Relação das horas de trabalho com o desemprego

Jorge de Melo

(Consultor de Comunicação)

Todos sabemos que enquanto vai diminuindo a riqueza da população, diminui o emprego. Isto funciona como uma balança que equilibra as finanças nacionais e a estabilidade económica da população.

Por essa razão, se temos crise económica apenas podemos agradecê-la à má gestão dos nossos políticos.

Isto é cíclico, mas existe também uma tendência histórica para a diminuição do número de horas de trabalho. Sabe-se que desde o princípio da humanidade, o homem, por ser um animal racional, trata de executar cada vez mais tarefas com menos esforço adaptando a forma das coisas a cada função (ergonomia). Podemos provar essa evolução com o gráfico anexo que demonstra a transformação do horário de trabalho desde a pré-industrialização até 2006 mas que está perfeitamente de acordo com os nossos dias.

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Assim, compreendemos melhor as razões lógicas da existência desta crise que parece não nos querer largar. Claro está que sem exportações não existe equilíbrio da balança económica, mas estas só acontecem se educarmos os nossos novos gestores para tal objetivo. Embora as multinacionais possam dar uma ajuda nesse campo, temos que ser nós a construir a autossuficiência. Realmente o investimento externo pode ser positivo mas é inseguro, hoje estão por aqui porque o governo lhes oferece condições especiais mas amanhã vão para outro local onde outro governo amigo lhes oferecerá vantagens superiores.

São bons exemplos, a indústria do calçado e a das confeções, que agora começam a dar cartas no mercado internacional impondo as nossas marcas apenas com “know-how” nacional.

Mas toda esta situação se deve à natural evolução que lhes recordei anteriormente, só que nos nossos dias a ciência evolui a uma velocidade fantástica onde as novas tecnologias com a robótica evitam imensa mão-de-obra o que provoca desemprego.

Apercebendo-se disso a OIT (Organização Internacional do Trabalho) tem vindo a investigar situações e soluções para o desemprego.

Verificou-se então, pela experiência inicial de várias empresas francesas como a Orain e a Estrade, que ao diminuir o horário de trabalho se provoca impacto positivo tanto na ampliação do emprego e na produtividade como na vida profissional e particular dos trabalhadores.

Nos países mais desenvolvidos, entre 1980 e 2000, aconteceu uma diminuição do horário de trabalho de 44 para 38 horas. Mas nos países mais pobres essa redução foi mais lenta originando algum desemprego e afetando a produção. Daí se concluir que a redução do horário de trabalho é demonstrativa de “maturidade económica”.

Em 2006 verificaram que, enquanto em alguns países asiáticos se trabalhavam 2200 horas por ano, noutros da União Europeia como Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Países Baixos e Suécia, trabalha-se menos de 1600 hora/ano com índice de produção mais elevado e situação económica e social muito superior. Aliás, esta metodologia é hoje aplicada regularmente  na maioria das empresas mais conceituadas produtoras de hardware e software.

Com esta experiência podemos pensar em corrigir o desemprego existente já que ele é ecologicamente o mais grave desperdício da natureza, o da vida humana.

Seria então possível gerar novos empregos e evitar despedimentos tomando algumas iniciativas simples como a diminuição das horas de trabalho com redução equivalente na remuneração o que facilitaria ao trabalhador, aproveitar esse tempo para o lazer, com a família ou até noutro emprego, em tempo parcial, evitando assim o despedimento coletivo.

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O problema é que para alguns gestores é mais fácil cortar o mal pela raiz, despedindo sem pensar nos efeitos dramáticos nem nos desperdícios que daí resultam. Esquecem-se que um contrato de trabalho é um “negócio” como qualquer outro, só é “negócio” se é positivo para as duas partes, quando apenas uma tem vantagem, deixa de o ser e transforma-se noutra coisa qualquer menos séria. A teoria do “quanto pior melhor” nunca foi positiva para ninguém, produziu sempre retorno altamente negativo, por isso o país se encontra nesta situação caótica.

Na minha opinião, a redução do horário de trabalho viria auxiliar a recuperação económica e evitar o stresse do despedimento que se transformou em terrorismo social. Além disso corrigiria a situação imoral de profissionais competentes se encontrarem no desemprego  e premiaria o progresso nas respetivas carreiras.

Quem trabalha passaria a ter tempo para aperfeiçoar as suas qualificações intelectuais e até melhorar a qualidade de vida particular e profissional. A entidade patronal teria a possibilidade de usufruir de profissionais mais produtivos. O Estado pagaria menos subsídios de desemprego e teria melhor receita nos impostos.

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