Janeiro começou frugal, e em exatamente trinta e um dias manteve-se sempre vagaroso.
Não concordam? O primeiro mês do ano andou tão lentamente que qualquer pessoa ficou feliz ao ver o dia 1 de fevereiro a aparecer com a maior normalidade de todas. Assim, sem mais, como sempre sucede, mas com o peso do tempo que não é igual para todos.
Infelizmente, há humanos que não têm a experiência de ver um mês a ser mais rápido ou mais lento do que o outro. Milhares, milhões de pessoas encontram-se num tremendo estado de desolação e lutam para continuarem a viver os dias todos dos meses, e é uma enorme conquista terem vivido janeiro nessa lentidão devastadora e continuarem a sonhar cada dia como se fosse o último ou o primeiro de um novo sonho.
Por isso o tempo e a nossa imaginação do tempo é tão diferente, embora os segundos tenham o ritmo constante, mas percebo que os corações não batam todos no mesmo tempo que podemos imaginar.
Aqui, no nosso país, o tempo tem o sossego da paz, da liberdade, das regras que estabelecem uma sociedade amena, como este sol que nos tem coberto diariamente. Mas, mesmo em calma, temos o dom de criar depressão nos meses… e seria por isso que janeiro avançou tão lentamente?
Fecho o olhar e imagino fevereiro mais alegre do que janeiro. Talvez os problemas de cada um e todos eles juntos desapareçam no tempo e se tornem somente memórias esquecidas e que o tempo embale com a mesma mansidão de sempre.
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Mas de olhos abertos, atentos, sabemos que não é assim. No mesmo tempo do nosso, e pedra a pedra, no silêncio e não consigo imaginar a dor, o tempo é um grito de desespero. Pedra a pedra procura-se vida nas ruínas, no pó. Ao frio e as lágrimas a lavarem o ferro.
Ao lado, ou ali muito perto, bombas destroem a liberdade de outro país numa ameaça absurda que nasce de ideias de outro tempo. E, pedra a pedra, também se renasce diariamente sem saber se amanhã haverá tempo. E é assim em tantas partes do mundo.
Sabem o que penso? Pedra a pedra, em todo este planeta tão areia no Universo, para milhões e milhões de mãos e rostos sem lágrimas, o tempo parou… e a dor do tempo parado sente-a quem a vive na desolação de um coração desesperado.
Ainda são capazes de imaginar como querem o tempo em fevereiro?
4 comentários
Amigo,
Tempo para viver tempo.
Pão, leite, batatas, arroz, massa, frango, peixe, carne, maçãs, peras, uvas, assistência urgente, remédios urgentes, emprego, habitação básica, e PAZ.
Tempo para viver tempo.
Daniel, como gostava de um fevereiro iluminado de gratidão e muito, mas mesmo muito, solidário. Talvez possamos pegar nas pedras das ruínas (dos outros!) e olhá-las com o desejo e a vontade de nos (re) erguermos por dentro. Que te parece? Talvez o tempo possa ter o Tempo da Eternidade…
Rosa Moreira era disto que eu precisava, de agradecer o que tive e o que repartir por quem não teve.
Vou pegar nas pedras, boas das ruínas dos outros, e reconstruir-me, no que em mim ruiu.
Telmo, por entre as tantas poeiras das ruínas enconde-se, tantas e tantas vezes, a vida que nunca ousaríamos, ali, procurar. Apenas por distração! Talvez uma poeira iluminada procure o seu desejo de reconstrução. Estenda-lhe o olhar! Afinal, o Daniel já nos indicou a direção: vida é também um modo de olhar o tempo…