Editorial

Querem reformas? Reduzam às Câmaras e às Juntas de Freguesia!
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Damião Cunha Velho

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Esta coisa do governo querer que sejam as câmaras municipais a contratar professores é uma espécie de regionalização à socapa.

Eu sou radicalmente contra a regionalização, porque iria dar mais poder aos municípios, o que lhes permitiria condicionar a liberdade daqueles que melhor conhecem: os seus munícipes.

E nos meios pequenos todos se conhecem e todos têm pelo menos um familiar a trabalhar na câmara. Isso, só por si, já cria embaraços quando se quer fazer qualquer crítica, por muito justa que seja.

Agora imaginem uma câmara todo-poderosa?

Já para não falar que este processo iria criar mais cargos para os amigos. Não tenho dúvidas que a regionalização é uma versão académica do bairrismo, em que amentaria a burocracia, as elites, o poder e o tachismo.

No caso da municipalização da educação, iríamos assistir a uma contratação de professores em função da cor partidária do professor.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

O fenómeno “cunha”, que é o modus operandi de todas as câmaras deste país, jamais teria em conta as competências do candidato, porque isso seria completamente irrelevante.

Temos tantos exemplos de como tem sido contraproducente dar cada vez mais poder aos municípios.

Basta entrar numa qualquer câmara e ver que, para além de existirem funcionários a mais, alguns funcionários que estão na secretaria deviam estar nos jardins e alguns dos jardins na secretaria. Provavelmente todos foram contratados para jardineiros, mas a muitos assenta-lhes melhor o teclado do computador.

Já para não falar das obras que se fazem e com que propósito, muitas em véspera de eleições, esse período das nossas vidas em que o dinheiro nasce, à pressa e mal e quem vier a seguir que resolva.

O problema é que quem vem a seguir é sempre o contribuinte.

Voltando à municipalização da educação repare-se no seguinte.

O diretor de uma escola passou a ser um cargo político a partir do momento que a sua eleição saiu para fora das paredes da escola. A influência movida pelos Donos Disto Tudo do burgo é mais que evidente, sendo que eles ou estão nas câmaras ou mandam em quem lá está.

Também podemos falar das escolas profissionais, sobre as quais os municípios são “cooperantes”, e ver quem para lá entrou. Foram os professores que não conseguiram colocação nas outras escolas. Não sei se são os melhores dos que sobraram, mas desconfio quando tem dedo do poder local. Do “amigo” local.

E já agora, quem são os escolhidos para dar as atividades extracurriculares também do domínio das câmaras municipais?

A resposta é a mesma: o poder/amigo local.

E são os melhores? Duvido.

Enfim.

Querem fazer verdadeiras reformas no país? Reduzam às câmaras municipais e às juntas de freguesia que não faz sentido existirem tantas num país tão pequeno, em território e população.

E só existem porque o bairrismo é uma praga.

Ou melhor, a praga, que não nos tira do país das leirinhas de que tanto falava Miguel Torga, e que mais tem contribuído para a dívida em que estamos enterrados de que tanto nos avisou Medina Carreira.

Querem fazer reformas?

Reduzam às câmaras municipais e às juntas de freguesia, os maiores empregadores por “cunha” deste país, planeadas, em número e distribuição no território, para um outro tempo que não o de hoje.

É que só quando isto tudo mudar é que o país vai para a frente, com os mais competentes incluindo os governantes.

Os que temos agora estão amarrados a um Portugal dos pequeninos.

Desamarrem-se para o bem da próximas gerações e pensem como Bertolt Brecht, que viveu no século passado e era contra o regionalismo, o nacionalismo (que Einstein chamou de doença infantil e grande causador de guerras) e pensem no internacionalismo, pois vivemos num mundo global e sem fronteiras.

É que já se ouvem os violinos do Titanic!

4 comentários

  1. A senhora câmara de Castelo de Paiva devia ter conhecimento deste artigo e, talvez, os dinheiros públicos (nossos) fossem empregados doutra forma.

  2. Totalmente de acordo. Fui autarca e indignei me muitas vezes com estás e outras coisas que vi, fui altamente prejudicada por ter esta opinião e principalmente por a expor publicamente . ?
    Entretanto saí e escrevi um livro( política uma espécie de amor )onde falo um pouco deste cancro da democracia , os tais Donos disto tudo . Bem ajam os que tem a coragem de colocar o dedo na ferida ??

    1. Obrigado pelo comentário já que vem de alguém que tem maior propriedade para o fazer uma vez que foi autarca.
      Abraço.

  3. Concordo plenamente. Está mais que provado os compradios, o tráfico de influências e todo o género de corrupção que existem nas autarquias!!!

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