Editorial

A Terra mais feliz do Mundo
Joaquim Letria

Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

Eu gostaria de ser governado por gente que desejasse a nossa felicidade colectiva e respeitasse a nossa ânsia de afirmação patriótica, de paz e de bem estar as quais nos são roubadas ainda antes da adolescência.

No fundo, esta gente podia continuar a corromper, a desfalcar, a estragar e a desperdiçar, mas menos do que faz, e sem nos entristecer ou levar-nos a ir trabalhar para a terra dos outros para vivermos um pouco melhor do que podemos viver cá e sem vermos tanta pouca vergonha.

 

Agora falam muito em descentralização e na necessidade de a instituir no nosso país de modo a fazer crescer as máquinas dos partidos e arranjar benesses e sinecuras para aumentarem as receitas das suas famílias partidárias. Mas a pouca vergonha já está descentralizada, fácil de ser encontrada em muitas fatias do estado central e nos tentáculos das suas empresas públicas, bem como espalhada em muitas autarquias.

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Olhando para o sistema financeiro, para os sectores mais importantes da democracia, podemos dizer que estamos entregues aos bichos. Poderão alguns bem pensantes dizer que isto é populismo. Não é. É apenas a verificação dos factos decorrentes da governação de 10 milhões de seres humanos na União Europeia, em plena Europa ocidental, muitos menos gente do que as populações de algumas cidades geridas por alcaides, mayors ou prefeitos que podemos encontrar em todos os continentes.

Mas deixemo-nos de geopolítica ou de considerações. E restrinjamo-nos a uma área pequena e nossa conhecida: a Galiza e o Alto Minho, para atentarmos nas diferenças essenciais. Lembremo-nos da escandaleira do prédio Coutinho, no modo de tratar idosos fragilizados e de deixar descobrir depois as trapalhadas com que se envolvem em ateliers de arquitectos. Uma vergonha que vem dos camaradas de há 20 anos e agora até tem a juntar ao coro uma ária na voz do ministro do ambiente, que não foi ainda capaz de consertar Pedrogão e Mação nem sequer deitar abaixo uma única barraca ilegal na praia da Fonte da Telha, mas que ameaça os velhos residentes do Coutinho, em Viana do Castelo.

Deixemos esta porcaria e passemos a fronteira em Caminha, tomemos o “ferry”, atravessemos para A Guarda e paremos em Oia. Naqueles 83 quilómetros, a autarca Cristina Correa criou a Vereação da Felicidade, juntou-lhe a Vizinhança, Cultura e Serviços Sociais e anunciou que Oia é a terra mais feliz do Mundo, como dizem os seus moradores, uns que deixaram Vigo  para gozarem esta felicidade à beira mar, outros que vêm de longe aterrar no Porto para irem passar temporadas felizes em Oia.

Em Oia, além do peixe mais fresco do planeta, há quem leia livros a doentes e a analfabetos, quem dê explicações gratuitas a jovens estudantes com dificuldades e quem crie actividades desportivas e culturais para diferentes idades. Como dizem alguns residentes, entre os quais o cidadão Naro que trocou Vigo por OIa, “não digam a ninguém que esta é a terra mais feliz do Mundo”. Também acho, não vá o diabo tecê-las…

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