Sonetos escolhidos.
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NO AMOR, O QUE MAIS QUERE
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No amor o mais querer por melhor sorte
Que alguém que ama pode auspiciar
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É ver o ser amado alçar-se forte
De volta à vida, a se regenerar
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Assim se apoucam preocupações
Assim se aplaca a dor que nos doeu
Assim nos voltam gratas orações
Assim se louva o que se recebeu
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Ceguemo-nos ao mal que nos afronta
PUBQuando outro mal ao outro mais molesta
Porque essa dor é sempre a que mais conta
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E submissos ao que não se contesta;
O princípio de amar e o que ele aponta
Façamos do bem querer a nossa gesta!
( morte na aldeia)
TRISTE MORRER
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Com um ruído de bengala gasta
P’la calçada se arrasta o velhinho
Move-o a morte que lhe foi madrasta
Ao levar deste mundo o seu vizinho
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Porque no abandono pelos seus
Mais lhe não resta que amar os amigos
E os lembrar chorando os apogeus
Que como os seus se vão quedar esquecidos
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Vela o velhinho e chora o companheiro
Que ali cumpre já frio preceito antigo
Até que o dia nasça soalheiro;
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E à terra torne que em pó o tornará
Como destroço inútil desta vida
Porque valor não tem quem cá não está!
Desconfie-se dos auto-proclamados ‘eruditos’.
Por norma, o seu espírito não excede os limites
da banalidade e as restritas aspirações do acessório.
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A REJEIÇÃO DO IMPERFEITO
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O teu saber, e o meu; ambos restritos
– Que do saber, da fama não me fio –
Se de ‘eruditos’ está cheio o vazio
Que me preencham sedes d’infinito!
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E assim, postulo a causa da poesia
– que ao douto não deve explicação –
Como valor maior da exaltação
Que o espírito liberta, em extasia.
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Essa poesia que canta o amor,
Que, solidária, ampara cada dor,
Esse encanto que vem do coração.
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Que os ‘eruditos’ falem dela a eito,
Alucinados em tornar perfeito
O que imperfeito é, pla rejeição!
DOLOROSA INTIMIDADE
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Quem não se tenta perante o magnetismo
De um encontro com a sua solidão?
Quem pode resistir à tentação
De desvendar o seu próprio hermetismo?
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Passamos toda a vida a distrair-nos
Tudo é pretexto pra não estarmos sós
Porque há receios, há pavores em nós
Do que possamos ser se o descobrirmos
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Mas um dia quebramos os tabus;
Seja o que Deus quiser! – e decidimos
Despir as protecções e ficar nus
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E aberto o nosso cerne então surgimos
Perante todas as dores da nossa cruz;
As que, mesmo escondidas, mais sentimos!
ESPERANÇOSA MORTE
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Alma de mim metade, onde vós estais
Sabei-me nesta terra um penitente
Pois só por vós e para vós somente
Eu vivo das memórias que lembrais
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Aí, ao pé de Deus, estais abrigada
Dos males desta vida de tormentos
E por meu mal vazio estou d’alentos
C’o a esperança de a mim vos ver chegada
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Vos peço que por isso prepareis
Um cantinho no céu ao vosso lado
E assim chegada a hora sabereis;
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Que nessa esperança durmo sossegado
Por saber que a certeza em vós poreis
Que o nosso amor será perpetuado!
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DITOS DE CIRCUNSTÂNCIA
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No velório de um cidadão qualquer,
Mesmo que em vida ele haja sido um traste,
Sempre se ouve – baixinho – alguém dizer:
Que perda irreparável, que desastre!
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Mas, pós três badaladas e uma pá de cal,
No alisar das rugas que imitam o chorar,
Alguém dirá – baixinho – que fulano tal;
Bruto, arrogante e mau, “as foi pagar”!
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Coitado, outros dirão, lá foi pra Deus…
São os que não tiveram que aturar
Aquele que foi o demo para os seus!
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Faltou-lhe conhecer que o verbo amar
– Mesmo pra quem é laico ou é ateu –
É o que mais importa conjugar!