Editorial

Solenidade de Todos os Santos: REVERÊNCIA E TRADIÇÃO – Por eles, mas sobretudo por nós!
António Luís Fernandes

António Luís Fernandes

António Luís Fernandes

 Funcionário do Comité Económico e Social Europeu

 

 

Acontece em cada ano, logo no primeiro dia de Novembro! Quando, em simultâneo, assistimos a uma notória transformação da própria natureza.

O recolhimento, a reflexão e a saudade, rodeados de esperança têm, neste tempo, maior incidência sobre o nós; em relação aos que já partiram, mas também pelo que somos, neste peregrinar incerto e conscientes da nossa fragilidade humana.

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Mais dilacerante ainda, com os efeitos de sujeição, em que vivemos; a epidemia de contornos imprevisíveis, amedronta e condiciona. A tradição da ida aos cemitérios, inclui o espectro da morte própria; ninguém quer morrer!

 

Mas a morte é uma realidade de todos os tempos. Foram e continuam a ser muitos, os artifícios e teorias, desenvolvidas por filósofos, teólogos e outros pensadores, em busca de resposta, explicação, mais ou menos racional, à luz dos seus conhecimentos e/ou crença. E surge aquela pergunta de sempre: como é que o ser humano vive após a sua morte física? Haverá esse além prometido, idealizado?

O conceito que o homem faz dessa realidade varia, em função da educação, da filosofia de vida ou religião, bem como da maturidade e grau de espiritualidade, de cada um de nós. As correntes filosóficas ou religiosas que maior ou menor profundidade têm procurado explicar aquele estado, são inúmeras e temporais. Na sua maioria, numa descarada atitude de suborno, mentira, ameaça…

Das tantas correntes de pensamento podemos destacar uma única que desde os primórdios dos tempos vem oferecendo a mesma explicação até hoje: aquela que nos é revelada através das Escrituras e da promessa numa vida eterna, sublimada pelos anjos e arcanjos. Mesmo assim, tal definição, profunda e coerente, não tem encontrado aceitação numa boa parte dos próprios cristãos, existindo uma grande diversidade na interpretação dessa Palavra.

Apesar de tudo, a morte continua a ser um enigma; subsiste o mistério! O homem permanece sujeito à lei que a Natureza lhe vai impondo, sem hipótese de resposta! Logo ao nascer uma certeza o acompanha na vida: a morte! Rico ou pobre, grande ou pequeno, todos havemos de passar a fronteira que nos separa da outra margem rumo ao infinito, numa viagem sem retorno que convém preparar!

De pouco ou nada servem as lágrimas, as palavras ou os gestos, tantos sinais exteriores de tristeza e condolência, quando em vida nos alheamos das boas práticas, da comiseração e das boas maneiras! Como refere o Papa e bem, sobre o ser humano, que considera estranho, nomeadamente, quando, “se afasta dos vivos e se agarra, desesperado quando estes morrem; ficam-se anos sem conversar com um vivo, desculpa-se e faz homenagens, quando este morre; zanga-se com os vivos e leva flores aos mortos”!

O Papa conclui: “Aos olhos cegos do homem, o valor do ser humano está na sua morte, e não na sua vida”!

Grande verdade que nos devia fazer mudar de atitude. Já pensamos, a sério, nisso? Podemos facilmente entender que, os adornos das nossas sepulturas, sendo importantes, não são a essência da Solenidade de Todos os Santos e Fiéis Defuntos, memorável demonstração de fé e saudade.

Que esta sentida homenagem aos nossos familiares e amigos, em tempo de pandemia, nos ajude a encontrar caminhos novos de reconciliação, de harmonia e de paz. Que a nossa preocupação, seja centrada sobre o essencial, em detrimento do ilusório, do perecível e acessório. Primeiro os que vivem ao nosso lado, tantas vezes do mesmo sangue; a vida e os vivos, acima de tudo e de todos!

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