O potencial Artístico da vianesa promovido por Isabel Lima na 3ª edição de ‘Viana está na Moda’

A terceira edição de Viana está na moda foi um evento cultural de celebração da identidade da vianesa.

Não poderia ter sido escolhido um espaço de maior nobreza e simbolismo para acolher esta edição, onde foram apresentadas duas coleções de Isabel Lima, criadora cujas obras e intervenções conquistaram o carinho dos vianenses.

Do Campo da Agonia apreciamos o eixo que se estende da frente ribeirinha ao emblemático Castelo de Santiago da Barra, um dos polos da expansão poente da urbe Vianense concretizada a partir do século XVI, espaço marcante da consolidação da sua relação com o Atlântico.

A história do Santuário da Senhora da Agonia, padroeira dos pescadores, remonta ao último quartel do século XVII, com a edificação em 1674 de uma capela em invocação ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário. As recentes intervenções de requalificação urbanística que beneficiaram este espaço conferiram-lhe esta harmonia entre a herança arquitetónica do passado e a amplitude visual aberta pela modernidade.

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Em consonância com este espírito, as coleções que desfilaram na escadaria do Santuário expressaram a capacidade notável de assimilar a estética da tradição e os valores que representam e os transformam, reinventando e fazendo renascer sob a forma de peças que podemos envergar com orgulho.

Isabel Lima narrou parte da história e da cultura das gentes e das terras de Viana do Castelo e do Alto Minho, expressou nos motivos ornamentais, nas cores e nas formas que preservam o vínculo ancestral entre o povo, o seu modo de vida, a natureza e as paisagens de um concelho entre a serra, o rio e o mar.

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“Quem abala de Viana

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Leva no peito a Agonia…

O Lima corre no sangue

Nos olhos Santa Luzia”.

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O silêncio e recolhimento da maior parte do ano do Santuário de Nossa Senhora d’Agonia, com o mar a servir de banda sonora e gente da Ribeira a receber aqueles que chegam para partilhar da sua bênção, ajuda-nos a recuperar a memória colectiva.

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É louvável a preservação da memória!

 

Isabel Lima com ligação às artes, relacionamento de proximidade com pessoas de causas que prestam atenção às culturas locais e ao diálogo de linguagem técnico-científica como linguagem popular, valorizando o trabalho manual, reconsiderando técnicas tradicionais, comungando da ciência Isabel Lima apresenta vestuário como forma de expressão através da arte.

Aliando o conceito de moda à vontade de fazer cultura, integra a indumentária no luxuoso património da “ourivesaria portuguesa e no traje” transpondo o artesanal para o lado contemporâneo e buscando inspiração na “arte de trabalhar o ouro e o traje”.

A paixão pelo “ourar e trajar” da Vianesa, que exibe ao peito peças de ouro, não apenas como enfeite, mas como símbolo de prestígio social foram as razões da intervenção de índole cultural.

Usando critérios de carácter sociológico, interagindo com o património e a sua dimensão sócio histórica, Isabel Lima apresentou “Roupa como objecto de Arte”.

 

Viana do Castelo, símbolo maior, terra de contrastes!

O sortilégio deste recanto de Portugal, exuberante de cores, concorreu de certo modo para criar na mente dos seus habitantes uma noção do BELO!

Os profusos motivos florísticos levaram D. Maria II a chamar ao Minho “Jardim de Portugal”.

Os matizes da paisagem exercem influência na personalidade da minhota. Afonso do Paço no seu livro “Etnografia” cita:

“Em qualquer dia da semana nas soleiras das aldeias do Minho, as raparigas pendendo o tronco desenhando bordados ao sabor da sua imaginação e fantasia. Os trajes e bordados atingiram notável craveira, fruto da imaginação e sensibilidade das tecedeiras e bordadeiras.”

 

Leandro Quintas Neves, etnógrafo vianense, escreveu:

 “São exemplo notório os trajes de Viana do Castelo, com a sua gama intensa que tanto impressionou Ramalho Ortigão e levou Cláudio Basto a publicar o seu estudo – “O Traje à Vianesa.”

 

Todas as peças do traje são de tecelagem caseira e Ramalho Ortigão relata nas “Farpas”:

 “A rapariga rural de Viana está dos pés à cabeça ricamente vestida pelo trabalho que ela só executa desde a primeira manipulação das substâncias primas à matéria bruta até ao último ponto de costura e à última malha de renda”.

“De duas ovelhas, de uma leira de terra e dum punhado de sementes ela extrai pela sua aptidão pelo seu talento todo o enxoval do seu noivado e todo o bragal da sua família”.

O traje à vianesa tornou-se um símbolo da identidade regional, sendo o etnógrafo Amadeu Costa incansável lutador pela criação do museu do traje, para que este cumprisse a missão de estudar e divulgar os trajes.

O traje alcançou tal expoente em Viana do Castelo passando a dedicar-lhe anualmente uma festa enquadrada na Romaria d’Agonia. “O cortejo da mordomia” e a “festa do traje”.

 

 

A sua confecção revela enorme criatividade!

 

A tecelagem, a técnica de bordar, os materiais; a lã e o linho, os desenhos, o colorido, a profusão de elementos decorativos; os ornatos diversos, os motivos vegetais como; as camélias, os cravos, as marias, a rosa, o lírio a campânula, as heras, as parras da vide, as folhas de carvalho, o trevo são elementos presentes nos bordados, que nasceram das ornamentações do traje.

Isabel Lima promove o potencial artístico da Vianesa!

 

“Tua saia à Vianesa

Quando na roda te vi

Fez ainda mais acesa

A minha Paixão por ti”.

 

“Muito em parece o oiro

No peito duma donzela

Menina se quer ter honra

Menina faça por ela”.

 

Não se pode dizer que se conhece o Santuário de N.ª Senhora d’Agonia sem ver o “Céu Estrelado” a partir da sua escadaria, lugar incontornável conjugando arte com devoção e visitantes focados no turismo religioso.

A Mulher de Viana usa o ouro associado à exuberância do traje e complementa-o com os cordões de ouro, onde pendem peças com libras de cavalinho, e nas orelhas pendem os brincos à rainha, fabricados em chapa de ouro, recortados com fina serra e cinzelados até adquirirem formas desejadas.

 

Brincos usados por mulher fidalga, burguesa, rica

 

Muitas peças de ouro são potencializadas com os trajes ricos, numa manifestação de orgulho, que se alardeia por ocasião da Romaria d’Agonia.

A gramalheira é o símbolo da maior ostentação!

Feita em folhas de louro, adornada com pérolas, contas e exuberantes motivos florais, atinge a apoteose como peça de ouro associado ao traje.

No século XVIII a ourivesaria portuguesa é impulsionada com a exploração dos jazigos de ouro brasileiro. Época de exuberância e fausta, onde a ourivesaria se torna uma das artes mais criativas.

A História e as estórias da ourivesaria portuguesa, as memórias, o simbolismo e as funções das peças de ouro que as minhotas usam ao peito, nascidas do génio artístico, são aqui, enquanto espetáculo, uma expressão de arte viva.

A magia do ouro como enfeite e riqueza, a arte da filigrana portuguesa, trabalho ornamental feito de fios muito finos e pequenas bolas de metal soldadas de forma a compor o desenho, técnica mais antiga do mundo, e todos os minuciosos trabalhos por que passa o ouro até se transformar nas peças artísticas que as vianesas usam, fazem com que se tenha tradição, cultura popular e “a minhota valendo ouro.”

O coração da minhota foi-se tornando um símbolo de cultura popular e Viana do Castelo adotou-o com sentimento de pertença. Usado pelas vianesas, sofreu várias atualizações conforme design de artistas e o potencial que a filigrana tem para ser trabalhado.

Na composição de formas e cores temos movimentos artísticos. No corpo, como obra de arte, e em jovens modelos, como esculturas em movimento, a magia do ouro aconteceu!

Como sinal de pujança e riqueza pelas mãos de Isabel Lima o ouro cada vez é mais ouro na escadaria do santuário dedicado a Nossa Senhora d’Agonia, onde no Minho, até “Nossa Senhora veste à lavradeira”.

A opinião imperdível de Manuel Rodrigues Freitas, uma ‘Memória Viva’ da história da Ourivesaria Portuguesa:

http://portocanal.sapo.pt/noticia/99262/

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Nuvem do Minho
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