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“Pisamos frequentemente comida e medicina”

Carlos Venade apresentou no dia de Santo António diversas plantas existentes ao longo das margens do rio Minho. Mais de duas dezenas de espécies foram dadas a conhecer a curiosos. Em breve, o botânico apresenta um livro das plantas da Serra da Peneda até à Barra de Caminha.
“Vamos dar um passeio pela Ecopista junto ao rio Minho. Embora eu prefira os caminhos rurais, porque já estão implantados há muito tempo. O que pretendemos é identificar plantas e ajudar as pessoas a ter uma relação mais próxima com a natureza”, manifestava o promotor. Carlos Venade, que é um interessado pelas questões da natureza dizia que “nós pisamos frequentemente comida e medicina. Se as pessoas tivessem ideias da quantidade de plantas que podem integrar numa sopa ou numa salada, acho que olhariam para a natureza com outros olhos. E isso é muito necessário”. Pedimos-lhe para dar um exemplo e falou da Aliária. “Temos aqui uma planta que se chama aliária, que embora o nome sugira algum parentesco botânico com os alhos não tem. Os nomes vêm-lhe do facto de ter um aroma semelhante. É uma planta que aparece junto a cursos de água e as folhas podem ser integradas em saladas ou numa sande. Aqui está uma forma de comer barato e saudável”.
Contestando o sistema de ensino que afasta os jovens do estudo da natureza, o filósofo de formação, reconhece que o problema está na mentalidade. “O nosso sistema de ensino tradicional e oficial não se preocupa com um aspecto que é fundamental, a relação do ser humano com o seu mundo, com a natureza e com todos os seres. Ainda temos uma visão distante, apesar do que se diz. A escola prepara as pessoas, mas não na base fundamental da nossa relação correta com o mundo onde vivemos”.
Realizando vários encontros com interessados, Carlos Venade lamenta que “nestes concelhos de Monção, Melgaço e Valença não se façam mais” e fala da aproximação das pessoas à natureza. “Ultimamente tem havido uma aproximação. A nossa abordagem da natureza é uma abordagem cultural. As pessoas querem esses conhecimentos, porque a relação com a natureza é psicologicamente equilibradora”.
“Quando se fala de património fala-se no património cultural, construído pelo homem. Claro que esse património é importante, mas construímo-lo e destruímo-lo. O património fundamental é o natural, porque podemos destruí-lo, mas não construí-lo”, salienta Carlos Venade.
Ao longo do percurso, na manhã de 13 de Junho, os presentes tocaram, cheiraram e mastigaram algumas das plantas encontradas na Ecopista. Uma das mais curiosas foi a “Poligonum Hidropiper” [Pimenta da água]. Uma planta “muito comum”, e que os antepassados usavam como pimenta.

“A maior barbaridade que temos são as Ecopistas”
Crítico da colocação de Ecopistas junto aos pontos de nidificação das aves, Carlos Venade aconselhava a “aproveitar os caminhos rurais”. “Presentemente a maior barbaridade que temos são as Ecopistas, porque de Eco não tem nada e de pista tem muito”, frisava. Lembrando que “estamos a criar linhas longitudinais paralelas aos cursos de água, que são habitats muito importantes para determinados tipos de aves e que não suportam a presença humana e vamos perturbar”.
Outra área onde se deve intervir, segundo Carlos Venade, é na sensibilização dos responsáveis. “Se vou para a Ecopista. Já que ela está lá, vou para ver natureza. Quero ter vegetação e borboletas ali próximas. Aqui em Monção já tenho feito intervenções e tenho conseguido resultados. As pessoas cortam as ervas, que estão a tombar para a ecopista e não mais do que isso. As pessoas dizem que vão limpar. Mas isso não é lixo. Eu explico aos autarcas para que coloquem o painel a dizer que ali é Rede Natura e que a autarquia se preocupa em não destruir a natureza. Oferecê-la e deixá-la”.

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