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A Paixão de Júlio Marques pelo Gerês

O Minho Digital partiu novamente à descoberta de novas ideias e apostas no mundo natural. Desta vez, foi Júlio Marques quem se destacou, não só pelo seu trabalho de divulgação e valorização do Parque Nacional Peneda-Gerês, mas também pela posição que adota ao defender o contacto com a natureza no quotidiano.
Recentemente, criou o projeto “O Gerês”, em que apenas um mês atingiu 4200 gostos e cerca de 58000 visualizações por semana. O Minho Digital quis descobrir um pouco mais e esteve à conversa com o autor do projeto.

 MINHO DIGITAL (MD) – O interesse pela natureza e pela descoberta surgiu em que altura?

 Dos tempos de miúdo. Sou natural de Espinho, e na altura as brincadeiras ainda eram muito à moda antiga, íamos para os bosques correr, trepar árvores, era todo o dia naquilo. Durante a fase da adolescência, as aventuras foram, aos poucos, sendo substituídas pelos documentários de vida selvagem que passavam nos canais Odisseia e National Geographic, mantendo o “bichinho” pelo mundo natural.

Mais tarde, acabei por me desligar um pouco, estudos e vida profissional que nos automatiza. Atualmente sou gestor de vendas, numa relojoaria em Gaia.

 

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MD – O fascínio pelo PNPG – Parque Nacional Peneda-Gerês despertou mais tarde. Em que circunstâncias? 

Sempre tive interesse por Parques Naturais, mas quando era mais novo estava mais focado nos parques que havia na América e na Ásia, e desdenhava um pouco o que era nosso. Há uns anos atrás comecei novamente a cultivar o gosto pelas minhas coisas antigas, refletindo sobre a minha realidade e não estava satisfeito. Sentia falta do contato com a natureza. Há cerca de um ano atrás, um amigo meu foi convidado para fazer o trail das sete lagoas no Gerês e também fui com ele. Pode dizer-se que foi nesse momento que se acendeu um rastilho. Percebi que a minha vida tinha de mudar e tinha de arranjar mais tempo para a natureza.

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MD – Foi então, durante o trilho, que se apercebeu da importância e da riqueza do PNPG…

Sim, fomos por um trilho que adorei, onde estivemos o dia todo a mergulhar de lagoa em lagoa. Mas senti que foi tudo muito superficial e fiquei com vontade de regressar. Pouco tempo depois, comecei eu a organizar saídas às Lagoas, com alguns amigos. Num desses momentos, junto com o meu parceiro do projeto “O Gerês” e parceiro de caminhadas, percorri o rio Cabril, e foi aí que descobri o desejo de explorar todo o Gerês. Assim, as viagens e as explorações tornaram-se cada vez mais frequentes. Agora vamos lá duas a três vezes por semana, sempre que podemos.

 

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MD – Para organizar essas viagens e as explorações, que tipo trabalhos/estudos prévios, eram feitos da vossa parte?

Um dos problemas com que me deparei logo no início das nossas explorações, foi a falta de mapas e informação. Tentávamos procurar certos locais e não havia disponibilidade de informação no parque.  Um exemplo, são áreas de proteção de biodiversidade existentes dentro do parque,  totalmente desconhecidas para os turistas e até para algumas gentes da terra.

Foi aí que eu e o meu parceiro, Alexandre Dias, começamos a desenvolver ideias. Percebemos que apesar da falta de registos, as lagoas, os trilhos, as montanhas, tinham nomes, embora fossem pouco conhecidos e muito mal assinalados.

Iniciamos então uma procura e conjugação de informação, que nos permitisse conhecer o parque como ele é, com todos os seus locais fantásticos a explorar. Entusiasmamo-nos tanto, que nessa altura tinha começado o Inverno, e era suposto termos ficado por ali, regressando apenas na Primavera, mas isso nunca aconteceu. (Risos)

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PMD – Portanto, foi o conjunto de toda essa informação que deu origem ao projecto “O Gerês”? 

Não comecei logo na página “O Gerês”. Tinha um amigo meu com uma página já feita e que estava parada. Como tenho formação em Marketing, nas redes sociais, acabei por me entusiasmar e despejar ali todas as minhas ideias. Cheguei a mudar a estética da página e iniciei lá o projeto.

Mas eu queria ir mais longe, criar uma equipa que me ajudasse e ele nisso não estava de acordo. Ao fim de pouco tempo as coisas acabaram por não resultar e tive de tomar uma decisão, ou continuava a gerir a página dele, ou mudar para outra da minha autoria.

E assim foi. Há cerca de um mês atrás nasceu o projeto “O Gerês”, onde são divulgadas imagens e vídeos de vários locais do PNPG, juntamente com as informações que conseguimos recolher, durante as nossas explorações.

 

MD – E neste momento, tem uma equipa que o ajuda? 

Sim, ao criar “O Gerês”, trouxe quase toda a equipa comigo que já tinha formado na página anterior. No total somos sete elementos. Trabalhamos todos para o projeto nos nossos tempos livres, através da gestão da página, para que a informação chegue a todos.

Conto ainda com o apoio de alguns geógrafos e outros colaboradores que percorrem a serra várias vezes ao ano, fazendo o reconhecimento da área.

Outra componente que acho essencial é a cultura associada a cada local, e por isso mesmo mantenho contato com pessoas locais que conhecem histórias antigas.

Além disso, conto também com a colaboração do Carlos Pontes e do Luís Borges, com contribuições fortíssimas no impulsionamento do projeto.

 

MD – A aderência ao projeto correu como esperado? Quem mais procura informações sobre o PNPG? 

Sim, superou as nossas expectativas! Em menos de um mês já tinham aderido 4200 pessoas e neste momento contamos com 58000 visualizações por semana. Maioritariamente são portugueses que gostam de conhecer e estão interessados no Gerês, o que é muito bom, para que se comece a reconhecer e valorizar um pouco mais o que é nosso. Seguem-se os espanhóis, conhecidos adeptos do nosso país e por incrível que pareça, brasileiros também.

 

MD – Em síntese, qual é o objetivo do projeto “O Gerês”? 

Dar a conhecer o Parque na sua íntegra. Existe muito mais do que se pode ver à primeira vista. O Gerês não é só um conjunto de cascatas à face da estrada onde se pode dar uns mergulhos no verão. Existe um território imenso, com um interior bravio cheio de vida selvagem, dando a este local uma biodiversidade riquíssima, com espécies de flora únicas no mundo. A ideia é que as pessoas se foquem na nossa página não como um portal do Gerês, mas sim como O Portal do Gerês, onde se pode encontrar um posto informativo para tudo. 

 

MD – Como pretendem dar a conhecer toda a riqueza que existe no parque? Unicamente através da página do facebook, ou existe a possibilidade de construir um local físico como posto de informação, onde as pessoas se possam dirigir? 

Não, para já a página do facebook é o utensílio mais forte que temos e sejamos honestos, chega a toda a gente mais rápido do que se chega a qualquer lado, por outro meio qualquer. A ideia de ter um posto de informação foi pensada sim, mas iria implicar um investimento superior. Neste momento, as autarquias não têm pressuposto disponível, e o que existe, está todo canalizado para o PNPG.

 

 MD – De todos os lugares fantásticos que existem no PNPG, em sua opinião, quais são os top 5?

Borragueiro. Esta foi a minha primeira subida de montanha a sério. É uma das montanhas mais imponentes do Parque e fica situada na região de Cabril. É difícil a escolha dos locais certos, mas o Borragueiro está no meu coração, até porque foi por ali que começou a nossa aventura. Curiosamente, vá para onde for, de norte a sul, de este a oeste, consigo sempre acabar o dia e ter um vislumbre, nem que seja muito distante, deste colosso.

Surreira. Este local, tal como o Borragueiro foi uma paixão à primeira vista. É aquela montanha que cada vez que a olhamos, dizemos que haveríamos de estar lá em cima. Fica também situada em Cabril e era um conhecido local, pois era ali que nidificava a Águia Real, atualmente ausente no PNPG. É íngreme e perigosa, só a conseguimos percorrer corretamente com a ajuda de pessoas que conhecem o local, por aprenderem com os pastores ou por própria exploração. Quem se aventura na Surreira pode conhecer o desgosto.

Poço do Mouro ou Buraco de Cerves, como lhe chamavam os antigos. Um dos locais mais bem guardados do Gerês, felizmente. Dizem as gentes da terra é o “Bafo da Morte”, ao olhar para baixo sente-se o respirar dela. E bem verdade, pois em Junho do ano passado o Poço ceifou a vida a um rapaz. Muitos são os que regressam com lesões. Claro que é de grande beleza e enfeitiça qualquer um.

Poço Azul para os habitantes de Fafião e Poço Verde para os habitantes da Ermida. Curiosamente a água tem a tonalidade verde e fica situado no rio Conho. É de fácil acesso e provavelmente, a par das Lagoas do Cabril e das Fechas de Barja e Arado, será o próximo ponto turístico de maior relevância no Gerês, dada a sua beleza e facilidade de acesso.

 

Minas dos Carris. Para quem não sabe, estas são as ruínas das Minas dos Carris situadas a mais de 1400m de altura, lá viveram muitas famílias. É infelizmente, um lugar que está à mercê das intempéries rigorosas da terra, em situação de calamidade de degradação. Em minha opinião, deveriam ser restauradas, ou pelo menos recuperadas e travarem a sua degradação. Fazem parte da história do Gerês. Local de extrema beleza e quase inacessível, pois fica rodeado pelas zonas de proteção total e por íngremes montanhas em qualquer das 8 direções da rosa dos ventos. Fica entre O Pico da Nevosa, entre o Outeiro, entre os Coucões de Coucelinho, que formam uma espécie de barreira para os visitantes.

 

MD – Estas imagens são deveras impressionantes. Não lhe preocupa que ao expor estes locais, toda a sua riqueza, ainda praticamente intocada, fique prejudicada pelo aumento de procura?

O nosso objetivo passa por dar a conhecer os locais, não como lá chegar. Na nossa página não são indicados trilhos a seguir, nem coordenadas. Temos perfeita consciência de que o aumento da procura iria exercer uma maior pressão humana, quer na paisagem, quer na biodiversidade. Além do mais, a maioria destes locais é de difícil acesso, muitas vezes perigosos, que requer cuidados extras, muita precaução. Acredito que a complexidade do interior do parque ultrapassa o de uma cidade.

Por isso mesmo, não aconselhamos ninguém sem alguma preparação e acompanhamento por outras pessoas a embrenhar-se no Gerês. Já para não falar de todo o equipamento que se deve fazer acompanhar, como boa roupa, calçado confortável e adequado. Nunca se sabe as condições que podemos encontrar na serra, e o tempo, que pode mudar a qualquer momento.

 

MD – No futuro, o que espera conseguir com este projeto?

Conseguir chegar ao maior número de pessoas, obviamente, mas também para que se crie um verdadeiro reconhecimento da área, na sua totalidade. Para além das paisagens e da biodiversidade, existe um património cultural associado, muitas vezes ignorado.

Espero poder contribuir para o reverter dessa situação, da melhor forma possível. Até lá vamos continuar o nosso trabalho, com as nossas saídas, a explorar todas as maravilhas do parque.

 

O Minho Digital gostaria de salientar todo o árduo trabalho envolvido no projecto “O Gerês”. Todo o reconhecimento feito em campo revela uma enorme força de vontade e verdadeira paixão em prol do PNPG. Relembremos que as condições não são as mais fáceis e existem sérios riscos associados. Para além disso, todo o trabalho é feito de forma voluntária, disponibilizando o seu tempo livre.

Este Parque Nacional, o único com este estatuto em Portugal, ganhou assim um novo destaque e uns novos defensores. Toda a informação recolhida neste curto espaço de tempo, deveria ser alvo de reconhecimento pela própria direção do Parque, salvaguardando-a com o devido mérito. Caso contrário, histórias, nomes e costumes seriam simplesmente esquecidos no tempo.

Assim, o Minho Digital gostaria de felicitar Júlio Marques e toda a sua equipa pelo fantástico projeto e deseja que o todo o trabalho continue a progredir da melhor forma, ganhando cada vez mais destaque.  

Um bem haja a todos aqueles que dedicam o seu tempo em defesa da natureza!

 

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Link do vídeo é https://www.facebook.com/ogeres/videos/1738771546370671/

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