A recusa (1)

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nevesdavila

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Ulrich Turguêniev, nasceu na zona periférica da cidade de Irkutsk na Sibéria em 1951, Eng.º Civil, aposentado, casado há mais de quatro dezenas de anos, pai de cinco filhos, e avô de onze netos.

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Na sua vivência, encaixa várias ocupações lúdicas, possui um quintal, onde planta vários tipos de legumes para consumo próprio, cuida da bicharada, galinhas, porcos e coelhos e ainda trata de algumas árvores de fruto, entre elas a laranjeira. Escreve poesia e prosa, tem alguns trabalhos já editados, gosta de ler e ouvir música, sobretudo, clássicos, adora imenso estar e conviver com os netos. Reúne-se frequentemente com amigos das aldeias vizinhas, gosta de conversar acerca de literatura, coisas da aldeia, da época social e política, os temas orbitam quase sempre, escritores como: Fiódor Dostoiévski, Leon Tolstói, Alexander Soljenitsin e outros…

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

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Ulrich é um homem de paz, social, fácil de amizades, aliás preconiza a tranquilidade e o bem-estar. Numa viagem de estudo ao Kremlin – Moscovo, conheceu Mikhail Gorbatchov, Presidente da Rússia, ainda “URSS”, momento de enorme exaltação, marcado com laços de grande amizade! Amigo do seu amigo, profundamente espiritual, dado às fragâncias da natureza, o silêncio da leitura é a sua profunda introspecção.

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O carteiro bate à porta, entrega uma carta registada com o remetente, Defesa do Estado da Rússia com aviso de recepção. O excerto, laconicamente intimidatório, Ulrich, surpreendido, ao ler as primeiras palavras, sentiu estremecer o corpo em calafrios…! – Deve apresentar-se no prazo de quarenta e oito horas na polícia local da província, está alistado como reservista nas forças territoriais como capitão para incorporar e comandar uma companhia de sapadores – tiradores.

Ulrich não diz nada, respira fundo, senta-se, lê o manuscrito, uma, mais vezes… pensa, volta a sentar-se, volta a ler! Fala a moer a consciência e as palavras, atónito pensa, que merda esta…!

 –  De certeza que há engano! O que é que estes loucos querem de mim!? Não fiz serviço militar, não sei dar um tiro, nunca peguei numa arma, de certeza que há engano! – Interioriza silenciosamente, Ulrich.

 – Trugeneva anda cá ver isto…!

– O que foi homem?

– Lê.

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Entretanto, uma ligeira pausa emudece os dois, Helena Trugeneva, sua mulher, lê os três longos parágrafos. Olha silenciosamente para o marido, e diz:

– Só pode haver engano, homem…. Sendo assim, a ser verdade, vais cultivar terra, plantar legumes para alimentar os militares ucranianos e russos…! O que vai na tua cabeça Ulr!? –  Diz a mulher segurando a calma para o marido…

– Sei lá o que vai na minha cabeça…não vai coisa boa, não… Sabes Trugeneva!? Olha, para já não vou comparecer, que me venham cá buscar, e me levem preso… ir para a Ucrânia, nem morto. Não aguento um gato pelo rabo… era o que faltava ir para a guerra…

– Se recusas, eles vêm te buscar, e levam-te preso! Isso não é nada bom…Vai, que Deus está contigo, está connosco.

Afável e terno a lembrar outros tempos, onde as flores falavam, Ulrich, abraça Helena e segreda-lhe ao ombro: Meu amor, não imagino deixar-te, não, meu amor. O abraço parecia o resumo, interminável despedida de toda uma vida, o fim…

– Ó meu querido, vai correr tudo bem, pedes para ir ao médico, dizes que queres um exame para verem como está o teu pobre coração…

– Não sei, não Helena… penso que há engano…! É como te digo, não vou comparecer, logo se vê…

– Vai homem, pode ser que eles não te queiram… ou até termine a guerra, fosse verdade… meu Deus, que coisa dos demónios!

– Não vou, não vou, vou esperar… “Operação especial”, mentirosos, digam a verdade, até as notícias nos retiraram, porquê?

– Meu amor, tem calma, tem calma, quando eles conhecerem o teu estado, não te vão aceitar… – observa piedosamente a mulher.

 – Seja como for, estão loucos, fosse normal não me mandavam esta estúpida carta. Já decidi, não vou, pronto.

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Continua próximo capítulo

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