Editorial

Quem quer e merece o meu menino?
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Os canais comerciais de televisão andam desenfreados com “reality shows”. Desde o “Big Brother”, já faz anos, que assim é. Agora, um canal selecciona candidatas a casarem com escolhidos agricultores, enquanto o outro apresenta umas matronas que oferecem os seus filhos a um rosário de pobres mas vistosas candidatas,  na maioria dos casos desempregadas.

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Depois, dia a dia, sucedem-se as diferentes explorações das diversas situações criadas num caso e no outro, para manter audiências que estão em queda nos outros programas dedicados à desgraça humana, tipo “os cancros das nossas entrevistadas são melhores do que a leucemia das deles”.

Uma noite destas, respondendo às críticas surgidas em órgãos de Comunicação Social e em canais das redes sociais, uma das estações resolveu enfrentar uma psicóloga que havia escrito num periódico “Quem quer casar com a minha vaca?”, o que terá sido tomado como ofensivo por parte do director de programas e pela apresentadora. A psicóloga, que chegara ofegante ao estúdio sobre a hora do programa e, possivelmente, convidada tarde e a más horas, portou-se muito bem, com serenidade, elevação e a propósito, defendendo a dignidade das mulheres.

Só lhe faltou ter rebatido a acusação que lhe lançavam, de estar a chamar vacas às mulheres do programa, negando-o e lembrando a semelhança do procedimento do programa com as feiras de gado, onde os interessados escolhem as vacas pelas qualidades que os animais expostos apresentam e lhes podem interessar.

Curioso ainda não ter vindo alguém falar da semelhança desta apresentação das meninas com os prostíbulos que havia em Portugal, quando os bordéis eram legalmente autorizados. Se calhar, as meninas desempregadas daqueles tempos prostituíam-se porque não havia “reality shows”

Nas casas de meninas, uma “tia” apresentava o elenco para no final receber o pagamento e encaminhar a escolhida e o feliz cliente para o quarto indicado. A maior diferença de todas é que não se ia às meninas com as mamãs…

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