Editorial

TURISMO ALAVANCA DO DESENVOLVIMENTO DE VIANA DO CASTELO
Redação

Redação

Partilhar

Antero Filgueiras *

Que o Turismo é uma relevante alavanca de desenvolvimento de qualquer território, isso é algo que já todos sabemos; já se o Turismo tem sido encarado como uma importante alavanca estratégica de desenvolvimento e promoção de VIANA do Castelo, isso já é uma outra questão e aí é que gravitam assinaláveis dúvidas.

Mas comecemos pelo “princípio das coisas”, para tornar tudo isto muito racional e objectivo. Imaginemos que o Município mandava realizar um estudo de opinião onde seria perguntado a todos os vianenses o que entende por turismo; o que é um turista; qual a importância do turismo em Viana do Castelo para os seus índices de felicidade relativa e níveis de desenvolvimento sócio cultural; quais os reais impactos nas finanças dos cidadãos. Porque será que não conhecemos nenhum estudo de opinião sobre o Turismo em VIANA do CASTELO?!

É incontornável que o Turismo, enquanto relevante sector de actividade económica em VIANA do CASTELO, continua a ser uma “indústria” relativamente jovem, muito incipiente e deveras frágil, e que apesar das milhares de linhas que sobre ele se tem escrito (para já não falar dos milhões de bitaites produzidos) o seu real impacto no desenvolvimento sócio-económico do Município é deveras muito modesto. Tal como o teste do algodão, aqui os números não enganam.

Convocados a tecer considerações e ajuizar sobre a importância do sector do Turismo, enquanto alavanca de desenvolvimento da economia vianense, é um exercício que exige um amplo e rigoroso conhecimento da realidade deste sector, que teve em António Alves da Cunha – fundador e líder do Grupo AVIC, 1º Presidente democraticamente eleito da CM de VIANA e ideólogo-fundador da Comissão Regional de Turismo do Alto-Minho – o seu maior e mais dinâmico artífice e um lúcido intérprete, com inúmeras “âncoras”, capazes de gerar atractividade e consequentemente maior e mais qualificado desenvolvimento económico.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Por razões várias, que aqui não cabe enumerar (e muito menos esmiuçar) o Turismo em Viana do Castelo tem sido vítima de uma abordagem muito inconseguida e quase sempre viveu de episódios ocasionais de reduzida ambição, quase nula dimensão ou relevância para figurar na História do Turismo Nacional. Excepção clara e manifesta para as notáveis excepções decorrentes do investimento privado na Hotelaria: Hotéis de Santa Luzia (construção anterior ao santuário), Parque, Rali, Afonso III (já desaparecido), Hotel Viana Sol (actualmente encerrado), Flôr de Sal, Axis, Chocolate e por último o distinto e diferente FeelViana Hotel.

Apesar da reconhecida e indiscutível importância do Turismo, enquanto alavanca estratégica do desenvolvimento, qualificação e promoção de VIANA do CASTELO, constata-se uma quase total incapacidade política em suprimir/eliminar alguns dos muitos pontos fracos, que teimosamente continuam atrofiar a tão desejada quão necessária qualificação e valorização do sector. Mas afinal quais são afinal os ditos “Pontos Fracos” do Turismo de VIANA:

a) Total ausência de uma estratégia integrada, clara e assumida, capaz de conferir uma outra visão e ambição ao destino/produto turístico;

b) Insuficiente (para não dizer medíocre) exploração do potencial dos recursos turísticos marinhos vianenses (e até mesmo costeiros numa perspectiva integrada, juntamente com os municípios vizinhos de Esposende e Caminha);

c) Património (cultural, histórico e religioso) há muito a necessitar de recuperação e conservação;

d) Teimosa mania na negativa praxis do “orgulhosamente sós no nosso campanário”, completamente à margem da região natural que é o Minho;

e) Potencial da internet/digital incipientemente explorado;

f) Comprovada incapacidade de produzir um planeamento territorial harmonioso, com incontáveis benefícios para o plano ambiental e turístico;

g) Imagem de VIANA excessivamente identificada com as Festas d’Agonia Cabeçudos, Santa Luzia, excursões “low cost”;

h) Muita oferta na restauração mas muito igual e de medíocre qualidade, a começar pelo híper amador serviço de mesa;

i) Comércio envelhecido e sem atractividade;

j) Total incapacidade, por manifesta falta de profissionalismo, em atrair eventos de qualidade;

k) Receita média por turista comprovadamente baixa.

Mas tudo isto e muito mais é culpa/responsabilidade do poder político do Município?!

Obviamente que não! Todavia, quando o “motor está gripado”, tudo o mais raramente ou nunca funciona. E quando a esmagadora maioria das forças políticas e entidades representativas da dita sociedade civil concluem que há um manifesto excesso de “municipalização” – uma forma de esmagamento político das indispensáveis dinâmicas privadas – tudo concorre para complicar ainda mais o normal desenvolvimento do sector. Mas, a bem da verdade, importa deixar aqui uma nota insuficiente aos principais actores económicos privados, pois não têm sido capazes de sair da sua aparente “zona de conforto”, criando e desenvolvendo um diálogo transversal numa perspectiva de rede. Um cenário que é por demais evidente em múltiplas situações, que aqui não cabe ilustrar.

Para que não restem dúvidas e não haja lugar para interpretações menos sérias sobre as palavras que aqui deixo, importa recordar que o sector do Turismo para ser de verdade uma “mola económica” no Município de VIANA e algo de relevante ao serviço da valorização do território e de um transversal desenvolvimento do Concelho, obrigatoriamente teria de ser percebido como aquilo que de facto é em várias cidades da Europa: dinâmico Cluster, integrado por um vasto conjunto de actividades económicas organizadas e estrategicamente operacionalizadas, ancoradas num plano estratégico estruturante, tendo como principais objectivos: a valorização do território, geração de valor acrescentado, qualificação de recursos humanos, produção e realização de eventos diferenciados e capazes de mobilizar públicos-alvo com bons rendimentos……tudo devida e solidamente articulado e a concorrer para a excelência de um produto de marca, capaz de atrair, receber, acolher e proporcionar agradáveis experiências, passíveis de contribuir para elevar os índices de felicidade humana nas pessoas que viajam e visitam VIANA do CASTELO e elevar consideravelmente a sua modesta notoriedade.

Qualificar e desenvolver VIANA do CASTELO com o firme propósito de tornar o Turismo uma dinâmica plataforma de serviços no contexto turístico regional, não pode continuar a ser aquilo que tão grosseira e amadoramente tem sido e que mais não consegue ser que um elogio a um modestíssimo e tão carecido Centro Histórico, enformado por uns quantos edifícios e pouco mais. É igualmente muito pouco a pacóvia exaltação da paisagem ou até mesmo de uma suposta gastronomia, maioritariamente dominada por tão medíocres intérpretes: a quantidade raramente é sinónimo de qualidade; e muito menos de uma qualidade audaz, com capacidade para atrair, seduzir, conquistar, apaixonar.

É mais do que chegado o tempo de VIANA do CASTELO ser uma competitiva marca com marca – algo bem diferente de ter um mero logótipo com um coração a imitar o logótipo da cidade de Zagreb (Croácia) – no turismo de cidades em contexto nacional e quiçá ibérico; um produto distinto e diferente, capaz de atrair, seduzir, enfeitiçar, apaixonar uma clientela premium; capaz de criar as condições objectivas e subjectivas destinadas atrair eventos de dimensão e prestígio internacional e não se ficar por meras feiras e feirinhas medievais. Mas para que tal aconteça é inevitável que o poder político municipal definitivamente faça aquilo, que há muito se reclama para ser feito (desde 1989) e que passa pela adopção de outras atitudes e opções políticas e de umas quantas medidas, que estão nos antípodas de quase tudo o que foi realizado até à data e que são:

1. Tornar o Turismo uma indiscutível e estruturante prioridade estratégica, tendo como objectivo central a qualificação, valorização e promoção de VIANA;

2. Dedicar uma maior atenção ao património edificado e ao importante património ambiental (e aí bem poderão começar por Santiago da Barra e toda a sua zona envolvente. Urge libertar o “Castelo” de toda aquela “tralha estatista” que impede em absoluto a dinamização de todo o seu enorme potencial, consubstanciado num projecto económico público-privado, passível de atrair públicos e gerar consideráveis receitas e consequentes benefícios);

3. Investir meios e influências na valorização do rio Lima e suas margens;

4. Apostar na capacidade para fazer de VIANA uma “Cidade de Encontros” de pequena e média dimensão;

5. Pugnar pela construção da Marina Atlântica, um Hotel e infraestruturas de apoio;

6. Criar condições objectivas para o surgimento de um Campo de Golf de nível europeu de 18 buracos;

7. Criar condições para a instalação de um Clube e Campo Hípico;

8. Libertação da montanha de Santa Luzia da tutela atrofiante do Estado e seus sinistros “quintais”;

9. Promover aquisição das antigas instalações da “Seca do Bacalhau” em Darque, com vista à edificação do tão esperado Museu do Mar e da Construção Naval;

10. Promover a criação de um cais inteiramente vocacionado para navios cruzeiro de porte médio;

11. Ganhar uma outra ambição e dimensão cultural;

12. Promover animação urbana, que não passe pelas soluções estafadíssimas;

13. Acabar com o penoso ciclo de Feiras e Feirinhas de benefício zero para o Município;

14. Promover o Caravanismo premium e dizer não ao Campismo.

15. Anular a (infeliz) decisão de contruir um Mercado nos terrenos do futuro exedifício “Prédio Coutinho”; um Mercado que manifestamente VIANA não precisa, a sociedade civil e o Turismo não reclamam (tudo isto a par dos inexistentes estudos de impacto económico-financeiro), optando-se por disponibilizar o espaço para a realização de um investimento privado: um Hotel Boutique de 4 estrelas (70 quartos), rodeado de uma moldura de “lojas âncora”;

16. Romper com instituições, criadas e desenvolvidas no seio de uma “regionalização turística” muito mal gerada e pior parida, que apenas têm como grande e quase únicos beneficiários o eixo Porto-Douro.

Em síntese:

Considerando ser mais que óbvio e conhecidas as consideráveis diferenças entre criação de condições para atracção de investimento industrial, IDE na produção de bens transaccionáveis e Turismo, defendemos que deverá ser um imperativo estratégico municipal colocar, eleger e elevar o sector do Turismo, enquanto indiscutível alavanca qualitativa, ainda que complexa, de múltiplas plataformas de serviços e actividades económicas, o que per si compreende uma vasta listagem de qualificações.

Por outro lado, é hoje inquestionável que para VIANA do CASTELO é a “última chamada”, para um tempo de oportunidade e de inovação, o qual deverá estar plasmado de forma muito evidente e objectiva nas suas políticas públicas, fazendo para tal um substancial corte com o modelo ora em vigor. E nesse exacto sentido impõe-se definir uma completa “separação de águas”, sem que para isso haja necessidade de haver lugar a quaisquer rupturas no diálogo público-privado, que naturalmente urge alargar e aprofundar e muito menos abandonar apostas seguras, como é o caso da atracção de IDE.

Seguir esse caminho em favor do sector do Turismo, significará a construção de um novo ambiente, capaz de eliminar os principais défices e obstáculos, que têm sido a causa primeira das comprovadas múltiplas insuficiências competitivas, que há décadas ditam o adiamento do nosso futuro e consequentemente catapultar VIANA do CASTELO para patamares de qualidade superior.

Antero Filgueiras*

Formador/Consultor Sénior/Gestor em Marketing Turístico

Coordenador-Geral da ATURMINHO-Associação de Turismo do Minho

Secretário-Geral da AHET MINHO-Associação de Hotelaria e Empreendimentos

Turísticos do Minho

Presidente do Conselho Fiscal do Fórum Vianense

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

Ver notícia relacionada em:

http://www.minhodigital.com/news/forum-vianense-promove

Mais
editoriais

Também pode gostar

Junte-se a nós todas as semanas