O tempo, esse maestro invisível das nossas vidas, rege o nosso ser com uma cadência imutável.
Cada instante empurra-nos inexoravelmente para o futuro, como se estivéssemos presos a uma locomotiva sem freios, avançando rumo a um destino incerto. Contudo, pergunto: por que razão esta viagem, inevitável e irreversível, tem de ser tão apressada? Se o tempo é, como dizia Einstein, uma ilusão persistente, porque não podemos moldá-lo à nossa medida, transformando esta jornada num passeio contemplativo, em vez de numa corrida desabalada?
Quero desacelerar. Quero sentir cada fração do presente antes que ela se dissolva na eternidade do passado. A velocidade com que vivemos, imersos numa sociedade que exalta a pressa e a eficiência, deixa-nos órfãos das pequenas maravilhas que se encontram nas margens do nosso percurso. O filósofo Blaise Pascal afirmou que toda a infelicidade humana advém da incapacidade de ficarmos sozinhos, quietos, num quarto. Será que a aceleração do tempo não é, afinal, um reflexo do nosso desconforto com o silêncio e a introspeção?
Talvez desacelerar o tempo não seja uma questão de manipular os ponteiros do relógio, mas sim de ajustar a nossa perceção. Henry David Thoreau, ao refugiar-se em Walden Pond, não procurou parar o fluxo do tempo, mas sim viver profundamente cada momento. Ele compreendeu que a verdadeira riqueza está na qualidade da experiência, e não na quantidade de anos acumulados. A nossa obsessão pela produtividade e pelo progresso tem-nos afastado dessa sabedoria ancestral.
Ao viajar mais lentamente, acredito que ganhamos a possibilidade de nos reconciliar com a nossa finitude. Afinal, cada instante é uma dádiva única, um fragmento irrecuperável da eternidade. Kierkegaard disse que “a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida olhando-se para a frente”. Paradoxalmente, é no ritmo mais lento que encontramos espaço para refletir, compreender e dar significado àquilo que vivemos.
Por que não fazer das horas uma tapeçaria rica, onde cada fio é tecido com cuidado e atenção? Quero perceber o aroma do café pela manhã, ouvir o riso das crianças ao longe e reparar na dança das folhas ao vento. Estas são as pequenas epifanias que perdem significado numa vida vivida a correr.
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Ao permitir-nos abrandar, talvez descubramos que não viajamos apenas para o futuro. Cada momento presente é, na verdade, um ponto de encontro entre o passado e o que está por vir, um fragmento de eternidade que merece ser vivido plenamente. Que a viagem seja lenta, então. Que seja serena e consciente, porque, como escreveu Fernando Pessoa, “vale mais sentir a vida do que senti-la a passar”.