Editorial

Sá Carneiro – Amor e Mito
Damião Cunha Velho

Damião Cunha Velho

A atriz brasileira Nívea Maria desabotoava a camisa, uma cena picante para a época. Entretanto, a emissão da telenovela foi interrompida.

O jornalista da RTP1 apresentou-se de fato e gravata preta. O primeiro-ministro Sá Carneiro acabava de falecer num trágico acidente de aviação.

Mais do que Soares ou Cunhal, Sá Carneiro será recordado pelo seu carisma. Um líder.

Morreu a tempo. Ficou a esperança do que poderia fazer, e isso fez de si um herói.

O seu carisma já vinha dos tempos de deputado da ala liberal. Fundou o PSD e chegou a primeiro-ministro, num período em que poucos sabiam o que era a social-democracia.

Sá Carneiro não precisava de um voto para ser líder, era-o por natureza.

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O seu carisma atraiu imensos seguidores que o acompanhavam na sua missão: transformar Portugal num país moderno e acabar com o autoritarismo vigente.

Não era um homem bonito mas tinha élan. Irradiava energia. Snu Abecassis não lhe resistiu.

Só os poetas conseguem vislumbrar no meio da multidão um príncipe ou uma princesa.

Assim aconteceu com Natália Correia quando conheceu Ebbe Merete, mais conhecida por Snu Abecassis.

O porte e a classe eram a marca luminosa que fazia a diferença.

Um dia, em Janeiro de 1976, Natália Correia apresenta Snu a Sá Carneiro.

Sá Carneiro confirmou a Natália Correia o que ela pensava de Snu: “Era uma princesa à espera de um príncipe”.

Snu, divorciada e mãe de três filhos, apaixona-se por Sá Carneiro, casado e pai de cinco filhos. Sá Carneiro não conseguiu divorciar-se.

Uma história polémica de um amor incómodo para a vida política da época.

Talvez por isso, esta história de amor, tenha ficado para a história e a verdade é que Snu e Sá Carneiro estiveram juntos na vida e na morte.

Por ser casado e viver com Snu os seus inimigos políticos aproveitaram-se desse facto.

Victor Constâncio no calor de um comício disse que ele era um homem indigno para governar Portugal.

Ary dos Santos, por causa do seu nariz, fez um poema a dizer “com Carneiros desta raça o país é um anão, mas um anão tão pencudo, tão covarde e tão nasal que faz do dinheiro tudo o que resta de Portugal”.

Enfim. Não havia por onde lhe pegar se não por aquilo que hoje seriam considerados argumentos absolutamente ridículos.

A sua morte em Dezembro de 1980 transformou Sá Carneiro num mártir.

A lei da Grécia Antiga que proibia os vivos de dizer mal dos mortos não foi necessária aplicar em Portugal.

Sá Carneiro viveu uma história de amor que ficou para a história e enquanto político foi elevado à condição de mito!

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