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Damião Cunha Velho
Professor
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Eu acho que o Prédio Coutinho deve cair.
Aliás, já está a cair.
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Escrevo este texto enquanto leigo no assunto.
Quero que seja genuíno e desinteressado e por isso tudo aquilo que envolve a construção ou desconstrução do Prédio Coutinho não quero saber.
Eu sou de Ponte da Barca mas tenho um amor especial por Viana do Castelo. Vi o mar pela primeira vez nesta cidade e sempre olhei para Viana como uma vila em ponto grande e com tudo de bom que têm as vilas sem o mau das grandes cidades. Tenho, portanto, um olhar romântico de Viana porque Viana gosta-se porque sim.
É um pouco como o futebol, facilmente se percebe as regras do jogo, trata-se de meter uma bola na baliza e pronto.
Viana é assim, não precisamos de ter um curso de arquitetura ou oceanografia para se gostar.
E não são essas as melhores obras de arte? Aquelas que os leigos apreciam?
O melhor escritor não será aquele que põe os analfabetos com vontade de aprender a ler?
Viana é assim. Gosta-se simplesmente porque nos toca nos sentidos e não precisamos que alguém nos diga o que é o belo, porque Viana nos ensina isso, mesmo sem termos ido à escola.
Portanto, não quero saber nada sobre o Prédio Coutinho para me pronunciar.
E, não sendo doutorado em estética, o Prédio Coutinho não fica bem ali. Retira a vista para o Lima e quem olha de Santa Luzia percebe-se que aquela infraestrutura sobressai erradamente do resto da cidade.
Depois de Abril, Portugal embebedou-se com um certo novo riquismo e ter um prédio, quanto mais alto melhor, era um sinal de grandeza, um orgulho de qualquer vila ou cidade pequena que tinha o complexo de não ser cidade como Porto ou Lisboa.
Não foi diferente com Viana nem com muitas das vilas do distrito. E quem morava no prédio da vila era o “fulano do prédio”. Um estatuto.
Acontece que Portugal não é um país rico e, como tal, devia reflectir melhor sobre as suas prioridades.
Em Portugal existem aberrações bem mais chocantes e que nos deviam envergonhar.
Existem imensos bairros feitos de tijolos e habitados por pobres. Pessoas subnutridas que vivem em condições inaceitáveis. Bairros sem electricidade ou saneamento básico.
Continuo a achar que o Prédio Coutinho deve ir abaixo porque me retira a vista para o Lima mas um pedinte que há dias vi numa rua de Viana tirou-me o apetite. E, eu ainda consigo viver sem ver o Lima já sem comer estou destinado a morrer.
“Afasta-te, não me tapes o sol”, disse o sábio filósofo e pedinte Diógenes de Sínope a Alexandre Magno que só pensava em grandezas.
Um apelo às coisas importantes da vida, à nossa alma e bondade em oposição ao que é mensurável e material.
O poder gosta de se encontrar com a inteligência desde que o encontro decorra segundo as suas próprias condições.
O Prédio Coutinho vem abaixo enquanto existem pobres nas ruas. Pobres a quem o Prédio Coutinho não fez sombra. Refiro-me a todos os pobres destes país.
Como não podemos saciar a fome esfregando a barriga e o dinheiro que temos é pouco ou nos foi emprestado, para não variar, então a queda do Prédio Coutinho também será um acto de novo riquismo igual ao que esteve na origem da sua construção.
O Prédio Coutinho vai cair totalmente em breve e porque ainda há bairros de lata e pobres nas ruas, fica a soberba e cai a decência!