Editorial

Ontem, hoje e amanhã

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Uma das melhores formas de escaparmos, por momentos, ao dia a dia do mundo de hoje é mergulharmos, uma vez por outra, no tempo dos humanistas e apreciarmos as realidades de então, através das suas manifestações de fé no homem, as quais se podem encontrar quer na arte, quer no pensamento filosófico, e tanto na ciência como na política.

O tempo prodigioso que vai do século XIV até ao princípio do século XVI foi, em todos os sentidos, uma verdadeira renovação através da qual o homem abandonou as tristes certezas da Idade Média para se lançar na mais bela aventura da criação.

Foi um tempo de renascimento, uma verdadeira Primavera na qual o homem se redescobriu, sendo capaz de recuperar as emoções, os pensamentos e as esperanças na mais variada e pletórica plenitude.

O homem descobre, então, com surpresa e deleite, o mundo antigo, ao mesmo tempo que o latim eclesiástico se converte num espantoso instrumento de novidade e comunicação. Com inegável espanto redescobrem-se os antigos e cria-se um novo sentido da vida e do mundo.

O primeiro mundo a ser descoberto foi esse mundo antigo, na surpreendente variedade da sua riqueza, ao qual se veio acrescentar o descobrimento do novo mundo americano que, juntamente com os requintes orientais então ao dispor de todos, dava a sensação de que se havia entrado na posse duma fabulosa herança cuja riqueza não conhecia limites.

Talvez o mais surpreendente fosse a atitude com que se entrava no novo tempo. Penetravam-no ao mesmo tempo que o estavam criando. A redescoberta da ciência permitiu-lhes ver com outros olhos a realidade que os rodeava e traçar o caminho da renovação do pensamento.

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A redescoberta da Antiguidade nunca lhes fechou os olhos, como ficou para o provar a prodigiosa criação nas artes plásticas, ao mesmo tempo que o sentido criador da palavra viva os levou a estudar e desenvolver novas línguas que forjaram uma literatura de imensa eficácia criadora, sem que por isso tenham traído a sua devoção pelo latim.

O violento e perigoso desenvolvimento do cisma religioso que desemboca num novo tempo de guerras e de preocupações foi o corredor para a modernidade que serviu de antecâmara ao fascinante mundo que nos traz até este século.

Acredito que o sonho dos humanistas contivesse erros fundamentais e fosse irrealizável, como o demonstrou a História. Mas tal não impede que tenhamos verdadeiro prazer nas escapadas que lá possamos dar e que nos levam a acreditar que algo de harmonioso, inteligente, sensível e pleno pode resultar deste estranho período que é o nosso e que não podemos permitir que contribua para olharmos pra a História com nostalgia pelo passado em vez de termos confiança no futuro.

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