Editorial

Querido Menino Jesus 

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Arlinda Rego Magalhães

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Nasci em Portugal, fui menina, jovem, adulta, mãe e com muita vontade de ser avó. 

Na qualidade de mulher, que nasceu, trabalhou e ainda vive em Portugal, considero ter o direito de escrever umas linhas, a todos os que ainda acreditam no Menino Deus.

O Natal é a celebração do nascimento do Menino Jesus.

O nosso Natal era mágico, alegre e perfumado de doces caseiros.

A noite da consoada era passada em família, à lareira ou perto da braseira, a fazer jogos de grupo e o famoso RTP(rapa, tira e põe).

Jogávamos com pinhões, avelãs e até nozes. A nossa sentença era ditada quando a “piorreta de madeira” parava numa das letras. Ainda não havia televisão, e muitas vezes os mais velhos, reuniam-se num dos cantos da sala e contavam histórias maravilhosas.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

De antigos amores, de como conquistaram a menina dos seus sonhos, das serenatas, dos beijos às escondidas, e nós ríamos baixinho esperando o fim da história.

O nosso Natal era realmente mágico, nos sentimentos que a todos unia,  sobretudo na passagem de testemunho dos mais velhos.

E tudo isto se passava na sala ou cozinha grande, onde a lareira queimava as pinhas e aquele aroma nos inebriava.

Nós os mais pequenos adormecíamos no colo de alguém mais próximo, enquanto esperávamos que as prendas caíssem da chaminé.

Recebíamos sempre um brinquedo, vestuário, livros e alguns doces.

Era uma festa! Uma verdadeira alegria!

No dia seguinte acordávamos com o coração cheio, e as faces rosadas de tantos beijos dos avós, tios e primos.

Que saudades….

É grande a diferença para os dias de hoje.

O Natal do século XXI, é uma festa de luzes, cor, doces, muitas prendas e um velho de barbas brancas, a quem chamam Pai Natal.

As ruas repletas de luzes e músicas da época, deixam-nos quase surdos e sem poder conversar.

Muito bem! É um Natal espectáculo, vibrante de luz, cor, excessos e correrias entre lojas.

Mas muitas vezes, não há um Natal interior, repleto de beijos, de abraços, de sorrisos e de lágrimas de alegria.

Era uma prática comum, nas décadas de 50, 60 e 70, nós os actuais sexagenários, tínhamos o hábito de escrever uma carta muito bonita, ao recém nascido divino.

Pedíamos desculpa, pelos disparates que tínhamos feito durante todo o ano, e revelavamos a vontade de receber determinado presente.

Mas obviamente não sabíamos, se seríamos ou não merecedores do respectivo pedido.

Até porque o Menino Jesus via tudo, a todas as horas, e dava às crianças da Terra, presentes sempre muito úteis.

Escusado será dizer, que havia crianças a pedir a mesma prenda durante anos. Os sortudos por vezes recebiam aquilo que pediam, os outros recebiam chocolates, roupa e sapatos.

Outros ainda não recebiam nada.

Era assim!

Já nessa altura, eu não achava graça, a esta diferenciação feita através das ofertas,  até porque eu achava que os mais necessitados deviam receber mais.

Curiosa e muito confiante, foi esta a questão, que me fez interrogar um sacerdote sobre a eventual justiça feita pelo Menino Jesus.

Porque se ele era tão bom, tão perfeito, tão amigo de todos, eu não entendia a diferença das dádivas nas várias famílias.

O sacerdote que me ouviu, foi muito perspicaz e disse-me para eu colocar a mesma questão aos meus pais, uma vez que ele também concordava comigo, no facto de que o Menino Deus, amava todos as crianças da mesma forma.

Assim fiz e nunca me passou pela cabeça que a resposta fosse tão complicada. Eu teria 4 anos e queria a todo o custo, uma resposta que me calasse.

A explicação das chaminés pequenas e estreitas, não me convenceu.

A regra dos grandes disparates e dos pequenos disparates também não.

Se o Menino Jesus amava todos de igual forma, devia dar a todos de acordo com o devido comportamento, e suposto arrependimentos.

E se o Pedro tinha sempre presentes novos e bons, e era o pestinha do costume. O Domingos que era o melhor de todos, e o mais inteligente, nem sequer tinha uns sapatos novos.

Passou mais um ano e  aos 5 anos, eu já não acreditava no Menino Jesus dos presentes. Se ele era assim tão perfeito,  nunca poderia fazer uma distinção deste tipo. E conclui que que por mais Omnipotente e Omnipresente que o Menino Jesus fosse, não poderia chegar a  todos ao mesmo tempo em todo o mundo. Tinha de ter muitos ajudantes, e os ajudantes descobri nesse ano, eram os nossos pais.

Sem drama, surpreendi a minha mãe a colocar o mais lindo boneco chorão na chaminé.

Era lindo, vestido com uma roupinha aos quadradinhos, azuis e brancos e muito cabelo. Era o meu sonho!

No ano seguinte, fui chamada pelas irmãs (freiras professoras), para colaborar nas prendas das crianças carenciadas.

Foi aí que eu entendi de novo, o meu Menino Jesus.

Aquele que estava sempre presente!

E não sempre com presentes, no eventual dia do seu nascimento.

No século XXI, temos a senhora dona publicidade a dominar tudo e todos, nos Shoppings, com o respectivo Pai Natal, com quem os mais pequenos choram ao tirar fotografias. E com as lojas repletas de presentes.

Interrogo-me muitas vezes, se a magia do Natal está nos presentes, ou nos afectos.

Nas iluminações, ou na participação e na partilha com os que mais sofrem.

Um milagre que poderíamos pedir, ao Menino Jesus sempre presente, era o fim dos conflitos armados. O fim das guerras sangrentas, mortíferas de incontáveis inocentes, devido à maldade deliberada de outros.

Para mim este ano esse seria o meu/nosso maior presente.

O entendimento entre os povos, a humildade de reconhecer o erro, e a luta pela vida, e não pelo poder.

O planeta Terra, pertence a todas as pessoas e não só a alguns privilegiados.

 

Dizia Fernando Pessoa:

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”

4 comentários

  1. Que lindo!!! O nosso Natal era assim, tão emotivo, tão carinhoso…
    Temos o dever de criar novas memórias com o espírito natalício fraterno e renovador. Obrigada Arlinda!

  2. Recordo que o Menino Jesus me deu uma moto de corda.
    O Pai Natal vai-me dando.
    Magia para crianças.
    Adultos ignorantes.
    Depois a vida não presra.
    Deixem de mandar.
    Sejamos sociedade humana.
    24 de Dezembro.

    1. Muito obrigada!
      Um Natal com amor e carinho, e com os nossos familiares e amigos presentes, e com saúde.
      É o maior presente, que o Menino Jesus nos pode oferecer.
      Será também o nosso legado, para os filhos e netos.
      Santo Natal, para todos.

  3. Muito obrigada querida amiga.
    Um Natal com amor e carinho, e com os nossos familiares e amigos presentes, e com saúde.
    É o maior presente, que o Menino Jesus nos pode oferecer.
    Será também o nosso legado, para os filhos e netos.
    Santo Natal, para todos.

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