A Recusa (5)

O dia podia ser como outro qualquer, mas para Ulrich de todo, não era possível ser por mais bonito que fosse, não era de todo um dia normal!

w

Provavelmente, muitas outras pessoas também como ele pensavam iguais na sua situação sentiam o mesmo… pois, nunca na sua vida pessoal e particular, teve um dia assim, estado que augurava outros talvez ainda piores… até podia ser um sonho, uma viagem em grupo deslumbrante, alegria, convivência, excelentes alegorias, muita história, pelo contrário, estava a viver um tenebroso pesadelo!

w

O despontar da alvorada na sua tímida claridade, começa pelas 07h00 da manhã, o acantonamento é despertado ao som repetido de três vezes consecutivas por uma sirene agoniante, semelhante a um estado de guerra previamente anunciante de bombardeamento num local sobretudo urbano… quinze minutos a seguir, o ambiente é transformado numa hilariante banda sonora militar, ao ritmo duma marcha que faz lembrar outros tempos, tenebrosas saudações suásticas. Estes tribais despertadores entre as sirenes e a banda militar sonora musical possuía uma duração de 30 minutos, razão para pôr 3000 mil militares, incluindo mulheres acantonados em movimento acelerado para a formatura na parada.

w

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Os oficiais generais russos, quer em estado de guerra ou paz, são sempre os primeiros a distinguir a sua presença na linha da frente, princípio disciplinar Cossaco, o russo Kozak (homem livre) diz a tradição secular, dar exemplo e observar a obediência dos subalternos…

w

(1) Os cossacos(russo, ucraniano, polaco, são um povo nativo das estepes das regiões do sudeste europeu (principalmente da Ucrânia e do sul da Rússia) que se estabeleceram mais tarde nas regiões do interior da Rússia asiática. Eles são um povo predominante eslavo oriental e cristãos ortodoxos que se originaram na estepe pôntica como um povo nômade. Os cossacos são muito famosos por sua coragem, bravura, força e capacidades militares.

w

Ulrich, atarantado, não sabe o que fazer à funambulesca situação… por altura do pequeno almoço pede conselhos aos camaradas:

– Meus amigos não sei o que fazer!

– Não sabe o que fazer camarada, é simples, quando der o toque sonoro, apresente-se na parada à sua companhia. Na mochila tem um fato de dia e um boné de caqui, ponha as patentes, vista-se e venha connosco. – Entrepõe simpaticamente um camarada do grupo.

 w

Obviamente, o pobre do Ulrich, não tinha alternativa… Contudo, sentia-se um tonto no meio do caminho…

PUB

A custo, muito custo, destapa a mochila, de imediato um cheiro nauseabundo invade-lhe as narículas! Volta ao princípio, fecha a guldrapa, volta a abrir. Pois, ah que preparar. Ao vestir a farda de dia verifica que a medida era quatro a seis furos mais largo! Pensou: – Esta merda já vem dum morto! Não me serve! Contudo, o tempo não era para limpar armas nem tão pouco para queixumes… enquanto exita vestir ou não…  eis que chegam os dois soldados um de 1ª classe, outro soldado raso, os mesmos do costume.

w

– Sr. Comandante Ulrich, tem que se apresentar na parada a sua companhia está à sua espera!

– Pois, mas esta merda não me serve, é muito grande, e já é usada, e se calhar já vem de algum que faleceu!?

– Não sabemos de nada… o que sabemos é que o Sr. Comandante tem que se apresentar na parada à sua companhia.

– Pois, mas qual é o meu papel!?

– O seu papel é dizer que a partir de hoje é o Comandante, e que dentro de dez minutos quer a presença dos seus oficias e sargentos no seu gabinete.

– Mas para quê?

– Para se conhecerem e através deles saber que praças tem; os mais velhos com experiência, os que são obrigados, ou voluntários, criminosos, criminosos porque alguns que vêm das prisões. Por outro lado, fica a saber que nas suas relações militares, a partir de agora, o Sr. Comandante passa a ser identificado pelo nº 979 / 22 ou pelo seu próprio nome.

– Claro, mas o que querem que eu faça.

– Nada, venha com a gente, nós apresentámo-lo à sua companhia, nº 109/S/T/22. Depois o Sr. ordena aos seus oficiais e sargentos para se apresentarem imediatamente no seu gabinete.

– Trapalhada!

– Apresenta-se como Comandante; diz o seu nome, que é licenciado em Engenharia Civil e que os quer conhecer.

– Pois, e planos…

– Não sabemos de nada. O Sr. Comandante primeiro vai ter formação, depois serão lhe apresentados os planos. Nós somos seus ordenanças, cumprimos ordens. Eu sou Alexei Antonov nº 2031/19 e o meu colega, Albert Vassili nº 1987/19. Fomos destacados para lhe dar apoio.

w

No gabinete, Ulrich com os seus ordenanças sozinhos. – Meus caros senhores, eu sou um homem doente e velho com 72 anos, quero que me desculpem, mas gostava de saber se esta trapalhada é uma preparação para a guerra!?

– Isso não é com a gente, nós fomos apenas destacados para lhe dar apoio. Obedeça aos nossos generais.

– Para além de ignorante nestas coisas sou um inútil.

w

Entretanto, oito militares, oficiais e sargentos da companhia, entre eles encontrava-se uma mulher entram no gabinete. Individualmente, cada um faz a sua respetiva continência e apresentação.

w

– Meus senhores estejam à vontade, para já não sei sinceramente por onde hei-de começar! Meu nome é Ulrich Truguêniev, tenho 72 anos, casado, sou formado em engenharia civil, aposentado, tenho três filhos e quatro netos, estou a aqui agoniadamente contrariado e não sei o que fazer…! Contudo, façam o favor.

– Sr. Comandante, por ordem do meu Coronel-General fui nomeado 2º Comandante Tenente Sénior, nº 878/20, (reserva) chamo-me Dimitróve Dostoievski, viúvo, formado em mecânica-auto.

w

E assim um a um todos se apresentaram: Tenente, nº 1011/22 (reserva). Tenente Júnior, nº 867/22 (reserva). Subtenente nº 921/22 (voluntário) Sargento Major, nº 1050/22, (reserva). Sargento Sénior nº 1120/22 (reserva). Sargento Major nº 899/22 (voluntário) e por último uma mulher, Maria Toskaia, Sargento Major nº 1033 enfermeira, voluntária.

w

– E o médico?

– Ainda não temos, Sr. Comandante.

– Para além dos soldados, não existe mais ninguém? – Pergunta timidamente o Comandante.

– Temos os sargentos (cabos). – Responde o Tenente Sénior

– Quero conhece-los, tragam-nos cá.

– Sargente 8-9-9 vá busca-los. – Diz o Tenente Sénior.

– Meus senhores podem se retirar, voltamos a reunir amanhã há mesma hora. – Comunica o Comandante Capitão, Ulrich.

– Grande trapalhada que estes gajos me arranjaram, coisa trágica, estou feito meu amor, estou feito, tenho medo, muito medo, meu amor… Interioriza Ulrich a pensar nos seus e na sua Leninha, que, entretanto, decide ligar-lhe.

– Ó Leninha, meu anjo, olá!

– Ó Ulr meu amor, olá! Como estás? Meu Deus, meu Deus, São Nicolau, meu Deus…!

–  Meu anjo, não te preocupes, tem calma, está tudo normal. Vais para a guerra? Nem quero pensar, meu Deus, o mundo está maluco!

– Não sei de nada e nada me dizem! Leninha, meu amor não sei nada, mas tudo indica que sim, não para frente da metralha…ouve meu amor, não fales em guerra…

– Está bem. Vais fazer exames ao coração?

– Sim, foi o que me prometerem. Não te preocupes, meu anjo, tenho esperança que não vá sair daqui…

– São Nicolau te proteja, meu amor.

– Leninha, vai correr tudo bem, a nossa gente, vai bem? Pronto, Leninha, mais logo volto a ligar. Um beijo meu amor, até mais logo…

– Ulr, tenho muitas saudades… amo-te muito.

w

 (Continua no próximo capítulo)

w

*

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte seta publicação pode ser reproduzida  total ou parcialmente por quaisquer meios, sem autorização escrita do autor. 

  Partilhar este artigo