Sonetos escolhidos pelo autor.
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Bárbaro tempo
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Espanta-se a sociedade segregada
Perante o fausto elogio contra natura
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Falsa doutrina, podre, malfadada
Parto maldito de uma causa impura
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Abrem-se as salas dos notariados
E em breve as naves dos templos de Deus
Incensarão iguais apaixonados
Escárnicos pares que o fado inverteu
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Que pais darão estas aberrações
PUBQue a lei uniu e as bênçãos dotaram
Que poderá esperar-se dessas adopções?
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Que será das crianças que privaram
No dia-a-dia c’o as contradições
Que lhes fará aquilo com que lidaram?
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Chãos de Guerra
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Não há altares que valham, que se bastem
Nem d’Allah as bandeiras esverdeadas
Que o sangue é negro e corre plas estradas
Não há mais dor que as orações resgatem.
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Que céus são esses que a fumaça esconde?
Que estrondos colossais, que vil fragor,
Ofendem tanto a terra do Senhor
Que procura o amor, sem saber onde!
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Ódios à solta por trás dos canhões
Meninos-homens, raivas sem idade
Chãos semeados só de humilhações.
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Pasma-se o mundo de incredulidade
Esgrimem-se vozes, gritam-se razões
Mas estes chãos são de infertilidade!
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De fé perdida
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Cheiros de ti ficaram na almofada
Que junto à minha, alva, permanece
E enquanto me tarda a alvorada
No frio da noite só ela me aquece
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As saudades são tantas, e a dor
Da tua ausência nos nossos lençóis
Trazem memórias vivas do amor
que tal como a minh’alma tu destróis
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Surgem alvores do dia e dou comigo
Remoendo as razões deste abandono
Mas mais do que abismar-me não consigo
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Porque te dei de mim todo o meu sono
Se o que investi em ti estava perdido
Até a fé, que agora não tem dono!
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Meu amor não tem dono
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Meu amor não é teu nem de mulher nenhuma
É barco sem amarras, sem um porto de abrigo
Eterno navegante, talvez por meu castigo
Tem destinos de vento nos mistérios da bruma!
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Por isso terna amada, não me prendas ao leme
Que eu triste morrerei gemendo males d’amor
Perdida a liberdade, mais sentirei a dor
E saudade de amar, que meu peito mais teme!
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Procura-me no mar, e lá me encontrarás
Entre as névoas da costa, e então me verás
acenando-te ao longe, para além do farol…
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Tristeza não te trago, trago-te cheiros de mar
Nem saudade de mim, que me dou ao chegar
Descansos, esses sim, que me canso de sol!
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Mães tristeza
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Atrozes são as dores de uma mãe
que castigado vê o seu rebento
porque é só dele o visceral alento
que lhe sustenta a alma e a mantém
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Ao ver extinguir-se o elo que acarinha
como ente desgraçado a dirigir-se
ao nada de um futuro magro e triste,
a mãe mais envelhece, mais definha.
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Será que lá do céu Deus se apieda
e vê no periclitar daquele credo
o mal que toma o ser que a dor carrega?
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Que desespero é, que mete medo
Este vazio de fel que até sonega
um pouco de doçura ao gosto azedo?
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No amor, o que mais querer
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No amor o mais querer por melhor sorte
Que alguém que ama pode auspiciar
É ver o ser amado alçar-se forte
De volta à vida, a se regenerar
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Assim se apoucam preocupações
Assim se aplaca a dor que nos doeu
Assim nos voltam gratas orações
Assim se louva o que se recebeu
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Ceguemo-nos ao mal que nos afronta
Quando outro mal ao outro mais molesta
Porque essa dor é sempre a que mais conta
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E submissos ao que não se contesta;
O princípio de amar e o que ele aponta
Façamos do bem querer a nossa gesta!