Sonetos Escolhidos 2

Sonetos escolhidos  pelo autor.

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Bárbaro tempo

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Espanta-se a sociedade segregada

Perante o fausto elogio contra natura

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Falsa doutrina, podre, malfadada

Parto maldito de uma causa impura

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Abrem-se as salas dos notariados

E em breve as naves dos templos de Deus

Incensarão iguais apaixonados

Escárnicos pares que o fado inverteu

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Que pais darão estas aberrações

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Que a lei uniu e as bênçãos dotaram

Que poderá esperar-se dessas adopções?

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Que será das crianças que privaram

No dia-a-dia c’o as contradições

Que lhes fará aquilo com que lidaram?

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Chãos de Guerra

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Não há altares que valham, que se bastem

Nem d’Allah as bandeiras esverdeadas

Que o sangue é negro e corre plas estradas

Não há mais dor que as orações resgatem.

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Que céus são esses que a fumaça esconde?

Que estrondos colossais, que vil fragor,

Ofendem tanto a terra do Senhor

Que procura o amor, sem saber onde!

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Ódios à solta por trás dos canhões

Meninos-homens, raivas sem idade

Chãos semeados só de humilhações.

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Pasma-se o mundo de incredulidade

Esgrimem-se vozes, gritam-se razões

Mas estes chãos são de infertilidade!

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De fé perdida

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Cheiros de ti ficaram na almofada

Que junto à minha, alva, permanece

E enquanto me tarda a alvorada

No frio da noite só ela me aquece

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As saudades são tantas, e a dor

Da tua ausência nos nossos lençóis

Trazem memórias vivas do amor

que tal como a minh’alma tu destróis

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Surgem alvores do dia e dou comigo

Remoendo as razões deste abandono

Mas mais do que abismar-me não consigo

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Porque te dei de mim todo o meu sono

Se o que investi em ti estava perdido

Até a fé, que agora não tem dono!

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Meu amor não tem dono

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Meu amor não é teu nem de mulher nenhuma

É barco sem amarras, sem um porto de abrigo

Eterno navegante, talvez por meu castigo

Tem destinos de vento nos mistérios da bruma!

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Por isso terna amada, não me prendas ao leme

Que eu triste morrerei gemendo males d’amor

Perdida a liberdade, mais sentirei a dor

E saudade de amar, que meu peito mais teme!

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Procura-me no mar, e lá me encontrarás

Entre as névoas da costa, e então me verás

 acenando-te ao longe, para além do farol…

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Tristeza não te trago, trago-te cheiros de mar

Nem saudade de mim, que me dou ao chegar

Descansos, esses sim, que me canso de sol!

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Mães tristeza

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Atrozes são as dores de uma mãe

que castigado vê o seu rebento

porque é só dele o visceral alento

que lhe sustenta a alma e a mantém

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Ao ver extinguir-se o elo que acarinha 

como ente desgraçado a dirigir-se

ao nada de um futuro magro e triste,

a mãe mais envelhece, mais definha.

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Será que lá do céu Deus se apieda

e vê no periclitar daquele credo

o mal que toma o ser que a dor carrega?

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Que desespero é, que mete medo

Este vazio de fel que até sonega

um pouco de doçura ao gosto azedo?

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No amor, o que mais querer

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No amor o mais querer por melhor sorte

Que alguém que ama pode auspiciar

É ver o ser amado alçar-se forte

De volta à vida, a se regenerar

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Assim se apoucam preocupações

Assim se aplaca a dor que nos doeu

Assim nos voltam gratas orações

Assim se louva o que se recebeu

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Ceguemo-nos ao mal que nos afronta

Quando outro mal ao outro mais molesta

Porque essa dor é sempre a que mais conta

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E submissos ao que não se contesta;

O princípio de amar e o que ele aponta

Façamos do bem querer a nossa gesta!

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