Editorial

Pouca Vergonha
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Imaginem os meus queridos leitores e leitoras que o nosso estimado director José Luís Manso Preto me telefonava ou escrevia a proibir-me de escrever aqui no Minho Digital a palavra “boa” ou alguma outra com o mesmo significado.

Ele pode fazê-lo, não creio que tal decisão, assim comunicada a um colaborador, seja censura. Agora, é sem dúvida um acto de policiamento da língua e de repressão da palavra. Posso não escrever “Boas Festas”, mas também não as posso substituir por “Bom Natal”. Sou obrigado a reformular a frase. Se o fizer, posso desejar um “Feliz Natal” ou “Festas Felizes” que é a mesma coisa por outras palavras. E tal coisa já seria permitida, não desrespeitando a democracia, embora violando a liberdade de expressão.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Fazer isto – que sugiro ao Director que o faça – tornaria o nosso acto de escrita muito mais interessante e a leitura do jornal muito mais excitante para o nosso respeitável público. Escrever e ler este jornal podia assim ser um jogo de grande entretenimento para quem o escreve e para quem o lê, para além das interessantes matérias que sempre publica.

O Director só tinha que anunciar no jornal “a palavra hoje proibida é vergonha”, por exemplo, depois de nos ter avisado antes de escrevermos. Quem violasse a ordem pagava uma multa e o total das multas podia converter-se num prémio a sortear pelos leitores. Como vêm, o Minho Digital ficava muito mais divertido.

Cheguei a esta ideia sem mérito próprio, apenas graças ao nosso querido Presidente da Assembleia da República, Dr. Ferro Rodrigues, que repreendeu o deputado do “Chega” André Ventura por este pronunciar demasiadas vezes, segundo o Presidente da Assembleia, a palavra “vergonha”. Pelo raspanete podemos concluir que “vergonha” é uma palavra que desagrada a Ferro Rodrigues e, no seu entender, não dignifica o Parlamento.

Não quer isto dizer mais do que aqui se regista. Seria abusivo considerar que Ferro Rodrigues não tem vergonha e que deseja que tal sentimento não … envergonhe o Parlamento. Na minha modesta opinião, o que Ferro apenas deseja é que André Ventura modere a linguagem e não contribua para que a Assembleia da República tenha mais do que aquilo que sempre teve, que foi… pouca vergonha.

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