Apesar de algumas alterações climáticas ainda tenho e sinto o privilégio de vivenciar todas as estações do ano, com todas as suas manifestações e exuberâncias.
De as apreciar, nas mutações, cada uma com a sua beleza e o seu rigor, passo a passo, na sua magia generosa, gratuita, esplendorosa.
Porque será? Penso muitas vezes nisso.
Será porque, sempre vivi rodeado pela Natureza, ou porque desde criança permiti que, os valores passados pelos meus progenitores, como o respeito sobre a mesma, se embrenhassem em mim?
O respeito pela Natureza e seus códigos, de perceber e entender o valor de cada árvore. Aprender a ler os anéis do crescimento, ou das Luas para que o abate de uma árvore madura ocorresse nas minguantes certas, ou a reconhecer no tronco a orientação Norte?
Bem cedo comecei a plantar videiras, e todo o tipo de árvores de fruto, assim como castanheiros ou carvalhos, outras, e continuo, e fazê-lo, ou enxertos, de que tanto gosto. Ou a saber fazer a poda?
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Será porque sempre quis fazer parte da mesma, porque a admiro e respeito?
Tantas vezes ouço dizer que não há estações do ano, que agora é tudo igual. Confesso que fico irritado com essas respostas tremendistas. Não devemos esconder a cabeça na areia e fingir que não se passa nada (?), mas também não devemos cair em exageros.
No coração do Alto Minho, onde sempre vivi, essa “fatalidade” não se verifica com essa intensidade. Ou as pessoas papagueiam a cassete do politicamente correcto, ou vivem nas cidades e preferem olhar para as montras, ou para os smartphones, em vez de apreciar a natureza nos jardins públicos e constatar a mudança.
Em Agosto começamos a sentir que algo vai mudar. Dias bem mais curtos e temperaturas moderadas com noites frescas.
Em meados de Setembro já cheira ao Outono. O pôr do Sol é magnifico e as primeiras chuvas são bem-vindas e sabe bem usar mais alguma roupa. Depois entra Outubro e o desenrolar do Outono com fins de tarde amenos, de puro deleite.
Nos pomares comem-se e colhem-se maçãs, figos, dióspiros, romãs, ou nozes, ao mesmo tempo que se caem as primeiras castanhas. E apanham-se cogumelos.
Ainda há, poucos, resistentes que, depois dos seus empregos viram lavradores, fazem as vindimas e começam a desfolhar o milho e colhem os feijões, porque as batatas já estão nas tarimbas, para sustento de casa e porque sabem que o que comem está isento de químicos.
Nesse aspecto as cores da minha aldeia e das demais, perderam parte do encanto que tiveram, depois da nossa adesão à então CEE, e em que, paulatinamente, os campos foram abandonados, quando, antes, nem um palmo de terreno ficava por cultivar. Não compensa, dizem e é verdade.
É o progresso.? Veremos adiante se é?
PUBEu digo que é a lei do mais forte dos que são altamente subsidiados para produzirem vastas planícies, em detrimento dos pequenos lavradores que, por esta via ,foram forçados ao abandono.
As aldeias foram-se despovoando, os rebanhos foram substituídos por matilhas de lobos, e as pessoas deixaram de percorrer esses caminhos e a floresta avançou e com ela os incêndios.
Sem incentivos não se aguentaram. Foi pena.
Foi num mês de Outubro que tive o privilégio de viver as desfolhadas de boa memória, tema que agora não abordarei.
O milho, semeado na Primavera, era a cultura dominante, entrecortado por rectangulos de batatais que ostentavam flores brancas ou roxas, ou searas de centeio, bordejados por simétricas latadas de vinha.
Quem fosse ou vivesse num lugar mais alto, na aldeia, deliciava-se com este xadrez de exuberantes e viçosos tons de verde. Nenhum era igual mas todos eram magníficos.
Entretanto há árvores que começaram a perder as sua folhas, como as cerejeiras ou as pereiras do cedo. Os carvalhos autóctones, árvores de enorme beleza, perderam aquele verde viçoso que os caracteriza, e a folhagem vai ganhando cores acobreadas que meses depois se transformarão numa paleta de cores contrastantes que dá imenso prazer ver.
É um hino para os nossos sentidos.
É pena ainda não ter caído na moda a contemplação desta espécie. Se há turismo estrangeiro, para a contemplação das Abetardas, no Alentejo, ou das Perdizes vermelhas, no Algarve, etc. e sem querer diminuir nenhuma delas, acho que muito se perde ao não promover visitas turísticas, ao vivo, a esta beleza espontânea de que, os concelhos- uns mais que outros- têm, em grande quantidade.
Cito o concelho vizinho de Paredes de Coura que, para além de possuir muitas paisagens naturais únicas de beleza ímpar, têm, também, magnificas e extensas manchas de carvalhos autóctones.
Mas todos os dez concelhos do Alto Minho, são ricos em paisagens e em matas de Carvalhos autóctones em muita biodiversidade. Essa promoção contribuiria, muito, para o desenvolvimento dessas terras, colmatando a sazonalidade turística que acontece por esta altura, e ajudaria a fixar pessoas à terra.
Daqui a pouco veremos as crianças das escolas, mas também os funcionários de algumas empresas a plantar árvores, naquilo que eu classifico se espectáculo político ou marketing, num show-off.
Não basta plantar árvores, tirar umas fotos, fazer publicações nos jornais, nas redes sociais e voltar-lhes as costas. Ali, todos fizeram a sua campanha publicitária e política.
As nossas escolas estão cheias de disciplinas, não obrigatórias, que, efectivamente, só servem, para dar empregos, nada mais. Para quando uma disciplina obrigatória para este tema que é primordial, educativo, abrangente e vital nas diversas áreas da floresta. Mas feita no terreno?
Isto, porque plantar uma árvore é como fazer um filho. Quer num caso quer noutro, é para toda a vida. É essencial ir ao terreno e cuidar, e atar as suas guias de crescimento, porque dessa forma estaremos a educar uma geração.
E continuar a promover visitas assíduas de trabalho a essas plantações que, no caso das crianças e adolescentes, passariam de gerações escolares para outras, porque só assim se cria amor às árvores, plantadas e à natureza. Ao mesmo tempo asseguraríamos a formação de melhores cidadãos.
Infelizmente, não é isso que acontece. È preciso saber cuidar e educar.
(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).
4 comentários
Concordo plenamente com este texto . Eu sou desse tempo e fui criada na aldeia . Ir cortar erva para os animais . Apanhar uvas e espigas . Não me sinto traumatizada . Os meus pais eram muito rigorosos e davam umas palmadas quando não estamos quietos . Hoje somos trabalhadores e com bons princípios
Pois é Maria Noélia Pereira Marques, respaldo o seu comentário, para sublinhar que isso não a impediu de ir para a Universidade e de ter sido uma excelente professora de Físico-química.
Traumatizados, andam agora, sem saber que rumo hão-de dar ás suas vidas. Enquanto isso, a natureza passa e eles não a vêm.
Todas as estações do ano tem a sua beleza e a sua importância,eu pessoalmente gosto mais do Verão.Dias grandes calor etc.
Disse muito bem, Susana Faria. De facto todas elas reúnem muita beleza, e nós estando atentos, temos a oportunidade de escolher a que mais gostamos. Porém, temos que passar por todas.