Editorial

Poemas e janelas fechadas!
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Nadir Faria

Nadir Faria

Cooperante

 

Sempre procuro na poesia o que gostaria de ter escrito e não soube. Sempre costumo encontrar! Também, sempre gostei de janelas (de preferência, abertas)!

Também, sobre isso, encontrei palavras (já) escritas: Sempre me encantaram as janelas. Porque fechadas ocultam a intimidade de um quarto, de uma casa. Porque ali se aninham sonhos, se enxugaram lágrimas, se encostaram lábios que embaciam vidros em resultado das muitas esperas (…)”. Vivemos num apartamento, num condomínio “Casa para todos”. Há muitas janelas. Têm cortinas de muitas cores e, muitas delas, vasos de catos nos seus parapeitos. A nossa também – dois pequenos catos espinhosos! Dois pequenos catos que aguardam companhia. Espera-se que chegue depois de passar o período de isolamento social.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Nas várias janelas, as cortinas, ao contrário do que gosto, estão fechadas. Ao contrário do que gosto, as nossas, a maioria do tempo, também! Normalmente, somos três. Ao contrário do que seria expectável num período de isolamento social, passámos a ser cinco. Cinco, nove e doze anos – a idade das crianças. São elas que “exigem” o fecho das cortinas. Consigo-as demover de quando em vez – quando estamos a estudar, por exemplo, sou eu quem exige a sua abertura!

Hoje, foi dia de cantar parabéns! Apesar de todas as circunstâncias, mas especialmente nestas, é preciso celebrar a vida! Diz a tradição que é necessário um bolo… Como estamos em contenção de energia – visto termos um sistema de pré-pagamento, e ser suposto ficarmos em casa, não tendo a certeza de quando o podemos carregar, optou-se por uma cheesecake fria, adaptando a tradição. Foi feita com base de cereais de milho e queijo fresco da ilha do Fogo que, por sorte, congelara antes de iniciarmos o período de isolamento.

O dia foi um alvoroço de telefonemas, videochamadas, pinturas para dar de presente ao aniversariante, birras… Na hora de cantar e cortar o não bolo, mais confusão! A fotografia em que nem todos queriam participar mas que faz parte. A birra de quem dizia não querer cantar. A disputa por quem tinha direito à primeira fatia. As crianças a dizerem que estavam a tomar leite com cereais numa grande risota – já que foi a primeira vez que experimentaram um não bolo como aquele. E mais uma confusão a pedirem uma segunda fatia. Tudo de cortinas fechadas!

Imagino que, os vizinhos, através das cortinas fechadas, tenham podido imaginar parte deste alvoroço. Só não imagino que poema escreveram!

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