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“Perdi o meu filho para as drogas” – relatos de mães desesperadas!

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Quando o vicio da droga bate à porta a desesperação e a dor tomam conta das famílias. As mães sentem-se impotentes ao não conseguir os meios para ajudar os seus filhos a abandonarem aquele vicio tão destruidor. O MD obteve os testemunhos de duas mães que perderam os seus filhos para as drogas, mas que não desistem de os salvar…

Carmo é uma mulher forte, já ultrapassou muitas batalhas, mas todas elas lhe deixaram marcas. “A minha vida nunca foi fácil, enfrentei um casamento com muita violência e, na altura, ganhei coragem para me separar dele por causa dos meus filhos, eles não mereciam viver aquele pesadelo”.  

De repente passou a ser mãe solteira, com dois filhos, dois trabalhos, as despesas não davam trégua. “O meu ex- marido decidiu fazer de conta que nós não existíamos. Tive de me virar. Arranjei dois trabalhos, os meus filhos iam para a escola e depois para o ATL, quando eu chegava a casa tratava deles, deixava-os na cama e uma vizinha guardava-os até eu chegar, de madrugada, do meu outro trabalho”.

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Foi assim durante os últimos anos de infância, até ao culminar da adolescência dos seus dois filhos. O Joel, o mais velho, sempre gostou muito de estudar, de fazer os trabalhos de casa; o Pedro “sempre foi o mais rebelde. É como se nunca estivesse contente com aquilo que tinha. Era muito sociável, isso sim! Não faltavam amigos. Todos queriam estar ao pé dele”. Com o passar dos anos Joel e Pedro foram ficando cada vez mais distantes. “O Joel juntou-se com aquela que – ainda hoj e- é a minha nora, enquanto o Pedro só queria festa. Ele, apesar de nunca ter seguido os estudos, conseguiu arranjar um bom emprego, sempre foi muito inteligente, o meu filho estava no melhor do tempo dele. Era bem-sucedido, tinha dinheiro, mulheres e amigos, eu nunca percebi quando é que o perdi para aquele vício”, comenta Carmo.

Partilhando a mesma realidade, mas com uma história de vida um tanto diferente, encontrámos a Cândida, uma mulher que transmite no seu olhar amor e ternura, mas que também reflete a dor e incerteza de saber se algum dia o seu filho voltará a ser aquilo que era. “Nós jamais imaginamos que algo assim pode acontecer na nossa família. O meu César sempre foi um miúdo muito calmo, muito reservado. Gostava de estar no cantinho dele, sempre com o vídeo jogo e o computador, era daquilo que ele gostava. Nunca foi de sair à noite, e muito menos de amigos e festas. Nunca imaginei que o meu filho conhecesse esse mundo e ficasse preso a ele”, afirma desconsolada.

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A vida destas duas famílias, e de muitas outras em situação semelhante, deu uma volta de 180º. O mundo da droga não destrói só a pessoa que consome, como também a família que, muitas vezes, só consegue ficar como espetador perante a avalanche de acontecimentos que surgem neste cenário de dependência. Para Carmo “o vicio do meu filho foi algo que me deixou sem chão. Como disse anteriormente, o meu Pedro foi sempre um rapaz alegre, sempre rodeado de amigos… Houve sinais que hoje em dia reconheço e que, naquela altura, já fazia ver que algo não estaria bem. As faltas ao trabalho começaram a ser frequentes e o seu estado de nervosismo só aumentava, eu sempre pensei que era o stress daquele trabalho e que ele estaria a preparar-se para mudar de emprego. Mal sabia eu aquilo o que realmente se estava a passar”, relembra.

Para Cândida a situação foi semelhante. “O meu filho, que foi sempre tão responsável, tão reservado, foi-se revelando prepotente e agressivo – coisas de adolescente, pensava eu -, começou a ter amizades um tanto inesperadas, as saídas de casa cada vez mais frequentes… Hoje sei que tudo aquilo era um prelúdio daquilo que se avizinhava”.

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Pedro acabou por perder o emprego e César acabou por sair de casa. As vidas de Carmo e Cândida tinham-se tornado um desassossego. Nada sabiam fazer para enfrentar esta verdade que lhes bateu à porta e que as tomou por surpresa. “Antes do meu César sair de casa comecei a achar estranho que o dinheiro da sua mesada já não chegava, parece que a cada semana os seus hábitos e rotinas mudavam. Ele, naquela altura, tinha-se tornado perito em mentiras e manipulações. E nós -no fundo por não querermos assumir que algo não estava bem – cedemos várias vezes aos seus pedidos. Nós acabavamos por financiar o seu vício”, relembra com lágrimas nos olhos.

Por sua parte Pedro, depois de perder o emprego, entrou numa espiral de depressão que o atirou a um mundo ainda mais obscuro. “Eu sei que o meu filho fumava erva socialmente. Ele era um rapaz da noite, das festas. Mas sempre achei que sabia controlar muito bem o seu gosto por aquele mundo. Quando começou a faltar ao trabalho, tentei falar com ele, preguntar-lhe o por quê dessas faltas, mas a resposta era sempre evasiva, cheia de injúrias e pedidos para me afastar. O meu filho não estava bem e eu vi-me incapaz de o ajudar”.

As realidades de Pedro e César tinham mudado. O mundo para o qual se abriram trouxe-lhes novas vivências e experiências, opostas cada uma entre si. César, o menino calmo e um tanto pacato, tinha saído de casa e vivia agora num mundo de festas e (des)amizades. Por sua parte, Pedro tinha ficado sem emprego, sem dinheiro e todos aqueles amigos que o rodeavam, de repente desapareceram, ficando só aquele que lhe fornecia aquilo de que tanto precisava.

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“Quando decidimos que não podíamos continuar a subir o valor da mesada do nosso filho, ele ficou irritadíssimo. Naquele dia conheci um César que não sabia que existia. Tentámos por tudo que ele compreendesse a nossa decisão, mas foi impossível. Ele não saiu imediatamente de casa, ainda demorou uns dias, mas acabou por sair quando o confrontámos como o fato de estarem a desaparecer coisas de casa. Quisémos ajudá-lo, naquela altura já sabíamos que consumia, mas ele bateu a porta e foi embora”, relembra com ar abatido.

Ambas as mães confessam que viver o vício dos seus filhos trouxe-lhes uma grande tristeza. “Nós, sem nos apercebermos, muitas vezes somos cúmplices do vício dos nossos filhos. Antes do meu César sair de casa, preferia dar-lhe o dinheiro que ele exigia – sabendo à partida seria para a droga – do que imaginar que pedia dinheiro fora de casa ou saber que tirava objetos de casa para vender ou, pior ainda, que roubava. Muitas vezes preferia dar dinheiro ao meu filho do que saber que ele iria cometer qualquer loucura para ter aquilo de que precisava”.

É uma situação que desestabiliza a vida familiar de qualquer. “Eu já não morava com o meu marido, abandonei-o pela situação de abuso em que vivíamos, mas sei que o afastamento entre os meus filhos se deveu – em muito – ao vício do meu Pedro. Nós, como mães, sem nos apercebermos, damos toda a nossa atenção àquele filho que precisa muito da nossa ajuda e acabamos por deixar um bocado de parte o outro filho que pensamos está bem, mas nem sempre estão bem. É uma situação que afeta o psicológico de toda a família, pelo menos na minha casa foi assim. Acabei por ter dois filhos muito revoltados, por diferentes situações”, confessa.

O processo pelo qual estas mães passaram foi muito mais além da descoberta do vício dos filhos. Como ambas explicam “quando se descobre a dependência, todos temos o choque inicial que vem acompanhado pela nossa culpabilização. Pensamos que foi por nós que os nossos filhos caíram neste mundo, por falta ou excesso de atenção. A partir do momento em que sabemos do vício, nunca mais há sossego nem paz”. Tanto para Carmo como para Cândida, a vida – desde há pelo menos 10 anos – que se tornou um impasse constante. “O Pedro, quando entrou naquele quadro de depressão tão agressivo consumia todo o tipo de substâncias, e nada lhe era suficiente, até que, no dia 15 de novembro de 2015 bateu mesmo fundo, tentando o suicidio… Encontrei-o ainda há tempo e à raíz dessa tentativa, foi internado. Já lá vão 3 anos, e ainda hoje temo uma recaída. Quando os nossos filhos entram nesse mundo, o perigo está sempre à espreita, à espera que eles esmoreçam”, relembra Carmo com lágrimas nos olhos. 

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Cândida também afirma que ver o seu filho bater no fundo foi a sensação de dor mais violenta que teve de enfrentar. “O meu filho já tinha saído de casa. Naquele então tornamo-nos os piores inimigos dele, porque apesar da nossa dor, retirámos-lhe o apoio financeiro e pensávamos que assim o faríamos parar. Mas a situação descontrolou-se! Vivia quase em situação de rua e quando bateu mesmo no fundo veio à nossa porta, desesperado, a pedir ajuda, porque já não aguentava mais aquela situação e queria muito ser ajudado. Aquela mágoa jamais desaparecerá do meu coração! Internámo-lo, mas infelizmente não acabou os tratamentos e agora, ainda quando já não consome tanto como dantes, continua com o vício… O único que eu desejava neste mundo era poder ajudá-lo, livrá-lo daquele flagelo, salvar o meu menino”, confessa sem conseguir conter o choro. 

Os testemunhos de Carmo e Cândida são uma realidade que – infelizmente – se multiplica cada vez com mais velocidade e voracidade. A luta destas mães, faz-nos perceber o quão perigoso é este vício que entra pela porta dentro sem avisar, destruindo os lares, os desejos e os sonhos das famílias que ignoram os seus destinos e – sem pedir – começam a travar uma luta que, muitas das vezes, não conseguem vencer. 

Esta reportagem serve também para dar alento e apoio a todas aquelas famílias que se encontram numa situação semelhante. O MD, a pedido das mães que, valentemente deram o seu testemunho, preserva as identidades reais dos intervenientes, com nomes fictícios,  a fim de salvaguardar as suas integridades físicas e psicológicas.

“Eu comprei uma arma e escolhi a droga ao invés dela!”… Kurt Cobain

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