, 3 meses, pois são mortos pela rainha logo após o ato.
          3. Operárias – São as encarregadas de toda a manutenção da colónia, desde a recolha de água e alimento, produzir a cera para os favos, alimentar a rainha, os zangões e as larvas que nascem, manter a limpeza e ainda, garantir a defesa de toda a família. Vivem 6 meses e ao longo da sua vida podem desempenhar vários papéis, consoante a sua experiência.

3.1. Obreiras – São as responsáveis por recolher o pólen.

3.2. Sentinelas – Guardam a entrada da colmeia.

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3.3. Ventiladoras – Garantem a circulação do ar dentro da colmeia batendo as asas.

3.4. Amas – Alimentam e tomam conta das abelhas ainda jovens.

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Na imagem apresentada, encontram-se explícitas algumas das diferenças morfológicas entre os elementos da mesma espécie. Mas existe outro fator, extremamente interessante, do ponto de vista genético, que acontece no momento da reprodução. Para fazer entender esta questão, de uma forma muito simples, começaremos por analisar o caso do Homem.

O Homem, como espécie, é um ser diplóide, ou seja, a nossa informação genética (cromossomas) é organizada em pares, e por isso diz-se 2n. Isto significa apenas, que para cada aspeto físico que cada um de nós possui, deriva de 2 informações possíveis, que provém precisamente, do nosso pai e da nossa mãe. A informação dita “mais forte”, é aquela que prevalece em nós, e por isso é que possuímos olhos azuis ou castanhos, cabelo liso ou encaracolado, e por aí adiante.

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No caso das abelhas existe uma particularidade. Durante a formação dos gâmetas, ou seja, do óvulo (parte feminina) e do espermatozóide (parte masculina), estes tem que ser n, ou seja, só podem contem uma informação, que é para ao juntar n(pai) + n(mãe) = 2n, e formar assim, um ser vivo. Durante a reprodução das abelhas, todo o processo se mantém exatamente ao igual, com a exceção dos zangões. 

Durante a meios e, ou seja, o processo pelo qual as nossas células passam de 2n para n, a rainha consegue dar origem aos zangões, sem necessitar de haver nenhum cruzamento. Serão depois, precisamente esses zangões (haplóides por serem n) que irão cruzar-se com a rainha, para depois originar as operárias (fêmeas estéreis) e novas rainhas (férteis). O fator “fértil vs estéril” está relacionado com a expressão de determinados genes.

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Em resumo, toda a explicação sobre a reprodução das abelhas serve para demonstrar a sensibilidade desta espécie: considerado que todos os zangões são originados a partir da rainha, para depois acasalarem com ela própria, o material genético é quase sempre o mesmo. Quase, porque cada zangão não herdou exatamente a mesma sequência de genes, mas sim partes diferentes. Dessa forma, a rainha irá acasalar com o maior número possível de zangões, para garantir um maior “mix” de genes, e assim assegurar uma maior diversidade dentro da colónia.

A reprodução assexuada, ou seja, a origem de um novo ser vivo sem cruzamento é vantajosa, até certo ponto, mas é deveras prejudicial no que toca à resistência da espécie. No caso de uma doença ou praga, que seja uma ameaça para as abelhas, pode levar ao extermínio de toda a colónia, se esta não possuir indivíduos suficientemente diferentes e resistentes entre si.   

Daí ser importante, preservar e ajudar o máximo possível as nossas abelhas através da plantação de flores ou com pouca intervenção nos locais de colmeias, não as prejudicando de qualquer forma, evitando por exemplo o uso de pesticidas, e estar atentos a possíveis ameaças, como é a vespa asiática neste momento.

Plantas que ajudam a salvar as abelhas. Ervas – lavanda, menta, sálvia, coentro, tomilho, funcho, borragem. Flores perenes – Açafrão, Botão-de-ouro, Áster, Malva-Rosa, Anêmona, Campainhas, Gerânios. Flores anuais – Calêndula, Flôr-de-mel, Papoila, Girassol, Zínia, Requelinas, Heliotrópio. 

O Mel

Na presença de flores, ervas e fruteiras, as obreiras deslocam-se por uma extensa área à procura do néctar. Através da língua, elas sugam o néctar e depois armazenam-no numa bolsa do estômago. De seguida, dirigem-se para a colmeia onde o néctar é transferido, novamente, através da língua, para outras operárias. As obreiras regressam novamente ao exterior, enquanto o néctar fica a ser tratado no interior da colmeia. As abelhas “trabalham” o mel dentro da boca. Erguem a cabeça, esticando e retraindo a língua, para o néctar ser exposto ao ar, e assim libertar a água que possui, resultando num produto mais concentrado. Ao mesmo tempo, as abelhas produzem enzimas, a invertase e a glicose oxidase, que transformam o açúcar do néctar em glicose e frutose e eliminam as bactérias. No final desse processo, o néctar é então colocado numa célula (favo) da colmeia, destinada ao armazenamento alimentar. Uma vez que o favo esteja preenchido com o néctar, é coberto com cera e só haverá mel passadas 48 horas.

Como o mel possui uma combinação perfeita de açúcares, com pouca água, e a presença de substâncias que inibem o aparecimento de bactérias, torna-se num alimento sem tempo limite de consumo. 

A Polinização

Durante o processo de recolha de néctar, uma abelha pode visitar dez flores num minuto, transportando consigo o pólen, que fica preso ao seu corpo peludo. Porque é importante este processo? Ora bem, embora uma planta possa ser dióica, ou seja, se possa fertilizar a si mesma porque tem os dois sexos, o facto de transportar o pólen (componente masculina), de uma flor para outra, irá levar ao cruzamento entre flores, aumentando assim a diversidade da espécie, e consequentemente, a resistência. 

No caso de plantas monóicas, este tipo de processo é fundamental, pois se cada indivíduo possui um dos sexos, é fundamental que “alguém” ou “algo”, tenha a responsabilidade de fazer o cruzamento. O vento, a chuva são fatores que ajudam sim, mas os animais são os que possuem a grande percentagem de responsabilidade. Aves, borboletas, répteis, insetos também o fazem, mas as abelhas é a espécie que mais plantas visita num curto espaço de tempo, tornando-as no principal agente da polinização.

As abelhas são assim uma espécie importantíssima na conservação da biodiversidade, sem esquecer, que é através destas plantas polinizadas, que outros animais herbívoros irão encontrar alimento, numa cadeia hierárquica alimentar organizada, onde o Homem está também incluído. Daí a importância de nós assumirmos um papel ativo na proteção das mesmas. Lembre-se, as abelhas só atacam se se sentirem ameaças, como meio de defesa. Para elas nada tem de vantajoso, pois morrem logo de seguida e para nós será um grande incómodo, ou mesmo, um perigo para quem é alérgico.  Por esse motivo, respeite o espaço da colmeia, não provoque perturbações de nenhum tipo e ajude sempre que poder!

Curiosidades:

          • Uma abelha produz 5 gramas de mel por ano.
          • Para produzir um quilo de mel, as abelhas precisam visitar 5 milhões de flores.
          • Fazem em média 40 voos diários, pousando em 40 mil flores. 
          • A cera resulta do consumo e tratamento do mel, por parte das abelhas
          • São necessários 6 a 7 Kg de mel para produzir 1 Kg de cera.
          • Uma colmeia abriga de 60 a 80 mil abelhas, com uma rainha, 400 zangões e milhares de operárias.
          • Se nascem duas ou mais rainhas ao mesmo tempo, elas lutam até à sobrevivência de apenas uma.
          • As abelhas têm cinco olhos.
          • As abelhas-rainhas põem 3 mil ovos num único dia.
          • Uma abelha consegue carregar o peso equivalente a 300 vezes o seu.
          • A colmeia pode produzir, anualmente, 250 quilos de mel.
          • O mel é, portanto, o vómito da abelha.
          • Os zangões são expulsos da colmeia quando não conseguem fecundar a rainha.
          • As rainhas são nutridas com um alimento especial, a geleia real.
          • Foram encontrados em locais arqueológicos egípcios, potes de mel ainda preservados, com mais de 3 mil anos.

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