Editorial

Procurar o futuro…
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Nadir Faria

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Nadir Faria

 

Sempre ouvi dizer que deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer. Também ouvia um amigo dizer que deitar cedo e cedo erguer dá sono o dia inteiro… Concordo um pouco com ambas!

Mas uma das vantagens de acordar cedo é acompanhar o despertar do dia. E o despertar em Bafatá nesta altura é muito colorido – quer pela cor da terra, quer pelo verde que ainda remanesce da época da chuva, quer pelos panos que compõem os vestidos das senhoras, quer pelas crianças que vão para a escola.

Na Guiné-Bissau há vários tipos de escolas, entre os quais: (i) públicas – que são geridas pelo Estado; (ii) privadas – muitas vezes ligadas a missões; (iii) comunitárias – da colaboração entre a comunidade, o Estado e, muitas vezes, organizações da sociedade civil e (iv) madrassas – ligadas à religião islâmica. Sem ter presentes números, tenho a perceção de que a maioria das crianças e jovens não frequenta o ensino público, por este não estar preparado para receber todas as crianças e jovens em idade escolar nem lhes oferecer a garantia, por exemplo, de que o ano letivo vai ser levado a bom porto.

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Como o número de alunos é elevado as aulas funcionam para parte dos alunos no período da manhã e para parte dos alunos no período da tarde!

Se acordarmos cedo, e sairmos à rua, além de uniformes e batas de diferentes cores, de acordo com o ano escolar, encontramo-nos com cabeças também coloridas, mochilas coloridas e cantis coloridos. As cabeças das meninas são adornadas com missangas ou conchas que lhes colocam no final das tranças. As dos meninos normalmente estão rapadas e, como tal, não tão coloridas.

As cabeças coloridas e as menos coloridas, deslocam-se em grupo. Ora acompanhas por adultos ora não. As cabeças coloridas e as menos coloridas, fazem notar a sua passagem, ora com estórias em voz elevada, ora com gargalhadas, ora com discussões. As menos coloridas, muitas vezes, “amontoam-se” numa bicicleta que sempre me parece demasiado grande para quem a conduz. Mas a mestria dessas cabeças é tal que não há bicicletas demasiado grandes nem (quase) lugares limitados. Uma bicicleta, um selim, várias cabeças…   

As cabeças coloridas e as menos coloridas apesar de terem horas para chegar, não têm horas para chegar. Na maior parte das vezes não há um adulto a orientá-las e, por isso, independentemente da hora a que eu saia de casa para o trabalho (entre as 7h00 e as 8h30 – dependendo da agenda), encontro cabeças coloridas, mochilas coloridas…

Estas cabeças procuram o futuro. Algumas mais conscientes disso, outras menos. Algumas melhor orientadas, outras menos. De qualquer forma, todas as cabeças coloridas e todas as menos coloridas sabem que devem ir à escola. Sabem que a escola é importante. Não sei se sabem porquê.

Sempre ouvi dizer que a educação tem o poder de transformar o mundo. Acredito nisso.

Para as cabeças coloridas e para as menos coloridas desejo que o presente delas seja cada vez menos débil para que o futuro seja cada vez mais forte.

Desejo que encontrem o futuro.

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