Editorial

Pares e parelhas
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Joaquim Letria

Um amigo meu, que além de rico tem muita graça, confessou-me que as Testemunhas de Jeová  que batem às nossas portas ao fim de semana, lhe fazem lembrar tomates.

-Tomates?!- estranhei  eu.

-Sim, disse ele com o ar mais ingénuo deste mundo – é que além de andarem sempre aos pares, nunca ninguém  os manda entrar…

Esta coisa dos pares tem muito que se lhe diga. Nós chamamos “par de cuecas” a um exemplar único, mas a estranheza dos pares transforma-se em duas unidades simples, com cada uma a ir para o seu lado. Pensem no ovo, que geralmente era consumido frito e aos pares, acompanhando salsichas, rodelas de chouriço, morcela  ou fatias de presunto, tipo “bacon”, à inglesa. Nunca ninguém dizia:

-Faz-me um ovo estrelado.

Pedia-se:

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

-Estrela-me aí dois ovos.

No entanto, essa encomenda quase desapareceu desde que o ovo se montou a cavalo dum bife. Os pares e parelhas vão perdendo razão de ser, erradamente, em meu entender.

O ovo nasceu para ser acompanhado. E a unidade do ovo devia ser o par, por muito mal que isto possa fazer ao colesterol .

Ovos de eleição são os da Casa Lúcio, de Madrid, que os faz como ninguém, “Revueltos com papas”, ou “Revueltos com Aspargus”. Os ovos também podem ser feitos pelo meu querido amigo Sr. Rocha, minhoto que em Moscavide faz um “Bacalhau à Braz” único neste mundo e no outro, ou no Manuel do Cristo, às portas de Elvas, cujo bacalhau dourado  chegou a pedir meças ao da pousada, quando a pousada era pousada.

Agora que os médicos tanto falam do colesterol  bom, devíamos aproveitar  para recuperar o ovo aos pares. Tal como os tomates do meu amigo e as testemunhas de Jeová, as galinhas põem um ovo de cada vez mas para ser servido aos pares. Quanto muito, para fugirem  a cavalo dum bife à maneira, dum lombo ou duma vazia  da  maior confiança.

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