Solidão

A voragem como é vivida hoje em dia a vida, sem contemplações, e a forma como se organizam as famílias, faz com que nos deparemos com situações nada agradáveis, para com aqueles que vivem em solidão.

Uma casa está cheia menos tempo do que vazia.

Aqueles que chegam a idades mais avançadas, são as principais vítimas, o que não invalida que pessoas em idade activa não sejam afectados. Mas são escalas menores e por tempos definidos.

São muitos e diversos estados que levam à solidão. A partida dos filhos e o esvaziamento da casa é o início desse sentimento.

Depois, a pobreza, a doença, ou dificuldades financeiras, a viuvez entre tantas outras, que os restringe e confina ao espaço da casa, mas também a arquitectura da mesma, com barreiras arquitectónicas que, aliadas às anteriores, não lhes permite saídas até ao exterior de forma autónoma.

A reduzida mobilidade aliada a um fraco estado de saúde, desempenham um acentuar negativo e atractivo para o estado de solidão.

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Aqueles que, por diversos motivos, passam a viver em lares, deixando para trás a casa onde ficaram todas as melhores recordações, e memórias, ou o fruto de uma vida inteira de trabalho. Tudo isto contribui para dificuldade de integração.

E ali não lhes falta companhia, estranha é certo, e que pouco ou nada lhes dirá, porque o que ali chega em força é a solidão.

A nossa casa é o nosso castelo o nosso reduto onde nos refugiamos, e que sempre nos acolhe como nenhum outro edifício, mesmo que seja muito superior.

É em casa que podemos carpir as nossas dores ou outra agrura momentânea da vida.

Porque, em cada parede, em cada divisão, em cada móvel, estão molduras com muitas fotografias, da família a falar da história da nossa vida.

A nossa casa fala connosco, respira e transpira memórias. Basta fechar os olhos para sentirmos as gargalhadas de crianças, de várias gerações: dos filhos ou dos netos e até bisnetos. Das festas em família, dos aniversários, baptizados, das comunhões, casamentos mortórios, partidas ou chegadas.

Durante décadas, enchemos as casas de recordações que, com o passar dos anos, acentuam a necessidade em as ter. Porque é a idade que valoriza esses pequenos detalhes que antes não compreendíamos ou aceitávamos bem.

Mesmo quando todos se vão, e a casa se esvazia, podemos travar diálogos ou monólogos com as fotos que, de forma abundante, existem pela casa.

Um casal suporta muito melhor a solidão do que depois da partida de um dos conjugues.

Até passar a viver com um filho, não os impede de se sentirem em solidão.

É como viver num local pouco movimentado não quer dizer que estejamos a viver em solidão. O mesmo se pode dizer que, estando numa rua ou avenida extremamente movimentada de uma grande cidade, não tenhamos solidão.

É que a solidão incomoda, perturba faz sofre e pode matar.

 

(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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3 comentários

  1. Muito boa reflexão. Seu delinear deste sentimento é perfeito. Adorei ler.

  2. Muito grato Jandui Macedo.

    É muito bom ter este eco vido de uma ilustre escritora brasileira.

  3. A solidão não é preciso ter uma idade certa para a sentir. A solidão para o meu ver podemos sentila de formas diferentes. Eu com a idade q tenho q pelo q já vivi na parte da minha vida não sinto a solidão de estar só gosto muito estar comigo. Mas sim sim solidão de certos momentos e de certas pessoas q já partiram e de muitas q achava q eram dita família e amigos e num momento muito difícil pessoalmente e de saúde ninguém me deu uma palavra nem uma MSG,nada. Não peço presença das pessoas mas realmente só em momentos difíceis verifica-se quem é especial nas nossas vidas. Mas gosto de sentir-me comigo . E em minha bolha sinto-me protegida.

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