Compre já a nova edição do livro MINHO CONNECTION

Pré-publicação do livro sobre empresário de Cardielos raptado e assassinado em Braga

Aquele que já se antevê como o julgamento do ano começará na próxima quinta-feira, 1 de Junho, no Porto, relacionado com o rapto e assassínio do empresário da construção civil João Paulo de Araújo Fernandes, de Cardielos, Viana do Castelo. João Paulo, filho do empreiteiro Fernando Martins Fernandes, da construtora Fernando M Fernandes, foi sequestrado em Braga e estrangulado em Valongo, em Março do ano passado, através de um método mafioso e inédito em Portugal, mas inspirado na Cosa Nostra, a “shotgun branca”, que consiste em, após o crime, fazer desaparecer o cadáver em ácido sulfúrico.

A propósito, sairá nos próximos dias, por ocasião do início do julgamento, a decorrer no Tribunal de São João Novo, um livro só sobre o caso, intitulado “Bourbons e Bruxo – Crime Bárbaro e Inédito em Portugal”, da autoria do jornalista Joaquim Gomes, editado por EdiçõesPinto Edições. O prefácio é do juiz aposentado Vítor de Azevedo Soares, de Paredes de Coura, que ainda antes da judicatura foi advogado em Valença do Minho.

O autor da obra, Joaquim Gomes, tem 51 anos, é jornalista há 33 anos, sendo natural do Porto e residindo em Braga. É free-lancer, trabalhando para vários jornais e revistas, principalmente sobre assuntos criminais. Já publicou “Os Mistérios do Estripador de Lisboa” (2012 – Chiado Editora) e “Face Oculta com Rostos” (2014 – Rui Costa Pinto Edições), encontrando-se como trabalhador-estudante a frequentar o curso de Direito na Universidade do Minho, em Braga.

PUB

O Minho Digital , Semanário do Alto Minho, publica, em baixo, um capítulo integral daquele livro.

 

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Empresário assassinado era natural de Cardielos, Viana do Castelo

PUB

Apresentação dos suspeitos no Tribunal Judicial de Braga

EMIGRADO EM FRANÇA

PUB

 

João Paulo de Araújo Fernandes, nascido no ano da Revolução dos Cravos, em 1974, tinha 41 anos. Emigrou para França, depois do seu divórcio. Mas como não aguentava as saudades da sua única filha, então com oito anos, de 15 em 15 dias passava sempre os fins-de-semana com a criança, na cidade de Braga, onde a menina residia com a mãe.

Paulo “Aéreo”, como os amigos o tratavam carinhosamente, tinha chegado à cidade dos arcebispos na noite de 10 de Março de 2016, uma quinta-feira, estando previsto que iria regressar a Paris na segunda-feira seguinte, dia 14, ao final da tarde. Sexta-feira, dia 11, tinha ido buscar a filha, quando foi vítima de uma emboscada à frente da própria criança.

Natural de Viana do Castelo, da freguesia de Cardielos, a terra de Manuela Machado, campeã mundial de maratona, há dois anos que João Paulo se remetera ao seu “exílio”, em Paris, trabalhando na sua actividade de sempre, empresário da construção civil, na especialidade de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado), área cada vez mais requisitada nos grandes empreendimentos, quer públicos, quer privados.

PUB

Com o irmão, Luís Miguel, a operar em Bordéus, João Paulo permanecia nos escritórios de Paris da sua nova empresa – “Aclipo” –, já depois do divórcio, decretado em Dezembro de 2012, no Tribunal de Família e Menores de Braga, por alegada «incompatibilização de personalidades» com a sua mulher, “Tita”, que detinha a guarda permanente da filha.

Filho do construtor civil Fernando Martins Fernandes, muito conhecido no Norte, João Paulo seguiu as pisadas do pai, que detinha um império de bens imobiliários, um “pé-de-meia” constituído por cerca de duas dezenas de imóveis, no valor de €2.000.000, despertando uma cobiça tão grande que, segundo tudo indica, causou o crime que abalou Portugal.

A família Fernandes entrou em declínio, com a crise económica global e o “crash” da construção civil, mas ainda mantinha vários imóveis – Braga, Vila Verde, Viana do Castelo e Albufeira –, os “anéis” de toda uma vida de trabalho desde a infância do patriarca, Fernando Martins Fernandes. Só que as dívidas das suas duas empresas, a – “Fernando M. Fernandes” e “InMetro” –, já atingiam os €300.000. A ideia terá sido, face às acções judiciais iminentes, de credores e de trabalhadores, colocar fora do alcance tais bens.

João Paulo, amigo de longa data de Pedro Bourbon, a ponto de terem ido ao casamento um do outro, indicou o advogado aos pais, como sendo o jurista ideal para colocar os bens a salvo.

Em 2010, Fernando Martins Fernandes, acompanhado pela mulher, Maria das Dores Fernandes, encarregaram Pedro Bourbon – conforme viriam a assumir já mais tarde à PJ – de «esconder» o seu património imobiliário.

Os tempos não eram fáceis, também em Braga, com vindictas privadas, entre os donos das grandes construtoras e as suas legiões de subempreiteiros, cujo caso de mais impacto foi o de um empreiteiro ligado aos Fernandes ter sido alvo de “espera” no Aeroporto do Porto, quando se preparava para embarcar rumo a Moçambique, tendo-lhe sido partido ambas as pernas, com múltiplas agressões de pequenos mestres-de-obras que teriam falido «por causa dele».

Os Fernandes chegaram a fugir para a Madeira, onde viveram cerca de um ano em casa da filha, com receio de eventuais represálias dos credores, quando estes se aperceberam que os bens teriam sido “dissimulados”.

É que com a compra da “Monahome”, a par de artifícios jurídicos e de negócios simulados pelo próprio casal Fernandes, com “testas-de-ferro”, entre os quais Emanuel Paulino, os bens ficaram na mão de Pedro Bourbon. Em troca, o advogado terá passado a cobrar €3.000 mensais de honorários, gerindo as rendas dos imóveis do casal Fernandes e entregando tais quantias ao casal de septuagenários, o que, segundo os empreiteiros, deixou de ocorrer em 2013, ao mesmo tempo que foram vendidas três das suas melhores casas e sem o seu prévio conhecimento.

As sucessivas reuniões no escritório de Pedro Bourbon de nada valeram. O patriarca dos Fernandes, como também o seu amigo de longo data, José Luís Pardal, que lhe havia dado o alerta, como o próprio septuagenário reconheceu, chegaram mesmo a ser expulsos do escritório do advogado.

Por isso mesmo, logo na noite do sequestro do filho, Fernando Martins Fernandes, em estado de choque, ao entrar para uma ambulância do INEM, a caminho do Hospital de Braga, gritou, alto e bom som, que os responsáveis pela emboscada seriam Pedro Bourbon e o bruxo da Areosa. A crer nas investigações da PJ e do MP, não se terá enganado, muito pelo contrário.

Nessa noite foram accionados para o local vários inspectores do Serviço de Prevenção do Piquete na Directoria do Norte e da Secção Regional de Combate ao Terrorismo e ao Banditismo, da Unidade Nacional de Contra Terrorismo, com o apoio da PJ/Braga, que nas primeiras horas fez peritagens no computador portátil de João Paulo.

PUB
  Partilhar este artigo
Nuvem do Minho
  Partilhar este artigo
PUB
📌 Mais de Viana
PUB

Junte-se a nós todas as semanas