Editorial

POBRES PASSADIÇOS
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Jorge VER de Melo

Jorge VER de Melo

Professor Universitário

(Aposentado)

Se há iniciativa política que devemos louvar e agradecer, sem dúvida, é a construção dos passadiços e ecovias.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Do Norte ao Algarve, pelo Litoral e pelo Interior, existem passadiços que nos oferecem paisagens lindíssimas e possibilidades de acesso a locais anteriormente desconhecidos. Vieram valorizar e facilitar o exercício físico sem prejudicar a natureza. Mais correctamente, afectando minimamente a pegada ecológica.

Além de todas essas vantagens há que acrescentar o aumento do movimento turístico; criando sustentabilidade a algumas regiões mais desprotegidas e ajudando outras a acrescentar algum conforto a quem pretende esquecer a azafama e o stress.

Especialmente as criança, com essas condições, vão sendo educadas e habituadas a conviver e respeitar a natureza.

Até aqui todos fomos felizes, mas agora começam a surgir os problemas da manutenção, assunto permanentemente esquecido por quem tem a obrigação de governar estas coisas.

https://dre.pt/pesquisa/-/search/172974/details/maximized?perPage=25&q=Lei+n.%C2%BA%2010%2F97

Já em 1931 existia o Decreto nº 19502 com legislação para estes assuntos, mas foi o Decreto/Lei nº 2110 de 1961 que iniciou verdadeiramente tudo isso sem esquecer a manutenção. Promulga no sumário o regulamento geral das estradas e caminhos municipais. Quem assinou a sua publicação, por estranho que pareça, foi Américo Deus Rodrigues Thomáz, Presidente da República e António de Oliveira Salazar, Primeiro Ministro.

Se aconteceram muitas coisas más (muito más) nessa época, também fizeram algumas boas que devemos registar.

Essa Lei é uma verdadeira lição.

Já salvaguardava:

– A conservação;

– Reparação;

– Policiamento (fiscalização);

– Cadastro (registo) das estradas municipais;

– Cadastro (registo) dos caminhos e passadiços municipais.

Tudo isto a propósito do abandono de algumas dessas ecovias e passadiços que se encontram com vestígios de vandalismo e verdadeiro desleixo.

Não se compreende! Depois de investirem tantos milhões e terem recebido tão bons resultados desses investimentos públicos, mesmo assim, verificamos situações degradantes. Cá no nosso Minho temos o mau exemplo do Concelho de Caminha.

Fizeram-se coisas tão boas com pomposas inaugurações para pouco depois chegarem a este abandono. Até o comum cidadão que tantos impostos paga, se deve sentir insultado com tal desleixo.

Será que os responsáveis andam mesmo distraídos? A desligarem-se das responsabilidades desta forma!

Bem sabemos que não nos encontramos em eleições, mas elas vão-se aproximando e temos esperança que as pessoas no momento próprio saibam valorizar o que sobrou de bom e não o que foi feito à última da hora para pescar mais alguns votos.

Não podemos esquecer que estamos em situação pandémica. As despesas estão todas fora do contexto económico, mas se agravarmos esses problemas com mais desgraças e prejuízos, estamos a precipitar o bom que ainda possuímos num abismo quase sem retorno.

Devemos lembrar-nos que chegou uma nova forma de estar na vida e na economia.

A sustentabilidade não é possível se continuarmos em desacordo com a natureza. Mais grave ainda é quando a própria economia depende da conservação daquilo que possuimos. Não esqueçam! O nosso grande “Bum” turístico deveu-se naturalmente ao país e às pessoas que temos.

Não foram as multinacionais nem os investimentos internacionais que nos ofereceram este clima e esta capacidade de trabalho que possuímos.

Senhores políticos, não será melhor tentarem governar de forma mais organizada e em função dos cidadãos?

Por favor!…

Organizem-se!

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