Editorial

SERMOS POBRES NÃO É INEVITÁVEL
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Dina Ferreira

Dina Matos Ferreira

Professora Universitária e Consultora

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Dados:

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– Um em cada cinco portugueses é pobre, o que perfaz 1,7 milhões de pessoas. 30% dos pobres são trabalhadores ativos. (Estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos).

– A carga fiscal portuguesa é demasiado alta tendo em conta o produto interno bruto (PIB) per capita nacional. (A conclusão é da OCDE, no relatório anual sobre política tributária.)

 

Enquanto o noticiário nos mostra diariamente casos de polícia que atravessam uma casta de aparentes intocáveis em vários setores da sociedade, continua o português médio a ser chamado a cobrir os imensos danos desses eleitos, entrando à bilheteira sem ter posto sequer o pé na sala de cinema.

Estamos, os cidadãos, como os pais remediados que se esfolam pelos filhos malcriados, dando-lhes tudo o que não tiveram (como se isso fosse virtude) e pagando-lhes as contas que desavergonhadamente eles contraem em hotéis de cinco estrelas, onde eles próprios nunca ousaram entrar.

Ocorre-nos a imagem de Saturno devorando o seu filho, o episódio da mitologia grega que Goya tão bem imortalizou, pensando no Estado português entrando no bolso dos portugueses para pagar os desvarios da sua contínua má gestão, da sua perversa incompetência e da sua crescente expansão.

Sermos pobres não é inevitável. Mas para isso podemos fazer mais e podemos fazer melhor por nós próprios.

Podemos ser críticos e clamar contra qualquer laivo de corrupção, nepotismo, endogamia e todos os vícios das sociedades subdesenvolvidas. Diz Amartya Sen (Prémio Nobel da Economia em 1998) que as sociedades de imprensa livre, de livre pensamento, de livre associação não têm pobreza. Nós temos pobreza. Exerçamos o nosso direito/dever de liberdade, de informação.

Podemos ser rebeldes. Não aceitar como uma inevitabilidade as exigências de quem governa. Questionar, falar, inquirir, verificar. Escrever petições, fazer barulho, mostrar que estamos vivos. Assiste-nos inteligência e vontade e não somos submissos. Somos cidadãos.

Podemos participar. Participar em tudo o que seja possível, das associações de pais aos grupos desportivos, columbófilos, filatélicos ou o que seja. Uma sociedade cheia de associações é sempre uma sociedade mais forte e mais livre. Porque também aí falhamos: Portugal tem mesmo o mais baixo índice de associativismo por habitante de toda a Europa. Estranha-se? Não.

Há muito a fazer e isso depende apenas de cada um de nós. Adiar o necessário é perpetuar a indignidade da condição de muitas pessoas cujo destino não nos pode ser indiferente.

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