Editorial

Os meus quatro “quinze minutos de fama” com Adriano Moreira
Damião Cunha Velho

Damião Cunha Velho

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Damião Cunha Velho

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Conheci pessoalmente Adriano Moreira há 34 anos. Tinha eu apenas 20 anos de idade e Adriano Moreira era então presidente do CDS.

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Adriano Moreira foi ministro do Ultramar de Salazar.

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Enquanto ministro, viu a sua irmã médica fugir por ser uma militante comunista (talvez seja daqui que vem a veia esquerdista de Isabel Moreira, deputada do Partido Socialista e filha de Adriano Moreira).

Adriano Moreira era e é um visionário.

Aceitou ser ministro, a convite de Salazar, e teve que gerir os últimos anos da guerra colonial.

Um homem que tinha uma visão do país de fora, uma perspetiva que interessava a Salazar, que só se afastou umas dezenas de quilómetros de Portugal, para a Espanha, nos encontros com o amigo de sempre, o ditador Franco.

Adriano Moreira aceitou ser ministro porque queria pôr em prática um plano de reformas, apesar das reticências de Salazar. Sim reformas, algo que ninguém ousa fazer num país que tem os dias contados, se não aparecer alguém com coragem política para as executar. Precisamos de reformas como ar para respirar e a continuar assim pode-nos vir a faltar o ar. Para isso precisamos de estadistas.

Precisamos de Adrianos Moreiras!

 

Há cerca de 20 anos previu o que está a acontecer com as migrações para a Europa.

Disse que a Europa tinha que ter políticas de desempobrecimento dos seus países vizinhos, caso contrário iriamos ser invadidos por pobres, porque segundo o próprio “os pobres vão sempre correr para onde há pão e futuro”.

Não se enganou, tal como não se enganou quando Salazar o impediu de aplicar as suas reformas, e disse a Salazar que sem reformas não se podia evitar o inevitável – a revolução.

Foi demitido e até chegou a opor-se a Salazar.

Acabou por ser preso e curiosamente partilhou a cela com Mário Soares.

 

Adriano Moreira fez esta terça-feira 100 anos.

Apesar da idade, tem uma inteligência analítica e uma lucidez invulgares.

Teve, faz agora dois anos em Dezembro, a maior infelicidade que um pai pode ter. Perdeu o seu filho Nuno Moreira de 47 anos, vítima de enfarte do miocárdio. Nem sempre Deus é justo para quem pautou a vida pela justiça e com justiça.

 

Como já referi, Adriano Moreira foi ministro do Ultramar de Salazar no início dos conflitos nas nossas colónias.

No entanto, e não será por acaso, é amado por angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos.

Também é amado pelas figuras da história da democracia, incluindo comunistas.

A filha, Isabel Moreira, numa homenagem pública ao pai, chorou e disse numa sala repleta de convidados que o pai era o seu eterno porto de abrigo, a casa onde sempre voltaria.

Adriano Moreira é um homem amado por todos.

 

Já idoso disse que “o amor é quando constatamos que a pessoa que está ao nosso lado nunca envelhece…

Creio que quando morrer, morrerei novo”!

 

Tive a felicidade de conhecer pessoalmente Adriano Moreira, tinha eu 20 anos.

Estivemos à conversa, cerca de uma hora, num hotel rasca em que ambos estávamos hospedados.

Uma conversa em que falamos de coisas banais, comuns, tão comuns como eu, e que ditas por alguém tão sábio nunca são banais.

Foram os meus “15 minutos de fama” de Andy Warhol multiplicados por quatro, em que um comum dos mortais se sentiu tudo menos banal. Um privilégio.

Não é por acaso que não me esqueci desse dia.

 

Há 30 anos, um ex-ministro, um deputado ou um presidente de um partido político era uma figura respeitada, mesmo que não fosse da nossa cor política. Geralmente eram pessoas de grande cultura e que impressionavam qualquer cidadão.

Agora isto não acontece, a nossa classe política nunca foi tão medíocre, e aos medíocres não se responde com admiração.

 

Eu não era diferente, e tinha admiração por esses sábios que também eram políticos.

Nesse hotel, eu estava de costas quando Adriano Moreira me veio pedir uma informação. Perante tal surpresa e espanto, cumprimentei-o com um aperto de mão.

Disse-lhe que era a segunda figura pública que cumprimentava e que a primeira tinha sido Álvaro Cunhal.

Ele disse-me: “Não se preocupe, eu também tenho comunistas na família”.

 

Há pessoas que nunca envelhecem.

Adriano Moreira vai morrer novo porque aos nossos olhos, aos olhos de todos, nunca envelheceu!

 

100 anos, 100 anos amado.

Parabéns!

 

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