Joaquim Vasconcelos
Engenheiro e Ambientalista)
Há mais de duas décadas que, cientistas, biólogos e ambientalistas se têm desdobrado em esforços, para alertar os centros decisores, das alterações climáticas, cujos efeitos deram origem ao aquecimento global do planeta. O que nessa altura parecia mais um (entre muitos) alarmes dos ambientalistas tornou-se uma realidade que preocupa os centros decisores (incluindo os políticos, os quais nessa altura designavam aqueles de fundamentalistas).
Mas a situação foi-se agravando a um ritmo mais rápido dando origem a fenómenos climáticos extremos, conforme foi alertado pelos cientistas. Esse desapreço originou por todo o mundo temporais cada vez mais graves e difíceis de controlar, inundações, furacões, tornados, secas e consequentemente incêndios, pois a natureza não se compadece com disparates que lhe fazem mostrando que as preocupações dos ambientalistas, não eram infundadas. Esta visão da gestão ambiental, prova que de facto a ciência alertou os centros decisores, para uma situação, que devido à falta de visão daqueles, colocou em risco diversos ecossistemas e a diversidade no planeta terra.
No nosso recanto, em 2014 vimos o mar avançar sobre o litoral, tendo no norte do País, em Vila Praia de Âncora destruído a duna dos Caldeirões.
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Recentemente foi a inundação da baixa da cidade de Albufeira no Algarve.
Os casos são tantos que se conclui que os efeitos dessa subida de temperatura já são uma realidade, há algum tempo.
Cimeira do clima
Já em 2001, o IPPC (Painel Intergovernamental para as Alterações climáticas) grupo de cientistas das nações unidas preveniu o mundo para a situação; muita gente considerou as conclusões alarmistas. No entanto a ONU (organização intergovernamental criada para pugnar pelo entendimento e desenvolvimento dos estados), teve a noção de que nenhum climatologista alheio aos circuitos do poder, estava a exagerar sobre o que referiam do aquecimento global, tendo por esse facto há mais de vinte anos iniciado um trabalho de sensibilização dos centros de decisão sobre o aquecimento global – porque a Terra estava mesmo a ficar mais quente.
Na realidade o relógio já está em contagem decrescente, todos esperamos que ainda com possibilidade de ser travada a sua caminhada, mas a multiplicação de tempestades e a subida do nível dos mares, que está a ser motorizada, prova isso mesmo.
PUBDepois do fracasso das outras cimeiras, a ”A Cimeira do Clima de Paris”, ou COP21, seria uma das últimas esperanças, para travar a destruição do planeta. Mais uma vez se discutiam os efeitos das alterações climáticas e as medidas para as combater. Procurava-se nesta COP (Conference of the Parties, conferência das partes), que há 21 anos reunia, à procura de um consenso, para travar a possível autodestruição da nossa civilização.
Finalmente, em Paris chegou-se a um acordo. Os 195 países disseram “sim” a um novo tratado internacional, que envolverá todas as nações num esforço colectivo para tentar conter a subida da temperatura do planeta a 1,5ºC.
Os cientistas e ambientalistas referem ser um acordo fraco, embora considerem que não deve ser desprezado, porque não deixa de ser uma cimeira histórica, pois pela 1ª vez conseguiu-se um entendimento intergovernamental, com o objectivo de minimizar os efeitos perversos a que está subjacente o processo do aquecimento global. No entanto estas pessoas (conscientes desde sempre), apresentam sérias reservas, devido a estar-se perante um plano de intenções, a que leva a considerar que acordo não garante um acordo vinculativo entre todos os estados-membros, clarificando objectivos e directivas comuns, incentivando um maior empenho de todos os países. Neste não há metas impostas aos países, são eles que decidem o que fazer.
Embora reconheçamos que é uma aposta extremamente ambiciosa, porque de facto vai haver necessidade de alterar toda uma organização em que assentava o desenvolvimento industrial mundial, alimentado por combustíveis fósseis, que são os responsáveis pela maioria da poluição, que deu origem ao aquecimento global.
A base do acordo é um plano nacional, a apresentar a cada cinco anos por todos os países, contendo a sua contribuição para a luta contra o aquecimento global. Se as promessas forem cumpridas, iremos livrar-nos da dependência dos combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural- que a toda a hora estamos a queimar, caso contrário, se esse acordo não resultar, o preço a pagar será demasiadamente elevado: significará um aumento de catástrofes naturais, de conflitos, nova vaga de refugiados (refugiados do ambiente), o início do holocausto.
Os Cientistas consideram que a solução do problema, é a utilização quase total de energias limpas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quase todos nós referimos gostar muito dos nossos filhos, mas eu considero que gostar deles não é só dar-lhes umas prendinhas no Natal, muito mais importante é dar-lhes um mundo habitável!’
Tendo em consideração que os efeitos das alterações climáticas são um processo relativamente lento, quando comparado com a duração de uma geração social humana, se nada ou pouco se fizer para as combater, os processos biofísicos a médio (2050) e longo prazo (depois de 2100) vão se tornando mais gravosos chegando ao ponto de se tornarem irreversíveis. Por outras palavras, se nada for feito, pelos centros decisores actuais, “além de serem “umas cabeças duras “, são hipócritas, egoístas e assassinos, porque irão deixar às próximas gerações um mundo minado de autênticas bombas relógio.
O aquecimento global é muitíssimo mais de que as subidas da temperatura, porque os efeitos secundários serão terríveis – fenómenos climáticos extremos irão por em risco a própria vida na terra.
Na prática, a sobrevivência da vida na terra é a sentença de morte dos combustíveis fósseis, já que para lá chegar será preciso reduzir drástica ou totalmente o seu uso. Mas a falta de uma data concreta para a redução de emissões deixa muitos pontos de interrogação. Os cientistas querem acreditar no bom senso dos centros decisores porque temem que alguns sejam suficientemente irresponsáveis para não se preocuparem com as questões ambientais que estão a suceder.
Embora todos saibamos que a gestão ambiental pública é um processo de mediação de interesses e conflitos entre actores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído. Este processo de mediação define, continuamente, o modo como os diferentes actores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também, como se distribuem na sociedade os custos e os benefícios decorrentes dessas acções, pelo que se torna muito difícil para os decisores, políticos ou não aperceberem-se dos alertas quer dos cientistas como dos biólogos ou ambientalistas, pois a ausência de uma observação em tempo de vida leva muitas das vezes a que muitas das decisões sejam adiadas ou anuladas.
De acordo com a opinião de muitos cientistas esta cimeira foi considerada a derradeira, sobre alterações climáticas. Se não se chegar depressa a implementação dos acordos, só nos resta esperar pelo fim apocalíptico, porque possivelmente poderemos chegar a um ponto que seja impossível inverter o sistema.
Devido às mudanças do clima, as águas do mar continuarão a subir indo “tomar conta de grandes áreas litorais”, as inundações e as secas vão dar origem a uma nova onda de refugiados e a nova onda de conflitos.
Esta cimeira, devido à sua mediatização tornou-se também um marco histórico na sensibilização do cidadão comum, referentes ao aquecimento global, colocando-o perante uma realidade pouco agradável mas que tantas vezes, era relegada para segundo plano.
Mas, ainda temos uma longa lista de ameaças que vamos ter de passar, devido às asneiras realizadas e ao processo não ter sido iniciado mais cedo, porque a contagem decrescente já se tinha iniciado havendo situações que ainda poderão acontecer, podendo originar grandes pesadelos para todos nós.
Agora, se houve um bocado de atenção do povo português, parece que todos nós ficamos esclarecidos de quem são os verdadeiros “fundamentalistas”, por isso sou de opinião que todos seremos responsáveis por tanto disparate que se faz e onde se gasta dinheiro que podia e devia ser canalizado para outros fins, mais sociais.
Temos de ser realistas e começarmos já a procurar encontrar soluções de minimizar ou mitigar, o aquecimento global, lembrando-nos que a “terra não é nossa pedimo-la emprestada aos nossos filhos”.