Se o meu avô Joaquim me tem criado hoje, eu era um pequeno monstro do politicamente incorrecto, porque ele ensinou-me que um homem, para ser homem, tem de:w
1.- Gostar de mulheres;
2.- Conhecer e apreciar pelo menos duas óperas italianas, uma francesa e uma alemã;
3. – Ir ao Teatro vestido a preceito pelo menos uma vez por mês e chegar sempre a horas;
4.- Saber de cor uma tirada de Gil Vicente e uma fala de Garrett, mesmo que seja aquela do “Romeiro, quem és tu?”;
5.- Distinguir meia verónica duma chicuelina e não se impressionar por dispensáveis adornos e desplantes;
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6.- Não querer mais do que lhe pertence e defender o bom nome na praça pública.
Foi por mor destas regras antiquadas e duma esmerada educação que vi Palmira Bastos morrer de pé diversas vezes, Erico Braga faiscar o monóculo para as frisas da boca de cena, Amélia Rey-Colaço sucumbir ao vozeirão de Raul de Carvalho, Humberto Madeira tocar trompete sem instrumento, João Villaret parolar o fado falado, Irene Isidro pôr discípulas no seu lugar, a Callas render-se a Alfredo Kraus em São Carlos, Renata Scotto calar o Di Stefano no Coliseu, Carlos Arruza e Conchita Citron, Ordoñez e Dominguin disputarem voltas ao ruedo e cravos da barreira, Ribeirinho no Trindade à espera de Godot, João Guedes e Carmen Dolores a encherem o palco do Império muito antes da Igreja ser Universal e ainda estávamos todos nós horrivelmente longe do Reino de Deus.
Claro que Tony de Matos no Maxim e Mari Carmen no Nina também me ajudaram na difícil carreira de me tornar um homem aos olhos do meu avô Joaquim que me espreitava orgulhoso, apenas não escondendo o seu desagrado por eu não o acompanhar aos filmes da Esther Williams para antes ir ver um De Sicca ou um Rosselini, não porque ele se opusesse ao neo-realismo, mas porque “oh filho! Para chatices já basta a vida!”