Policialmente – O 13 de Novembro


Vitor Bandeira


(Inspector-Chefe aposentado da Polícia Judiciária)



O 13 DE NOVEMBRO


Numa das nossas últimas colunas de opinião http://www.minhodigital.com/news/refugiados-sim-ou-n%C3%A3o , abordámos o tema dos Refugiados e nele relacionávamos a vulnerabilidade da Europa com a sua vinda em massa, pondo em destaque a ineficiência da colaboração e coordenação dos diversos serviços secretos da Europa, os quais se mostravam impotentes para travar actos terroristas de grande impacto.


Sabia-se que e corria a notícia, entre as forças de segurança envolvidas, de que um ‘acto espectacular’ estaria para ocorrer na Europa. Corria a informação de que nos últimos 15 dias tinham ocorrido 17 intervenções das forças de segurança que teriam levado ao desmantelamento de acções semelhantes.


Sabia-se que este perigo eminente não viria destes refugiados, mas de cidadãos europeus colaboracionistas de organizações terroristas que, após treino adequado em território inimigo, regressavam ao país de origem com o objectivo da prática de actos terroristas.


Hoje são milhares os referenciados pelas autoridades dos vários países europeus!


A tragédia que ocorreu no passado dia 13 de Novembro de 2015, era inevitável. Este não foi possível prever, foi planeado e executado ao pormenor. Não tenhamos dúvidas: estávamos na presença de um “comando” suicida.


Este acto horrendo foi praticado por operacionais do denominado Estado Islâmico e do mesmo modo que até aqui relacionávamos estes actos com a data do 11 de Setembro, começa agora a ouvir-se a expressão 13 de Novembro, prenúncio da memória futura daquele dia em que morreram 129 pessoas.  


Armaram-nos uma guerra, é um facto. Também é inquestionável que há que ir lá onde eles estão e destruir-lhes as bases de forma a parar esse poder terrorista. Mas, mais ainda do que bombardeamentos, são necessários 007 que saibam infiltrar-se no inimigo, antecipar as acções terroristas em preparação e desmontar a cadeia do terrorismo. Esta é uma cadeia com muitos elos e demasiadas ambiguidades.


Esta guerra tem no lado inimigo, para além dos soldados, os guerrilheiros urbanos, ‘adormecidos’, que são matadores à espera de ordem para atacar, e que estão no meio de nós. A monstruosa chacina da noite de 13 de Novembro está a mostrar como o bairro de Molenbeek, em Bruxelas (fica a uns minutos da Grand Place), aparece como um viveiro de terroristas. É um bairro que tem quarteirões tranquilos e outros com má reputação, droga, delinquência, islamismo radical, que não é seguro percorrer. Vivem hoje em Molenbeek umas 100 mil pessoas, grande parte formada por segundas e terceiras gerações de emigrantes de África e do Médio Oriente. A taxa de desemprego está acima dos 30%, sendo que ultrapassa os 40% para os jovens. É gente que vive no limbo, estigmatizada.


Sabe-se que há ali, camufladas, várias mesquitas com imãs fanáticos que alimentam a propaganda contra o modo de vida dos europeus, a quem chamam cruzados. São imãs fundamentalistas que facilitam nesses santuários o recrutamento dos que são educados para nos destruir, inclusive através do sacrifício kamikaze. Não esqueçamos que muitos comunicados dos “EI” terminam com a proclamação “vocês vão perder porque nós amamos a morte mais do que vocês amam a vida”. Progressivamente, o espaço público, em França como na Bélgica e em Inglaterra, foi sendo ocupado por franjas do Islão em deriva sectária, gente que foi puxada para um modelo de sociedade ao mesmo tempo retrógrado e violento.


Fica evidente que a par da chamada intelligence, espécie de 007 infiltrados entre os que estão em deriva radical no meio de nós, é vital, para responder a este muito complexo desafio, a ação política e cultural. Não só para explorar hipóteses eficientes de integração e convivência mas também para valorização do nosso agora tão desqualificado sistema democrático.


A desvalorização quotidiana da vida política, aqui como em quase toda a Europa, é destrutiva. Faz o jogo do inimigo. Falta-nos quem apareça com audácia à altura das aspirações – é uma queixa que todos repetimos. Bem andou o presidente François Hollande ao proclamar, ontem, no discurso de resistência e de guerra perante o Congresso, em Versalhes, que nas atuais circunstâncias “le pacte de sécurité l’ emporte sur le pacte de stabilité”, ou seja: o pacto de segurança dos cidadãos sobrepõe-se ao pacto europeu de estabilidade. Aí está uma recomendação essencial aos dirigentes políticos europeus: quando estamos, como está assumido, em estado de guerra, os apertados constrangimentos impostos às finanças públicas dos países europeus não podem ser a prioridade. Estamos perante conflitos até aqui desconhecidos, é preciso que haja a sabedoria para alargar a malha nos orçamentos, e com sensatez viabilizar os recursos necessários. Que a Europa aprenda a ser, de facto, uma união, solidária.


Meteram-nos numa guerra que é, ao mesmo tempo, militar, cultural, teológica, ideológica, psicológica e económica. Evidentemente, como tantos especialistas têm repetido, é preciso fazer rebentar os fluxos financeiros que alimentam os vários anéis da cadeia do terrorismo. Fechar-lhes a torneira do dinheiro do petróleo e bloquear o circuito do armamento. Quantos dos investidores nos mercados financeiros internacionais serão também financiadores deste terrorismo?


Também é uma guerra de propaganda. Os terroristas do “EI” dominam com eficiência um vasto território virtual na internet. Usam fortemente a liberdade das redes sociais para fazer campanha contra a liberdade. Como se faz a contrainsurreição? Anonymous promete meter-se na primeira linha.


O que temos pela frente é uma guerra longa perante um inimigo que está numa lógica política com vista ao nosso extermínio. E é de prever que o necessário combate iniciado aos terroristas que ocuparam o vazio no Iraque e na Síria e ali montaram bases para o alargamento do califado do terror vá exacerbar os jiadistas que estão entre nós.


É precisa vontade optimista para enfrentar a imprevisibilidade de um quadro geral que, tal como está, puxa para o pessimismo.


E ACABAMOS DIZENDO:


Um só infiltrado entre centenas de milhares de refugiados sírios não pode ser argumento para que a Europa renuncie à sua matriz de terra generosa de acolhimento. Já havia muitos europeus a clamarem que é levantando muros e fechando fronteiras que se estanca a ofensiva dos terroristas. Um passaporte sírio, afinal falso, em um dos kamikaze de Paris e a revelação de que ele passou pela Grécia a declarar-se refugiado está a servir de munição para esses que querem barricar-nos. Como recomenda o ex primeiro ministro centrista italiano Enrico Letta,  não nos enganemos sobre quem são os inimigos: os refugiados são vítimas dos terroristas, não são os terroristas!


 


 

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