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Dina Matos Ferreira
Consultora e Professora Universitária
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Um dos enigmas do nosso país tem a ver com a ausência de relação entre produtividade e qualificação. A regra diz que uma maior produtividade corresponde a uma maior qualificação: as pessoas mais qualificadas produzem mais. Em Portugal isso não acontece.
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Um estudo da FFMS acabado de publicar (cuja leitura é muito recomendável) vem confirmar essa estranha realidade portuguesa: em 2000 havia 9% de licenciados e, no ano de 2020, há 30% de licenciados. No entanto, esse aumento de qualificação no mercado de trabalho não se refletiu no aumento da produtividade, sendo Portugal o 7º país da EU que gera menos riqueza por cada hora de trabalho (ver aqui).
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Em busca dos porquês deparamo-nos com empresas|instituições presas a metodologias obsoletas e a um elevado nível de rotinização.
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Encerradas em tarefas rotineiras, das quais aparentemente não conseguem sair, as pessoas perdem a capacidade de inovar, de crescer e de fazer crescer. Sem mais horizonte do que o de uma cadeia previsível (e estática) de trabalho, com poucas ou nenhumas alternativas, submetem-se a essa dura sina de aguentar a rotina sem lhe acrescentar valor, por ausência de possibilidade.
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Porque as maiores qualificações levam as pessoas a gerar processos eficientes, a acabar com a obsolescência, a simplificar procedimentos, a inovar, a crescer pessoalmente e a fazer crescer as suas equipas e comunidades. A consequência é o aumento da produtividade e, desta, o aumento da riqueza.
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É, pois, descabido, manter-se o foco a jusante, na dura realidade de sermos o país da Europa ocidental com os salários mais baixos (ver aqui), quando não se olha o que se passa a montante, na baixa produtividade que, se fosse alta, resolveria a questão salarial.
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Nem podemos achar que, subindo os ordenados por decreto, se altera a situação de base: um paternalismo endémico que alastra e teima em permanecer, sufocando os recursos e não lhes permitindo brilhar e fazer crescer.
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Este não é um problema apenas económico, é um problema ontológico que é preciso superar, pessoal e coletivamente. Todos somos parte deste processo, do qual não nos podemos demitir, sob pena de não nos cumprirmos como pessoas.
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Todos os dias podemos e devemos questionar-nos se no que fazemos deixamos rasto, o rasto do melhor de nós, onde quer que estejamos. O melhor de nós é sempre criativo, gera soluções e paz social, ainda que em pequenos passos. Não deixemos de os dar.