Sonetos escolhidos.
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A NAU QUE NAVEGUEI
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Da minha nau restam quilhas na lama
E uns quantos madeiros arqueados
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Das côncavas cavernas dos costados
Nada que lembre o que lhe deu a fama.
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Com ela naveguei tendo a bombordo
Toda a costa africana ocidental
Depois de haver deixado Portugal
Meu adorável reino, que recordo.
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Fui penejando versos na amurada
PUBNo coração; a saudade da amada
No horizonte; o olhar deslumbrado.
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Todas as tardes, no castelo da popa
Sempre pousava uma branca gaivota
Na espera de escutar de novo um fado.
DE FÉ PERDIDA
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Cheiros de ti ficaram na almofada
Que junto à minha, alva, permanece
E enquanto me tarda a alvorada
No frio da noite só ela me aquece
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As saudades são tantas e a dor
Da tua ausência nos nossos lençóis
Trazem memórias vivas do amor
que tal como a minh’alma tu destróis
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Surgem alvores do dia e dou comigo
Remoendo as razões deste abandono
Mas mais do que abismar-me não consigo
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Porque te dei de mim todo o meu sono
Se o que investi em ti estava perdido
Até a fé, que agora não tem dono!
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EU TE NOMEIO, MÁGOA
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Eu te nomeio mágoa, que não sabes
ver neste porto o cais de uma saída
quisera dar-te a ordem de partida
pois tu recusas ver que aqui não cabes
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Nesta tristonha nau da minha vida
que tenta enfunar velas e lograr
Ganhar destreza e fazer-se ao mar
Encontrar noutras águas melhor lida
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Sigo a ternura nova de uma esperança
que me traga venturas e bonança
Eu te renego mágoa, vai-te embora!
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Que os ventos estão hoje de feição
Eu te maldigo mágoa, vai-te agora!
Já se enche de maresia o coração
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FADO MILITAR
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É lá, nesse recanto da saudade
Que mora o fado antigo, marinheiro
Aquele fado de sempre, sem idade
Que numa voz maruja foi primeiro
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Do Gama as caravelas foram palco
Dessa canção tristonha, perturbada
Que brota das gargantas em socalco
Com em soluços d’alma esfarrapada
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Falo de Portugal, emocionado
De lá trouxe o meu fado, alegremente
Numa esperança de vida, engalanado
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E inda o escuto ao longe, sobre o mar
Como se os ecos seus fossem presentes
No luso coração nele a vibrar
EVOCO ESPARTA
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Por ver tanta ganância neste mundo
Eu evoco de Esparta os sóbrios usos
Leônidas relembro, rei facundo
Que só esbanjou coragem c’os intrusos.
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Conjuro a educação n’essa urbe antiga
Onde o respeito aos velhos era lei
E quem malbaratasse era banido
Como gente mal querida pela grei.
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Aos jovens competia a contenção
Como princípio mor a respeitar
E a conduzir na vida a sua acção,
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E cedo o seu dever era zelar
Plo sossego das gentes e do chão
D’amada pátria, o seu cimeiro altar.