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José Venade *
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Há em todas as terras personagens pitorescas, castiças, que se destacam pela sua singularidade e até alguma excentricidade.
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1- Na minha, também não foge à regra. Manuel Barbosa, de seu nome, pela maioria conhecido pelo “Camões ou Bicho”, foi uma dessas personagens. Talvez pelo tamanho do cabelo e da barba, que usava, ou pêlos longos diálogos musicais, com os sapos, em que ele era o Maestro, o certo é que deixou marcas que perduram.
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Já o conheci no último quinto da sua vida. Solteiro, sem filhos, foi um homem de muitos ofícios, e com eles sobrevivia pobremente sem trabalhar em ofício nenhum. Foi um homem livre. Ora estava em Portugal, ora atravessava o Rio Minho e permanecia na Galiza anos ou meses. Arranjava relógios, a outros faltavam-lhe as peças na hora de os montar.
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Certo dia, o Bicho, meteu-se na camioneta da carreira e foi à Casa do Povo reclamar o subsídio de funeral.
“Mas o senhor vem solicitar o subsídio de funeral de quem”? Inquiriu a funcionária.
“Ora, o meu. O seu? Mas o senhor ainda está vivo e, como tal, não tem esse direito. Só depois de morto”. Desconsolado o Bicho respondeu: “Depois de morto não preciso do subsídio para nada, pode ficar com ele”. E voltou-lhe as costas.
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Viveu de perto a guerra civil espanhola, o que o terá acicatado o seu espirito revolucionário e lírico. Numa determinada noite com umas aguardentes a mais encheu-se de coragem e, qual D. Quixote, decidiu fazer a sua revolução. Pegou num pesado martelão e caminhou em direcção ao Monte do Crastro onde se situam os moinhos. Chegado lá desatou à marretada nos frágeis telhados e nas portas, causando danos consideráveis.
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2- Oh Manuel, levanta-te homem, já é tarde, está aqui a GNR à tua procura, não sei o que é que tu andaste a fazer, mas decerto que fizeste das boas? Mas o Manuel que se havia deitado há pouco tempo, continuou a dormir. As revoluções cansam.
PUBA Mãe aproximou-se da cama e acordou-o com um safanão.
“O que é que tu andaste a fazer desgraçado, que está ali a guarda à tua procura?”, insistiu.
“Oh mãezinha deixe-me dormi. É que esta noite andei a fazer uma revolução tranquila, e estou completamente estourado”.
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3 – Pedro Nuno Santos, ministro das Infra- Estruturas, farto de ver o governo a que pertence a nada fazer, no geral, e no que à construção de um novo aeroporto internacional diz respeito, aproveitou a ausência, no estrangeiro, do primeiro-ministro e decretou a construção imediata do aeroporto do Montijo e posteriormente o de Alcochete. Um golpe palaciano.
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Podia ter feito o mesmo que fizeram os alentejanos aquando da procrastinação usada sobre a construção da barragem do Alqueva. Estes, fartos de esperar, colocaram um grande cartaz em que dizia: “Construam-me porra!”
Desautorizado, de imediato, pelo primeiro-ministro, como uma criança que é apanhada a ir à gaveta dos chocolates e com sorte por não ter sido despedido, como devia, remeteu-se a um período de silêncio.
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Emergiu, recentemente, todo impante, qual Duarte Pacheco, na apresentação do Plano Ferroviário para ligar a cidade do Porto a Lisboa num ápice, ou seja: em 1.15 horas, em vez das actuais 2.49 horas, mas só até 2030, o que também não é verdade, já que esse timing é apenas do Porto até ao Carregado. Dali até Lisboa será depois de 2030.
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A falta de vergonha com que estes governantes têm para mentir, é uma coisa que nos remete para o tempo de Sócrates. Afinal a escola é a mesma, foram seus alunos.
De peito feito, como fosse uma certeza absoluta, quando todos os portugueses já viram este filme tantas vezes, usou frases como esta: “ Já ninguém pára o comboio, porque isto é uma revolução”.
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Ai bicho que saudades das tuas revoluções.
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* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990.