Editorial

POLÍTICOS PANDÉMICOS
Manso Preto

Manso Preto

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Director / Editor

Cedo comecei a sonhar e a ter pena do meu país. Aprendi que lá longe havia outros sem medo nem miséria, de leis justas, menos desigualdade, menos desespero, os seus cidadãos e governantes mais interessados no futuro do que em glórias passadas, em interesses ocultos e sombrios. Mais interessados na Causa Pública que em desperdícios e atentados contra os fundos do erário público.

 

Além fronteiras não havia paraísos, mas sociedades onde a esperança de melhoria era um facto, a desigualdade menos gritante, a repressão inexistente, os direitos intocáveis, a Liberdade um direito sagrado. Fui vendo, estudando, comparando, e continuei a ter pena da terra onde cresci.

 

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Passaram os anos. Sentindo mais profunda a pena, vi o meu país de mão estendida. Com espanto vi-o a esbanjar o que não tinha, governantes e governados dando o espectáculo da mais incrível pelintrice, de uma inconsciência que só dos pobres de espírito se espera, tomando por realidade outro país que não este.

 

Sonho com o conforto de uma sociedade rica, justa, bem organizada. Sofro com a desgraça daquela em que nasci, procuro resistir, mas nem por isso me dói menos o esfregar sal na ferida.

 

Curioso povo, o meu, onde gente supostamente séria e competente enrouquece a gritar com ‘tiradas’ que atentam contra os Direitos Humanos, a propriedade privada, em nome de supostas estéticas que, como se sabe, são passageiras, de modas, temporárias. O que os move? Para que fingem? Com que fim iludem? Rosnam porque têm numa mão a faca e o queijo, e na outra a corda com que insistem em enforcar os mais velhos, asfixiá-los, privando-os dos seus direitos, de água, electricidade e gás, mas até disso o povo depressa se esquece…

 

Com tristeza o digo e consolo não sinto: na minha idade é nula a esperança que tenho de ver Portugal sair do atoleiro e da miséria. Resta-me o sonho de que os que agora são jovens, e os que vierem, construam um país de que se possam orgulhar e não lhes doa como este a mim dói.

 

Assim nos vamos enganando e desenganando, aos saltos, aos trambolhões, cai aqui pára além, ora crentes, depois desiludidos, aflitos e desesperados, medrosos, evitando olhar para o que fica, querendo amanhãs que nunca chegam, polindo a memória até que nela só reste o que brilha.

 

Resta-nos a parte espiritual, a Fé, mas até essa me abala perante o silêncio que diria cúmplice por omissão do Pastor do rebanho de que faço parte. Tão pouco adiantam os sermões e os beijos às criancinhas, perante a imagem seráfica e confrangedora do político beato que não arreda pé da proximidade das vestes clericais. Por que é que o que poderia ter sido não foi, e o que poderia ter tido não teve, o que julgava receber não lhe foi dado?

 

Ficam as suas circunstâncias e de um dia-a-dia que pouco espaço deixa para sentimentos elevados, contentando-se com aparências ou, no melhor, refinando o fingimento numa compulsiva hipocrisia.

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