Editorial

Poliglotas

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Joaquim Letria

Os espanhóis patrioticamente falam mal qualquer língua. Nós, pelo contrário, falamos menos mal qualquer idioma. w

Somos uns poliglotas. Para além de falarmos com os estrangeiros, dizemos palavras que passámos a usar entre nós para nos dar estatuto e importância. Deixámos de andar ou de correr e passámos a fazer footing ou jogging, abandonámos a prancha e a vela para praticarmos sailing ou windsurfing, reunimo-nos em meetings, discutimos os problemas em brainstorming, trocámos os exames, os pontos e chamadas para nos dedicarmos aos tests e deixámos de usar pranchas de andar ao sabor das ondas para praticarmos planning.

Nas empresas deixámos de despedir gente ou de reduzir despesas para nos entregarmos ao downsizing, recorremos a colaboradores externos fazendo o outsourcing e as referências de níveis passaram a ser super-in e benchmarking.

Aquilo que eu gostava de fazer em Los Roques, Venezuela, ou em Cayo Largo, Cuba, que era pôr uns óculos de mergulho e um tubo respirador para, durante horas, dar devagar às barbatanas a ver os peixinhos coloridos por baixo de mim, passou a ser uma nobre actividade que dá pelo pomposo nome de snorkling.

Snorkling não é para qualquer um. Ainda antes de estarmos fechados em casa ou a morrermos como tordos com a gaita do coronavírus encontrei, numa recepção, uma bronzeadíssima amiga minha a quem perguntei a que se devia aquele bronze invejável, julgando que regressara do Rio ou da neve espanhola e ela disse-me que estivera com o personal trainer dela a fazer snorkling no Mar Vermelho.

Eu ignorava as virtudes do Mar Vermelho para o snorkling, mas a minha amiga jurou-me que o Mar Vermelho para o snorkling é superalucinante. Agarrei num copo de vodka com sumo de laranja, que crismámos de screwdriver, e fui à vida, a pensar no Mar Vermelho. Quero eu  dizer  fui worlding.

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Logo encontrei outra conhecida minha, muito simpática aliás, que é copy numa agência de publicidade que me confessou que odiava o snorkling mas adorava o diving, que praticava nos Açores e no Mar Vermelho. Fiquei intrigadíssimo. Tomara dois banhos no Mar Vermelho em toda a minha vida e só achei que a temperatura era boa.

Este awfull CORONA VIRUS está a fazer diminuir as minhas actividades de counselling, teaching e writing. A verdade é que falamos línguas à brava e de nada serviu os meus queridos directores do Diário de Lisboa me gritarem que “assassinato era um galicismo, na nossa língua escreve-se assassínio!”.

Coitados deles se cá estivessem a ler os nossos jornais e a ver e ouvir as nossas rádio e TV…Tinham um stroke…

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