Quando a crise também é de qualidade

João Martinho

Feiras com muito tecido…e “pouca roupa”
É comum assistir, por parte de gente que vende nas feiras de todo o país (e não fossem eles juntar-se às restantes vozes sintomáticas!), de que o comercio é uma das vítimas da crise que a mais curto prazo se fez sentir. Apoiando-nos em observações ou depoimentos, facilmente concluiremos que nem sempre a fuga dos compradores diz respeito à falta de dinheiro.

Noutros tempos, a ruralidade das terras era uma realidade nacional e as feiras eram o esgar de vida urbana pelo qual muitos trabalhadores agrícolas e de sectores terciários aguardavam para renovar guarda-roupas, comprar alfaias agrícolas, etc.
Num salto do passado para o futuro, operado em pouco mais de três décadas, as necessidades dos povos foram mudando, a rede viária aproximou pessoas e conhecimentos e deu outra noção de espaço e consciência aos indivíduos.
No entanto, quem vende nas feiras (nas minhotas em particular) parece querer fazer perdurar a imagem de que esta mudanças não aconteceram e continuar com a mesma ideologia de venda. É a esses que convirá fazer chegar as preocupações da população de hoje. Quem hoje compra, procura, alem do eventual desconto promocional, alguma qualidade de produtos. Hoje já não se diz “serve”, perante qualquer artigo que se quer, mas de fraca qualidade. Ou se leva ou, se não agrada por qualquer razão, fica.

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A sobrecarga do mercado têxtil, visível em muitas feiras e entendida como diversidade de escolha, acaba por ser uma falsa esperança depois de descobrirmos que os feirantes aproximam qualitativamente a sua oferta, tabelando por baixo. Prejudicam-se a si próprios, pela ideia depreciativa que criam junto do consumidor, que coloca o produto “de feira” no fundo da tabela qualitativa (e já há muito que o padrão vem descendo) e prejudicam a economia nacional, quando importam produtos a preços “dumping”. E também porque é tudo restos…

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Onde está a banca “verde”?

Embora se entenda pouco próprio que as autarquias controlem previamente a qualidade dos produtos do vendedor interessado em alugar um espaço, não será de todo impossível controlar pelo menos a massiva oferta de determinado produto, dando preferência à diversidade e aos vendedores locais, se estes entenderem estar presentes.
Não se percebe como, em algumas localidades onde ainda prevalece o sector agrícola, não haja na sua própria feira uma maior representação de produtores/vendedores locais. Quem acorda todos os dias na localidade onde trabalha e de facto produz para vender, merece mais do que pousar o molho de couves na margem do passeio, esperando vender antes que a ‘montra’ perca a compostura. Para citar apenas o exemplo mais visual.

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geral@minhodigital.pt
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