A opinião fica. A represália, passa.

António Fernandes

Chefe de Serviços em Multinacional de Telecomunicações

O opinante sempre que opinar é o dono da sua palavra. Da palavra dita e da palavra escrita. Da palavra que resulta sempre do seu saber acumulado. Da sua opinião alicerçada nesse saber e, pouco mais. Tudo aquilo que outro opinante entenda opinar sobre a matéria, não passa de um exercício de especulação.

O opinante, sempre que necessita de opinião terceira para sustentar o que diz, quando o que diga envolva matéria ou assunto para além daquilo que sabe e que por isso, sobre tal, pensa, mas que, ao enquadrar essa opinião na peça que está a produzir, a cunha sempre à luz do seu saber e querer dando-lhe fórmula de não compromisso.

O opinante, ao emitir opinião, assume sempre o ato de coragem quando a palavra que veicula é incómoda.

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Mas também, o ato de cobardia, sempre que submete a sua palavra à vontade de palavra terceira que por essa via manipula a palavra do opinante e a capacidade de influência que essa palavra possa ter no senso que forma a palavra comum.

– Palavra comum?

– Sim! Há uma palavra comum de transversalidade estruturante à razão da palavra que é dita ou escrita formada em experiências múltiplas que a condicionam em três vertentes:

– Interventiva e por isso geradora de opinião;

– Passiva e por isso amorfa;

– Servil e por isso submissa;

O opinante veicula a sua própria opinião. Raramente é um escriba. E, quando o é, lavra a história da História de acordo com o preceituado. Não inventa.

Talvez por isso, haja no perfil do opinante, um misto de rebeldia social e uma capacidade de transcendência incomum que é a da abstração para que consiga a análise social profunda dos factos e das consequências.

Um exercício ancestral de controlo da mente e por via desta as restantes capacidades sensoriais.

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Nesse sentido exige-se capacidade acrescida de responsabilização e de responsabilidade a um personagem que muitas vezes mais não faz do que dar liberdade de expressão ao pensamento, num Estado de direito e constitucionalmente democrata.  

O opinante não é mensageiro de coisa nenhuma nem sequer porta voz do que quer que seja ou de quem quer que seja.

É, tão só, o exemplo da liberdade individual e do direito a ter opinião num tempo em que a tendência para o controlo sobre a opinião pública é crescente em domínio fulcral para a Humanidade como o é o pensamento individual articulado que dá a forma ao pensamento coletivo.

A História tem ciclos de progressão consoante a progressão do pensamento coletivo.

Não se pense que a História é um amontoado de acontecimentos de circunstância só porque no exercício do poder esteve alguém, aquando desses acontecimentos, considerado com nível de inteligência acima da média. Antes pelo contrário. A História teve as suas maiores roturas quando a mediocridade pensante se instalou no poder e acicatou a massa pensante colocando-a na oposição de forma a que, unida, melhor conseguisse delinear e estruturar o futuro.

Uma condição de circunstância que dita a correlação de forças entre o saber e a mediocridade sendo que, o saber tem sempre futuro enquanto que a mediocridade é efémera.

Não fora assim e a Humanidade não teria chegado onde chegou com os níveis de conhecimento que tem.

Cabe assim ao opinante opinar sobre tudo o que em seu redor acontece.

Mesmo que as represálias, só porque opinou, lhe sejam dolorosas.

Porque a opinião formulada fica e, a represália, passa!

 

Braga, 29 de junho de 2018

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