Diria que não! Ou melhor, diria que para os que o sentiram na pele e nos bens, sim!
Enquanto durarem as chamas e o ardor, serve a uns tanto. Dá status misericordioso, filantropo, solidário e de ‘boa alma’. Aparecem nos directos das televisões, nos ‘comentários’, são elevados a ‘especialistas’, justificam os lugares, promovem-se e promovem. E então se forem daquelas figuras que povoam e sobrevoam os ares ligados ao Estado, partidos políticos, autarquias e quejandos? Falar de fogo, é falar de tempo de ‘colheita farta e boa’. E cá pelo nosso quintal, ‘época de fogos’ é assunto com direito a marcação e delimitação em decreto-lei e promulgação e publicação oficial, com pompa e circunstância, quando não uma ‘procissão até um pinhal e umas palavras para abater.
O País este a arder? Esteve sim. E não foi pouco e de modo a causar preocupação. Todavia assim não devem pensar uns tantos que andam ‘distraídos’ e não sentiram na pele os muitos hectares que arderam, as sete pessoas que morreram, ou os mais de duzentos feridos com direito a registo hospitalar. Mas o país, Portugal, felizmente só uma parte, esteve a arder. Esteve a arder, e bem. Num braseiro medonho e capaz de atemorizar o mais atrevido. E se o fogo se alimentou da floresta e dos bens que encontrou no caminho, as televisões encheram o tempo de antena com coberturas repetitivas e enfadonhas, dezenas de ‘comentadores’ de alcatifa disseram banalidades, gente existe que como não lhe tocou na pele, ‘foi longe’, ignorou os avisos, chutou para canto os cuidados e a prevenção. Para esses, e infelizmente foram (são) muitos e variados, o fogo não passou de um recheado e picante tema entre conversa e hipócritas lamurias. E o país político, calou-se, ou pouco se mostrou. Dizem que não era de bom tom ‘cavalgar’ a desgraça. Como hipocrisia, uma pérola de atitude! Lindo como questão, ou gestão de conveniências. Pudera! A digestão dos ‘fogos de Pedrogão Grande’ ainda continua, por isso, e para desviar atenções, ou ‘animar’ a balbúrdia de patifarias que alimentou, agora temos polémica com os ‘silêncios’ dos responsáveis ministeriais, com em sem telemóvel de serviço ligado ou desligado.
Quem teve telemóvel, e ligado, foi o nosso primeiro de serviço. Tão inteirado ficou do que se passava, e até convocou um Conselho de Ministros. A montanha pariu um rato. Se foi para dizer que ia fazer aquilo, mais valia estar calado. E ele é formado em Direito. Mas foi lindo de ver o Primeiro-Ministro, com o Presidente Marcelo ao lado, em pose tutelar, ameaçar com mão dura os incendiários de serviço. Como bravata, está nos ‘conformes’ e satisfaz a concorrência partidária! Pena que ninguém lhe tenha ‘alembrado’, que Leis e decretos-lei, de especial conteúdo contra atentados por fogo posto, já temos muitos, e de sobra. Insinuar que temos gente arrebanhada e apresentada como autores de fogo posto, sabemos, são mais que muitos. Tantos que já dói ver, ou melhor, saber que uma vez postos perante os juízes, ou as provas são coisa de pouca monta, ou então, coisa nenhuma com prova passível de justa decisão. É duro, mas é a vida, meus senhores. A realidade não se conforma com bonitas intenções. E de boas intenções, está o Inferno cheio, e os tribunais a abarrotar de processos arquivados. E se algo nada mal, a culpa não pode, nem deve, morrer solteira. Em vez de Leis, faça-se, ou tome-se uma atitude, nem que seja a última da carreira. Haja coragem. Sabemos que coragem que não enche barrigas, ou paga as contas, mas dá um salutar bom porte, qualidade de vida ao esqueleto, e mobilidade moral além dos pares. Coragem para saber porque razão não se fecharam as auto-estradas com mais rapidez. Coragem para esclarecer porque razão se contratam aviões privados, quando os da Força Aérea Portuguesa estão nas bases, com pilotos formados e pagos mensalmente com o dinheiro de todos nós. Aviões para os quais se compraram os quites necessários para poderem ser usados no combate aos incêndios. E mais, muito mais a esclarecer neste negócio de ‘fogo’ em popa.
Mas o país, Portugal, ou parte dele, parece que afinal só teve uns fogachos. Porque se estivesse a arder, ou em caso de ter passado já a fase mais difícil do braseiro, no momento em que começo a escrever esta crónica, cerca das 20 horas e 30 de sábado, 21 de Setembro de 2024, não teria sido possível ver e ouvir uns tantos foguetes aqui nas redondezas, algures em território fronteiriço entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim, mais concretamente 46º. NE do local onde vivo. Foi coisa pouca, breve, dirão as boas almas. Criaturas que ficam estarrecidas com as manifestações de homenagem onde os bombeiros são mostrados como valorosos e indomáveis salvadores, se possível dispostos a arriscar a vida, principalmente quando essas mesmas bondosas criaturas necessitarem, insensíveis quando estamos em tempo de redobrados cuidados com tudo o que seja passível de incendiar, e se deleitam com a visão e o estrondo do lançamento de fogo de artificio. Seja pelo Santo, casamento, batizado ou comemoração que o valha. Testemunham e calam. Ou então, falam baixinho. Como as atitudes ficam para quem as toma, muito embora se elas dão asneira, todos somos chamados a contribuir, façamos de conta que está tudo bem. Afinal não vivemos em regime aberto e livre, dizem?! Daí que tudo o que estas ‘bondosas criaturas’ digam ou façam, não vai mais além que seja servir como tema de fachada e conversa social para entreter o pagode. Já dizia a canção:- “À sempre alguém que diz Não”. Por respeito pelo que é nosso, de Portugal como país livre, responsável e com valores e história, e por respeito próprio.
Não é admissível, só porque caíram uns pingos de chuva, após mais de uma semana com fogos a arrasarem floresta, casas, vidas, consentir que alguém se atreva a lançar uns tantos foguetes, mesmo que com tácita autorização ou consentimento de alguma autoridade. Não o evidenciar publicamente é covardia. Não exigir um esclarecimento da parte quem se diz responsável, é tão ou mais criminoso que quem paga ou lança foguetes. Não. Assim não. Pelo menos da nossa parte, muito embora também deva desde já deixar claro, para os mais preocupados com esta inesperada informação, de que já não me admirei, nem admiro dos silêncios que sobre o tema cairão. Bem como também não me admiro que o facto até tenha um carro dos bombeiros pago por perto, e que o facto não conste nos registos das forças policiais. A Proteção Civil local não tem nada a dizer? Os pópós, os capacetes e os coletes alaranjados são um ‘must’, lindos para ‘passarelle’, mas a função exige muito mais que passo firme no desfile para a foto a atestar a passagem. Que as forças policiais, possivelmente preocupadas com os roubos de que têm sido vitimas nas suas próprias instalações, somem a ajuda que andam a dar na procura dos ‘criminosos que fugiram da prisão de Alcoentre’, vá que não vá. Não se entende é para que serve a Proteção Civil Local. Possivelmente com direito a descanso, por ser fim-de-semana, ou vá para além do horário de serviço. Uns fazem-se de mortos. Outros estão mortos, e ninguém os quer enterrar. Venha lá uma explicação pública. Sem mais bravatas. Só assim se afere o que, de interessante, sério ou bondoso, existe na vontade de cumprir, como prometem e reclamam os actores na encenação do ‘acto de posse’. E nada melhor na defesa do Regime Democrático, que confronta-los com realidades concretas, isto é, retratá-los com com aquilo que prometem, reivindicam, e acusam ‘outros’, quando também eles não fazem, ou deixam fazer. Portugal não pode, nem deve, e não quer, ser cremado em lume brando. Muito menos com foguetes a animar os negócios.
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