Há pelo menos trinta anos que este assunto (falta de médicos) devia de ter sido levado a sério, com boa gestão profissional governativa e não como um acto meramente político.
Hoje não estaríamos a falar da falta destes profissionais, pelo menos com tanta premência. Só que os governos não agem como empresas, agem por impulsos mediáticos, por promessas eleitorais e com imensa negligência e muita falta de bom-senso.
Por outro lado o Estado tem imensa dificuldade em perder monopólios, mesmo que estes lhes sejam prejudiciais.
Por essa altura, pelo país, proliferavam Universidades privadas que, suprimiram a escassez no acesso a muitos cursos universitários a que as Universidades públicas não tinham capacidade de resposta. Elas substituíram o Estado que não soube modernizar-se e dar resposta.
Houve, muita hesitação na homologação de alguns cursos, muitos obstáculos, mas elas estão aí sujeitas ao único regulador imparcial que é o mercado, para além das autoridades que supervisionam os mesmos.
Mas conseguiram, excepto em medicina.
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Desde então que, milhares de enfermeiros e outros profissionais nas mais diversas áreas da saúde, têm sido formados por Universidades privadas, sem que ninguém questione a sua qualidade e competência.
Será que alguém, quando está a ser atendido (?) pergunta, ou questiona, a algum destes profissionais, licenciados nestas instituições privadas – e que, para além de enfermeiros, são advogados, arquitectos, engenheiros, solicitadores, psicólogos, fisioterapeutas, etc, etc, onde se formaram?
Mas, o mas, continua a existir, sempre que se fala em autorizar a formação de médicos. Bem sei que outras corporações, se pudessem faziam todas o mesmo. Falta-lhes força desmesurada que a Ordem dos Médicos (OM) tem.
O escritor Heinz Konsalik escreveu que: “os médicos são a maior máfia do Mundo”. E ele estudou medicina, sabia do que falava?
A Ordem dos Médicos, que nós não escolhemos nem elegemos, manda mais que qualquer governo eleito democraticamente. Manda e decide, com o único critério de acesso ao curso, (notas altíssimas) que é um perfeito disparate em termos e desigualdade concorrencial, a quem pretende entrar para medicina.
Até nesta área os privilegiados da vida, aqueles a que os pais podem pagar altas propinas mensais, para que eles tenham um percurso escolar feito à medida, em colégios privados, tem sorte. Pelo meio perdem-se todos os outros, grandes vocações, que podiam ser bons médicos, tantas vezes postergados por umas décimas.
Há alguns que vão estudar para países da Europa onde a nota de acesso, é mais baixa e os pais podem custear as despesas. É dinheiro que sai do país.
Ter uma nota de excelência não garantia nenhuma que vá ser um bom médico, como bem se sabe.
A OM tudo tem feito para que a sua classe continue privilegiada, não sofra a concorrência, salutar, que os demais profissionais têm, e vão sistematicamente desautorizando e impedindo que aqueles que concorrem à abertura de cursos de medicina, nunca sejam autorizados.
A excepção, pequena, foi para a Universidade Católica, recentemente, e que forma algumas dezenas de alunos.
Os governantes vão dizendo que as Ordens têm poder a mais, até que chegamos a este ponto.
Atiram-nos com números, com estatísticas, para não perderem a face, como quem atira areia para os olhos, mas a realidade está aí, é indesmentível. Não há médicos suficientes e este é um problema que não se resolve depressa.
Ora nem todos os médicos que se se formam anualmente, trabalham para o Estado. Há aqueles que seguem a docência, ou as várias especializações, a investigação, o trabalho em hospitais privados e a emigração, entre outros.
Dizer que não faz falta mais médicos é o mesmo que dizer que não faz falta mais habitação.
(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).
2 comentários
Um verdadeiro absurdo um país europeu faltar médicos.
Sim à primeira vista parece coisa rara mas não é. Não é um problema exclusivo de Portugal, mas é neste país que u vivi e pago impostos.
Muito obrigado Ivana Duarte.