Primícias Literárias: Lago

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Daniel Jorge

Estudante

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O lago era pequeno, mas grandioso, isto no olhar do pequeno Luís.

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O seu rosto e as árvores do espaço imenso cercado que o rodeava na propriedade dos seus pais eram perfeitamente refletidas naquela pureza delicada. O lago, do tamanho do sol que observava todos os dias sem ferir os olhos, tinha um tamanho confortável para o pequeno Luís observar e cuidar. Casa de peixes, cada um com um nome pelas suas características, era local de paz, solidão, sem a presença da ação de qualquer humano, exceto a do pequeno. 

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Correu para casa. Cumprimentou a mãe, que tinha acabado de chegar do trabalho, juntamente com o pai.  

– Meu filho – disse ele enquanto o pegava para o levar às cavalitas – Como foram as aulas? 

– Foram boas. A professora é divertida e explica muito bem. 

– Excelente. 

E pensou: «Depois do lastimável acontecimento com o outro professor, de certeza que ele terá dificuldades em perceber incidentes do mesmo tipo». 

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O pai deixou-o no chão depois de o fazer voar no apoio das suas costas limpas. Tinha a mesma máscara de sempre que usava ao chegar a casa, com dois grandes círculos nos olhos e um cilindro no espaço bocal, que ele não sabia o que era. 

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Voltou ao lago, onde anotava na sua letra de criança o que via, dando nomes, descrições e desenhos a cada elemento novo. 

Luís cresceu, estava mais velho, e o lago dele maior. Tinha encontrado forma de o alargar através de plantas que, colocadas num espaço de terra durante algum tempo, acabavam por criar em volta delas uma poça funda. E a paixão do rapaz continuava no seu estado de sempre, em anos de real utopia. 

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Luís alargou não só física, mas mentalmente. Era extremamente curioso, tinha sempre as mais altas avaliações e observações dos professores que o ensinavam. E esta mesma curiosidade fazia-o inquieto. Queria saber o porquê dos professores irem embora por razões que o pai respondia sempre de forma vaga, e não compreendia o uso da máscara do mesmo. 

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Um dia, por ter um certo medo de questionar o seu pai, foi perguntar à mãe o porquê das máscaras, que ela própria também usava. 

– É para podermos viver sem ficar doentes. 

Sentiu que havia verdade nas palavras da mãe, mas isso não acabou com a dúvida. Na sua perfeita inocência, pediu à mãe para ir trabalhar sem máscara. Ela assim o fez, coisa que o fez ter ainda mais dúvidas. Depois desse dia, nunca mais voltou a casa. 

Luís já é adulto. O lago ocupava um espaço cada vez maior. O pai, velho, mas ativo, chamou-o: 

– Vamos sair. Pega na máscara. 

Habituado a seguir ordens, obedeceu ao pedido do pai, ainda que com uma nova fonte de pensamentos na mente. A porta por onde saíram de casa não era a principal, mas uma das traseiras, que dava para uma varanda. 

Via mal com a máscara, naquela respiração abafada, mas ainda assim conseguiu ver que estava a uma altitude muito elevada. O sol estava completamente encoberto por nuvens de um tom verde, e por isso mesmo era invisível, assim pensava Luís. 

– Observa! É o teu mundo, o que deixamos! 

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Apontou para um oceano sem fim, o maior de todos os lagos que ele alguma vez vira. Porém não era como o seu lago. Era escuro, com massas flutuantes de lixo a caminhar nas ondas, peixes mortos, e sentiu um cheiro nauseabundo.

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Luís sabia que mundo não era uma utopia como o seu lago. As palavras para os problemas ambientais nunca tiveram atitudes válidas. E como podia imaginar, assim, o futuro? Sorriu… 

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