A Recusa (3)

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nevesdavila

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Cerca de doze horas de viagem, em silenciado obediente, obediente porque qualquer tipo de resistência numa situação daquelas em nada ajudaria os amigos no insólito imbróglio em que foram colocados!

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Tanto mais, a idade avançada, corpo frágil, já não permite grandes veleidades, por outro lado, quanto maior for a passividade melhor serão as condições de prova de incapacidade para a assumirem a missão para a qual foram incumbidos.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Durante toda a viagem, aproximadamente 5 horas, apenas pararam uma vez por causa das necessidades fisiológicas! 

Finalmente, depois de uma interminável e cansativa viagem, sem meios de comunicação, porque foram obrigados a deixarem os telemóveis em casa, eis que chegam à cidade sob as trevas da noite, sítio, que aquela hora a carrinha celular fechada mal permitia ver o que se passava no exterior… Contudo, não se viam pessoas. O deserto e o silêncio dominavam as ruas, e as avenidas, de quando em quando lá passava um veículo, as casas sem luz pareciam abandonadas, alguns candeeiros de luz fosca sustentavam o aspecto fantasmagórico da cidade!

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Ulrich e Ivanove desconheciam completamente o lugar onde estavam. Até que dão entrada no quartel, situado na zona periférica da urbe. Conduzidos como se fossem criminosos ou terrorista, Ivanove com coragem e ansiedade pergunta ao soldado onde estavam, como se chamava a cidade… não respondeu, é proibido proibir. Saga assustadora, continuava… De imediato, sem saberem porquê, são colocados individualmente em espaços separados. Eram cerca das 07h00, estava a nascer o dia, e o sol, o mesmo da janela do seu quarto, o mesmo do seu quintal, o mesmo quando a mulher foi buscar o pão. O aspecto do dia e do sol penetrou no seu pensamento, lembrou-se de escrever, mas não tinha nem papel nem caneta, mas sentiu o soluçar da saudade que fazia sombra sombria e melancólica.

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Bastaram uns minutos, para surpresa de Ulrich recebe a visita de dois militares soldados, que mais pareciam serventes de um hotel a pedir-lhe que o acompanhasse. Passaram juntos por um curto corredor que dava acesso a uma sala de jantar, ou seja, à messe de oficiais. Um deles vira-se de frente para Ulrich e diz-lhe: – este é o seu espaço, esteja à vontade. Ulrich, atarantado, não sabe o que fazer, sentou-se junto a uma mesa, uns segundos depois, aparecem novamente os mesmo soldados a dizer: – o pequeno almoço está disponível, pode-se servir, esteja à vontade.

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Ulrich, elegante, responde com um muito obrigado e insiste: – Desculpe, preciso de telefonar para a minha mulher. Os soldados não respondem. Uns minutos passados e já mais ou menos bem almoçado, com vontade, pois já uns dias que Ulrich não se alimentava a sério!

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– Sr.  Ulrich faça o favor de nos acompanhar, ordenam os dois soldados. Seguiram juntos para um gabinete.

De repente é surpreendido por três oficias tenentes generais.

Ulrich senta-se numa mesa redonda. Antes de iniciar a reunião, impaciente, suplica aos dois soldados: preciso telefonar para a minha mulher. – Depois da reunião entregamos-lhe o seu telemóvel.

– O senhor recusou-se a obedecer à ordem que lhe mandamos. – Diz o primeiro tenente.

– Claro, tenho 71 anos, no próximo mês faço 72, ainda pensei que se tratava de um equívoco… sou um homem doente, sofro do coração, aliás preciso de fazer exames! O que é que os senhores querem de mim, que nada sei destas coisas!?

– O senhor Ulrich é engenheiro civil, precisamos dos seus serviços por uns meses, talvez dois ou três para uma “operação especial” apenas para dar apoio na construção e reconstrução de pontes e afins, dispõe duma companhia entre oficiais, sargentos e praça com cerca de 200 homens ao seu serviço, O Sr. é o comandante capitão. – Diz o segundo oficial tenente general.

– Sem dar atenção às questões que lhe foram colocadas, Ulrich sem titubear, interpõe com clareza: – preciso dum médico, preciso dum médico, não quero morrer subitamente, quero fazer exames ao coração. 

– Nem nós queremos que o Sr. Morra, precisamos dos seus serviços… Portanto, com certeza, vai fazer exames ao coração. – Diz outro tenente.

– Eu não fiz serviço militar, não conheço, não sei utilizar uma arma, não sei nada…! – Responde Ulrich em voz débil.

– O senhor não precisa de arma, dispõe de dois ordenanças, oficiais e sargentos vai orientar eventualmente homens para serviços da sua especialidade, o resto deixe connosco. – Esclarece o terceiro tenente general. Corrobora: – colabore no seu melhor. Reuni-mos amanha, descanse.

– Preciso de telefonar. Quero telefonar para a minha mulher, não sabe de mim! – Insiste irritado Ulrich.

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Um dos tenentes volta a referir: – colabore no seu melhor.

Outro responde: – Gostamos muito de ter falado com o senhor capitão, voltamos novamente a falar…e retiram-se abruptamente.

Passado uns segundos, regressam os dois soldados a dizerem: – Sr. Comandante faça o favor de nos acompanhar. Como se chama? – Meu nome é Ulrich. – Sim senhor, venha com a gente, Sr. Ulrich.

– Por favor deixem-me telefonar para a minha mulher! Sabem? Há três dias que não sei nada… quero telefonar para a minha mulher, por favor…

No quartel militar é hora de almoçar, na messe estão cerca duma vintena de militares todos oficiais, fardados em grupos de cinco em cada mesa, Ulrich conserva a mesma roupa com que saiu de casa, senta-se numa mesa aleatoriamente, olha em redor, procura o amigo Valentim, não está ali, talvez por não ser graduado.

É hora do almoço, como os outros, Ulrich dirige-se ao self-service com a bandeja nas mãos. Regressa à mesa, o apetite é quase nulo, frango assado com esparguete, um copo de vinho e dois pães de milho, em experiência mastiga uma bucha… do grupo alguém lhe dirige a palavra.

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– Então amigo também foi recrutado?

– Eu não sei nada, grande trapalhada…!

– Pois, também nós!

– O que fazia, quero dizer: qual era a sua profissão?

– Estou reformado.

– Pois, também nós. Mas o que fazia antes de se reformar?

– Sou Eng.º Civil.

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Outro do grupo associa-se à conversa. – Deixe lá, também sou reformado, trabalhei 45 anos como enfermeiro. Que idade tem?

– Tem 72 anos. – Responde a soletrar as palavras, cabisbaixo, Ulrich.

 – Pois, somos da mesma geração.

– Mas afinal de contas o que se passa? “Operação especial” seja o que for, se for guerra, ir para a guerra, morro antes, não sei manejar uma arma, não percebo rigorosamente nada desta trapalhada…

– Amigo, a conselho a não falar em coisas de guerra e política se for do contra é melhor não abrir a boca… – Diz outro um tanto ou quanto acanhado.

Ulrich, inteligente, começa a aperceber-se do ambiente pertinente das simpatias incomuns…

– Preciso de telefonar para a minha mulher, algum de vocês tem um telemóvel que me possa emprestar. Inquire triste e preocupado Ulrich.

– Não se preocupe amigo, eles vão entregar-lhe o seu telemóvel e a sua esposa já sabe o que se passa, aguente a calma.

– Como é que sabe?

– Já de lá vimos amigo… eu recebi o meu uma semana mais tarde de cá estar.

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Ao toque de uma sirene, como se fosse um quartel dos bombeiros, todo o pessoal se levanta, ao mesmo tempo que Ulrich recebe a companhia dos dois soldados, entregam-lhe um saco mochila com o respetivo equipamento pessoal e o seu tão profundamente desejável telemóvel, como se fosse a voz da sua mulher a dizer, aflita, então amor não dizes nada!?

Os militares ordenam ao comandante que os acompanhe.

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(Continua no próximo capítulo)

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