O próximo Ministro da Ciência: Quintanilha ou Brandão Rodrigues?

Miguel Nogueira

A apresentação das listas do PS que irão concorrer às próximas legislativas mostrou que a nova liderança  socialista quer transmitir aos portugueses a ideia que está apostada no corte profundo com um passado recente bastante traumático e a introdução de tantas figuras independentes e sem qualquer experiência política prévia foi uma surpresa para muitos.

Dois nomes mereceram particular entusiasmo e destaque da parte da comunicação social e da opinião pública em geral: Alexandre Quintanilha e Tiago Brandão Rodrigues, cabeças de lista pelo Porto e Viana do Castelo, respectivamente.

As formas e os argumentos que terão permitido a António Costa convencer o renomado físico que é um dos mais ilustres cientistas da praça nacional e o jovem bioquímico que a partir de Inglaterra esteve recentemente envolvido num estudo pioneiro que promete viabilizar a detecção mais precoce do cancro, é algo que merece ser aqui discutido.

Recentemente falecido, tivemos em Mariano Gago o exemplo paradigmático de que é necessário e útil que a ciência se atravesse no caminho da política. O antigo ministro da ciência ocupou o cargo durante 12 anos, trocando o laboratório – sendo ele um dos físicos nucleares mais brilhantes do país- pelas funções de Estado. E tal como as áreas da Justiça, da Saúde e da Educação devem ser entregues a personalidades competentes do meio que estejam dispostas, temporariamente, a fazer esforços pessoais para servir a nação, também a sempre negligenciada pasta da ciência, tecnologia e inovação deve ser liderada pelos melhores. Neste sentido, percebo no gesto de incluir estes dois nomes uma excelente notícia. Ainda para mais se atendermos que o próximo quadro comunitário estará muito focado nos investimentos tecnológicos e científicos. Penso, por isso, não me enganar se disser que na eventualidade do PS sair vitorioso das próximas legislativas, um dos dois será o próximo Ministro da Ciência e que, porventura, dada a confiança com que o líder socialista encara o próximo acto eleitoral, um e outro terão sido aliciados pelas futuras funções governativas e não tanto pela possibilidade de marcarem a diferença como deputados da Assembleia da República.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

A inclusão de Tiago Brandão Rodrigues como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo, só deve orgulhar os courenses, devendo igualmente atribuir-se os créditos merecidos a Vítor Paulo Pereira, o presidente de Câmara de Paredes de Coura que fez valer a relação de proximidade que tem com António Costa para introduzir este importante lobby, batendo-se por um conterrâneo que já tinha mostrado admirar, tendo-o incluído recentemente na comissão de honra das comemorações concelhias dos 500 anos do foral. Quem insiste que Paredes de Coura tem pouco poder político (e eu próprio terei que conceder que já aqui afirmei que o concelho tem revelado fraca capacidade de reivindicação ao longo dos últimos anos), terá agora que ir pregar para outro lado! Mas mesmo reconhecendo-se a importância das conversas de bastidores e das negociações medidas ao centímetro como pedra-de-toque na constituição das listas políticas, neste caso, os méritos pessoais vieram ao de cima e é louvável que o Tiago B. Rodrigues tenha aceitado interromper momentaneamente a sua fulgurante carreira de cientista (que retomará quando e onde quiser) por funções políticas que tão dramaticamente desprestigiadas se encontram e que tão necessitadas estão destas boas lufadas de ar fresco para se reabilitarem do mofo do aparelhismo e da partidocracia que enredam o desenvolvimento do país há tanto tempo!

geral@minhodigital.pt
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