Fé e Tradição: Celebrações, Peregrinações, Comunhões!

António Luís Fernandes

Funcionário Superior do Comité Económico e Social Europeu

 

Estamos em pleno tempo das mais diversas festividades; dos Santos populares e outros oragos, dos aniversários e encontros, das romarias e das celebrações, de júbilos e de comunhões…

Em Portugal, mas também da sua Diáspora, emergem todas essas manifestações, que resultam de um ano laboral intenso. Para além de tantas festas populares e de rua, podemos dar evidência às celebrações litúrgicas, às peregrinações e às comunhões; momentos marcantes de reencontro, de testemunho e de uma fé, cada vez mais à medida do momento! 

 

Quando um português decide emigrar, incluindo nos tempos atuais, transporta sempre consigo o condão da esperança e da fé. Recorre a qualquer tipo de ajuda. E é no seio da Igreja que encontra sempre algum reconforto; da mesma forma se distancia dela, quando consegue vingar na vida! É nessa base cultural, de fé e contradição que assistimos a vários momentos de engalanada celebração, com características muito próprias.

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Daí a organização das peregrinações a santuários Marianos, em comunhão com os peregrinos de Fátima. Nas ruas e ruelas, também acontece em Bruxelas… Um pouco por toda a parte, com carisma e arte, mergulhando naquilo que nos identifica como povo de uma Nação de crentes, mas distantes dos Sacramentos!

 

Esta necessidade em “peregrinar” tem história e significado profundo. A peregrinação faz-nos quebrar as regras do quotidiano, do nosso mundo habitual, levando-nos ao encontro de algo em quem confiamos, que reconforta e que alenta. Os testemunhos vivos apontam nesse sentido, independentemente da prática religiosa. Até porque todo o homem é um ser em permanente caminhada; que o digam os compatriotas em diáspora! A Bélgica também é um exemplo dessa componente mobilizadora e de organização.

 

A festa das Comunhões traduz um outro relevante aspecto das celebrações solenes, com alguma incidência social. Vestem-se os mais vistosos fatos, preparam-se e confecionam-se, requintados manjares. A festa é preparada com antecedência. Formam-se grupos e programas, segundo as idades e a finalidade. É cada vez mais comum verificar um assumido envolvimento integrante noutras comunidades cristãs, na sociedade de acolhimento. Houve-se falar português nas celebrações multiculturais! São cada vez mais as famílias portuguesas com o sentido de pertença, no seio da comunidade local.

 

O mesmo acontece noutras lugares da Bélgica, com destaque para Antuérpia e Liège. Já lá vai o tempo da exigência do padre português e da língua materna, para a prática religiosa e de afirmação na fé. A tendência aponta no sentido da participação colectiva e integrada. Tal como acontece na escola e no sector laboral. A evolução é notória, também devido à falta de agentes pastorais acreditados. Não deixa de ser sintomático o facto evidente da falta de vocações religiosas no âmbito da mobilidade humana e da Diáspora portuguesa! Acentua-se a crise, também no aspecto de assistência religiosa, que inclui as comunidades locais!

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A festa, com pompa e circunstância das comunhões, poderia ser o pretexto ideal para relançar aprofundada reflexão sobre a temática das vocações religiosas e de assistência pastoral. Um debate necessário e urgente. A Igreja continua aquém das expectativas, num manifesto atraso, que interpela e apoquenta. A passividade é evidente, o que explica, em boa medida, a baixa taxa da prática religiosa.

 

Num contexto de busca e de interrogações é de realçar o fenómeno da dispersão e do marcante desinteresse… Logo após os sacramentos, que dizem pertencer à tradição, os jovens dispersam-se, desaparecem, desligam-se de uma Igreja que pouco lhes diz; demasiado tradicional, cadenciada por ritos, em detrimento de uma pastoral dinâmica, de partilha e assimilação dos valores que lhe estão subjacentes.

 

A catequese, que para muitos “é uma seca” vai envolvendo os pais, os padrinhos, a família e amigos; num misto de fé e da propalada tradição. Mesmo assim constitui um farol de unidade e alguma esperança! Uma actividade em movimento, que participa e reune. É transitória e efémera, o que deixa sempre o trago amargo da decepção. No acompanhamento e na organização encontram-se sempre as catequistas, que voluntariamente se dedicam a cumprir horários e programas de catequese, formação cristã, tantas vezes com notórias limitações.

 

Muita entrega e dedicação, sem nada esperar a não ser, o reconhecimento e a alegria de cumprir, com êxito, a missão de ensinar. É de enaltecer a vontade e a intenção com que o fazem! Pena não se conseguir implementar uma cultura de adesão efectiva aos valores do Evangelho, rapidamente atrofiado pela vontade de um curso, com impacto social e consequente rentabilidade profissional. A Igreja precisa de reformas, num acerto com a evolução tecnológica, científica, social? Já ninguém duvida disso, incluindo aqueles que se calam perante um fenómeno demasiado evidente.

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