Oração pela América do Sul

Que se incensem os céus em Vossa honra, Senhor!
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Oração pela América do Sul

Olho as quietas copas das árvores
e nelas busco, desolado, alguma aquietação.
No silêncio das folhas que caem
pressinto ódios longincuos …
Nos ramos de cada árvore triste
Não vejo ninhos nem ouço pássaros.
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Mas chegam-me gritos de medos e revoltas
abafados pelo fragor das ondas que se abatem
nas distantes praias da América do Sul.
E nesse momento nada mais existe para mim.
– Só talvez Vós, Senhor!
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Porque sinto eu em mim esta prostração, meu Deus?
E peço-Vos; Trazei-me a esperança ao coração daqueles povos,
e fazei com que ela me chegue nos primeiros alvores
de uma urgente manhã!
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Nuvens passam, lentas, quando fito o céu.
E eu sinto na minha alma a Vossa imensa dor
como sinto a dor das árvores, nuas e sozinhas,
saudosas dos pássaros cantando nos seus ramos.
E vejo no céu plúmbeo a treva que paira, ameaçadora,
sobre tantos irmãos, e também vive latente na minha alma.
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Mas eu não passo de um pobre poeta, Senhor!
E o meu sentir é um sentir… diferente;
é profuso de mágoas, cruciante…
E sei que a minha alma
é só uma ínfima parte do infinito distante,
esse espantoso e deslumbrante infinito
que só mesmo Vós, Senhor, entendeis e dominais.
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O meu ser etéreo, suspenso de êxtases inatingíveis,
erra pelos caminhos que se perdem pela terra
sem nunca alcançarem o céu.
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Eu, Senhor, velho arbusto em vias de secar,
caminharei, ciente dos perigos de uma eminente derrota,
pois já não ouço a Vossa voz na natureza.
Mas olharei o céu e ficarei a orar em Vossa honra.
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Que a minha voz possa lograr chegar até Vós.
E eu Vos peço, meu Deus:
Tende os destinos da América do Sul
no Vosso coração!
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Neste grande e lindo subcontinente que criaste,
há milhões de almas Vossas
em perigo de se ver vergadas a credos malditos,
por uma vontade que não é a sua!
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Essas almas são puras e a Vós pertencem.
Tende-as no Vosso próprio Ser, Senhor,
Tende os seus espíritos presentes no Vosso espírito.
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E que elas permaneçam na luz
Porque só por Vós elas clamam,
E só a Vós amam e exaltam.
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Eugénio de Sá

Sintra, Portugal
Hoje, como em Março de 2014

 

 

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